Uma montanha a nossa espera...
Depois de ter o privilégio de conhecer o Morro do Palmares e também o Morro Careca ( Pedra Azul), uma montanha pouco frequentada no coração da Serra das Araras chamou a minha atenção. Mas eu não era o único a ser atraído por ela. Alexandre estava com os mesmos pensamentos que eu tinha: Ir até lá!!!
Começamos a buscar de forma frenética por informações e estudar rotas para chegar no seu imponente cume.
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Cume Sudoeste da Serra das Antas- Serra das Araras. |
Já bem informados e sabendo o que tínhamos que fazer, marcamos a trilha e o Alexandre convidou o Marcos Monteiro e o Leonardo Garcia.
Então a aventura vai começar!
Era 08 de Julho de 2017, sábado. E lá estava eu, mais uma vez no terminal de corrêas esperando o Alexandre chegar. Geralmente eu sempre chegava primeiro por conta dos horários limitados de ônibus no meu bairro. Enquanto meu amigo não chegava, me aproximei de um casal devidamente equipado para fazer trilhas. Me disseram que iam acampar no Morro do Açu. O papo foi bom, mas breve. O ônibus em que iriam embarcar chegou e nos despedimos. Andei de um lado para o outro da plataforma a espera do Alexandre. Passou-se um tempo e então ele finalmente chegou. Nos cumprimentamos e embarcamos no ônibus que iria para Araras. Lá encontraríamos o Marcos e o Leonardo. Descemos na localidade do Malta, onde fica a base do Morro do Palmares. Seguimos pela rua do acesso e encontramos os nossos amigos nos esperando e, com eles, três cachorros bem mansos e brincalhões. Nos cumprimentamos e batemos um papo antes de prosseguir. Já organizados e bem dispostos, iniciamos uma curta caminhada até o portão que daria acesso a trilha. Como era bem cedinho, ele estava trancado. Não teve outro jeito, tivemos que pular o pequeno portão.
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Leonardo, Marcos e Alexandre. |
Aquecendo o corpo.
Depois de pular o portão, pegamos uma trilha a nossa esquerda, ladeando a cerca de uma casa. Um pouco a frente, a trilha tomou rumo para a direita, afastando-se de vez da cerca. Mais a frente, cruzamos um pequeno riacho para pegar a trilha do outro lado. Continuamos a caminhar até passar ao lado de uma pequena barragem, subindo pela sua rampa lateral.
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Barragem proibida. |
Após esse curto trecho inicial, entramos na mata com a trilha bem definida. Andamos pela bela mata observando os detalhes e papeando um pouco. Ao longo desse percurso, surgiram diversas fontes d'água. Certo tempo depois, chegamos num colo com um reservatório de água e nos deparamos com a trilha seguindo direções opostas. Contudo, sabíamos qual era o caminho correto. Antes mesmo de prosseguir, descansamos um pouco. Reabastecidos, pegamos a trilha para iniciar a subida da crista do Palmares. Enquanto subia, observei o dia lindo e refrescante que fazia em Araras. Pelo caminho falamos um pouco de escalada e sobre alguns roteiros que a gente tinha vontade de realizar. Então começou a surgir os trechos de laje da crista da montanha. Com a vegetação mais baixa e melhor visibilidade, decidi fazer alguns registros. Num desses, captei a bela Pedra Comprida de Araras (CEP70).
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Pedra Comprida de Araras a esquerda da imagem. |
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Outro ângulo do CEP70 |
Rumo ao desconhecido.
Após vencer algumas lajes, paramos para avaliar o local e então começamos a descer em direção ao vale formado pelas encostas do Palmares e da Anta Sudoeste.
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Serra das Antas (Cume Sudoeste) |
Descemos as lajes da vertente norte do Palmares em direção ao vale. Alexandre nos informou que a nossa primeira referência eram três pedras grandes. Como fui a frente dos meus amigos de caminhada, rapidamente avistei o que procurávamos e avisei o Alexandre. Seguimos o caminho que alternava trechos de laje alternando vegetação seca e fofa. Começamos a ver alguns totens durante o trajeto. A maioria estava caído. Pareciam ter caído ou sido derrubados propositalmente. Continuamos em frente...
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Marcos e Alexandre na trilha. |
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Marcos e Leonardo observando o lugar. |
Com o calor aumentando aos poucos, paramos na metade da descida a caminho do vale para analisar tudo. O lugar era muito bonito e o tempo colaborava muito. Os cachorros também pareciam se divertir. Companheiros fiéis que iriam até o cume conosco!
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Um dos cães que nos acompanharam na trilha. |
Voltamos com tudo para a trilha recolocando os totens que estavam desmontados. Além dos que arrumamos, fizemos mais alguns durante a descida até o vale, nos pés da montanha. Depois de descer a ultima laje em nosso caminho, entramos no que parecia ser um leito de riacho. Ele estava seco devido a falta de chuvas na estação seca. Descemos pelo leito ladeando uma grande pedra até chegar ao fundo do vale. Ao fim da descida, seguimos por outro leito de riacho seco. Andamos um pouco e surgiu o que parecia ser uma calha de trilha a nossa direita. A calha estava pouco definida e encontrava-se entre duas pedras que pareciam formar um portal. Alexandre e eu demos uma observada e seguimos em frente até seguir um pouco para a esquerda. A nossa frente surgiu um pedrão com um formato de uma mesa. Ladeamos essa pedra até contornar ela por completo. Novamente o caminho virava para a direita nesse trecho. A nossa frente surgiu uma calha bem escondida pela mata, tomada no seu trecho inicial por bambus que estavam entrelaçados no caminho. Chegamos então ao inicio da longa subida da montanha. Olhei para Alexandre e ele confirmou. Era hora de tirar o facão da mochila.
Ralação!
Com a entrada da trilha bem a nossa frente, comecei a bater facão para retirar os bambus que estavam em nosso caminho. Mesmo sendo bem eficiente neste início, Alexandre reparou que eu tinha machucado a mão direita. Por estar com o sangue quente, não percebi. Continuei dando braçada e avançando na trilha. Alexandre vinha logo atrás, rebatendo o que deixei passar e esperando para revesar comigo.
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Alexandre com o facão em punho. Trilha bem fechada! |
Seguia subindo a trilha, agora,atrás de Alexandre. Marcos e Leonardo também ajudavam a abrir a trilha, revezando com a gente. A trilha era bem inclinada e continuava bem fechada. Ao olhar para trás, vi a vertente norte do Palmares com os seus encantadores blocos.
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Morro do Palmares visto da trilha. |
Após bater facão por um trecho considerável, Alexandre passou a vez para Marcos e Leonardo. Eles tomaram a frente. Eu e Alexandre íamos na cola deles, aproveitando para descansar.
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Alexandre, Leonardo e Marcos. |
A trilha continuava num ''toca-pra-cima'' bem exigente, sem fazer muitas curvas. O solo estava bem encharcado e era muito escorregadio. Continuamos a longa subida até avistar uma laje de pedra bem inclinada a nossa frente. Avaliei a rocha enquanto os meus amigos faziam fotos do local e descansavam. Ao parar de vez na laje para também descansar e apreciar o visual, vi uma das paisagens mais lindas durante a caminhada. Parecia um quadro, de tão magnífico. Entre o colo da Serra das Antas(Cume Maior:1919) e o Palmares surgia o imenso maciço da Serra dos Órgãos. Não perdi tempo e chamei o Alexandre para tirar fotos com a sua câmera. O resultado ficaria muito melhor do que no meu modesto celular.
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Alexandre batizou com o nome de ''Janela de Antares''.
Fotografia : Alexandre Milhorance |
Em seguida, Leonardo e Marcos também aproveitaram para fazer algumas fotos. Ficaram tão encantados assim como Alexandre e eu. Ainda na subida, batizamos o local como ''Janela das Antas''. Mas esse nome seria revisto por Alexandre na descida com uma ideia genial e fantástica de Alexandre. Os cachorros não paravam de nos acompanhar em momento algum. O momento mais engraçado do dia foi num trecho técnico que a gente passou para seguir na trilha. O lance era simples e curto. Consistia em se agarrar no mato e nas raízes que tinham para prosseguir, um típico ''trepa-mato''. O cachorro grandalhão, branco com pintas pretas, saiu em disparada com bastante vontade de vencer o trecho. Ele tentava, voltava a tentar, não conseguia. E também não desistia. Mesmo com um pouco de receio do dócil cão, dei uma forcinha. Quando ele pulou com as patas dianteiras, eu agarrei as traseiras e impulsionei. E lá foi ele, a todo vapor na trilha. A gente ria e escutava o barulho dele se esfregando no mato para retirar um pouco da lama que agarrou na sua pelagem. Continuamos a subir e comentamos que faltava um pouco para chegar ao cume, tendo em vista que a nossa altitude já era superior a do Morro do Palmares. Depois de mais revezamentos e uma subida que parecia não ter fim, avistamos a reta final para o cume. Talvez um pouco mais que 100 metros.
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Marcos e Leonardo na reta final. |
Bem na hora de correr para o abraço, ouvi somente o Alexandre nos alertando sobre a vegetação espinhosa e bem afiada que tinha pela frente. Com cautela e um pouco perfurados, chegamos ao cume. Foi bem aliviante e satisfatório ter o gostinho de alcançar o topo depois do trabalho que tivemos para abrir a trilha.
É cume!!!
A chegada ao topo do Cume da Serra das Antas Sudoeste foi triunfal. Comemoramos muito e com razão. Nos cumprimentamos e nos reunimos em volta do totem que protegia o livro de cume. Fizemos um rápido lanche e sai para observar todo o visual. Era fantástico tudo o que vi lá em cima. De um lado aparecia o relevo totalmente acidentado de Petrópolis. Do outro lado, por sua vez, um relvo suave e repleto de pequenos morrinhos das cidades vizinhas com os seus mais belos tons de verde, para todos os gostos.
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Foto: Alexandre Milhorance |
Apesar do belo visual do cume, a beleza daquela montanha também encontrava-se nas belas plantas e flores. Abaixo, algumas fotos feitas no cume.
Ao acabar de registrar a beleza da flora no cume da montanha, acabei percebendo que o Alexandre havia partido para o lado Sul-Sudoeste da montanha. Fiquei curioso e fui atrás dele para ver o que tinha chamado a sua atenção. Passei pelo Leonardo, Marcos e os cachorros. Eles estavam perto do livro de cume conversando e admirando a paisagem. Continuei até chegar perto do Alexandre. Ele estava um pouco abaixo. Ao fundo observei a região do Vale das Videiras, a Pedra da Cuca e o CEP70. Sem tempo a perder, peguei o celular para registrar esse momento antes que o tempo mudasse.
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Alexandre subindo o lajão de pedra do cume. |
Quando me aproximei de Alexandre nesse momento, comentamos sobre a bela visão para a região da Serra das Araras e também da Serra do Couto. Avistamos muitas montanhas nos seus mais diversificados ângulos. Aproveitamos para ir até a face que fica mais a Leste da montanha para observar as montanhas da Serra dos Órgãos. E o visual era impressionante demais. Conseguimos ver inúmeras montanhas de lá: Papudo, Pedra do Sino, Pipoca,Mamute, Cubaio, Castelitos, Morro da Luva, Morro do Marco, Morro do Açu e Morro da Bandeira. Abaixo vimos também; Morro do Alicate, Pico do Glória, Pedra do Cone, Cone1,Cone2,Cone3, Morro do Pavão, Alcobaça, Mãe D'água, Morro do Teto e Cabeça de Cachorro. Já no centro do território petropolitano, deu pra olhar as montanhas do Conjunto do Retiro: Pedra do Retiro, Serra Negra e Seio de Vênus. E não parava por ai pois, na Serra do Couto vimos o Pico do Couto(CINDACTA) e o Morro do Bonet. Pegamos também grande partes das montanhas da Serra da Estrela: Cobiçado, Vândalos, Pedra do Diabo, Tridente, Alto da Ventania, Pedra do Inferno, Torres do Morín, Meu Castelo, Cortiço, Morro dos Macacos e muitas outras. Alguns registros feitos nessa parte do cume:
Satisfeitos com essa parte da montanha, fui com o Alexandre para observar outro ponto da montanha. Foi simplesmente maravilhoso ver o Monte de Milho lá de cima. A vista era encantadora!
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Lindo visual! |
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Fotografia : Alexandre Milhorance |
Novamente satisfeitos, nos reunimos com Marcos e Leonardo novamente no cume. Lanchamos e os cachorros pegaram carona. Antes de partir, assinamos o livro de cume e fizemos um registro nosso lá.
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A turma reunida no cume para registrar o momento. |
Iniciamos então o caminho de volta com os cachorros no nosso encalço. Notei que o tempo havia mudado bruscamente por todos os lados.
Apesar do cansaço acumulado de subidas e esforço com o facão, a volta foi tranquila e com alguns escorregões. Ao final da descida da Serra das Antas, subimos as lajes das encostas do Palmares e depois descemos a sua trilha até chegar novamente no Malta. Eu e Alexandre nos despedimos de Marcos e Leonardo e ficamos esperando o ônibus de Araras para o terminal. E assim terminava o nosso dia : Com alguns cortes, cansaço, botas, calças ,camisas sujas e um enorme sorriso no rosto. Foi um ótimo dia nas montanhas. Conheci novas pessoas e vi novos horizontes!
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