sábado, 2 de março de 2019

Pico do Alcobaça ou Pedra do Sete

O Alcobaça é uma linda montanha de Petrópolis situada no Bonfim. Ela se destaca facilmente por sua imponência e seu formato cônico. Com os seus 1.811 metros de altitude e com desnível de 500 m bem íngremes, é também símbolo do CEP- Centro Excursionista Petropolitano.  A trilha começa num vale belíssimo  e termina com trechos íngremes e escorregadios. Seu acesso é pelo Vale do Bonfim. A montanha é a mais alta do conjunto que leva o seu nome, o '' Conjunto do Alcobaça'', que faz parte do PARNASO( Parque Nacional da Serra dos Órgãos). Do seu cume é possível avistar praticamente toda a cidade de Petrópolis e algumas partes do Rio de Janeiro. Além de ser um cume relativamente espaçoso, tem campo de visão com 360͒. Sem duvida a melhor vertente para curtir o lugar e fazer um lanche é voltada para Leste, onde esta o maciço da Serra dos Órgãos com as montanhas acima dos 2.000 metros de altitude.
Cume cônico e imponente do Alcobaça.
 Improviso!

Era terça-feira, 05 de Setembro de 2017. Conversava com o Lucas Lourenço Rocha sobre uma trilha que tínhamos marcado para fazer. Combinamos tudo e disse a ele que levaria meu amigo Davi também. A trilha que faríamos seria  o Morro da Mensagem até a  Pedra de Itaipava, na Serra das Araras. A ideia da travessia era muito boa e a distância entre esses dois cumes totalizava 4 km. O trajeto não era dos mais atraentes: Crista penosa, exposta, repleta de capim-navalha e espinhos na altura da canela.  Avisei ao Davi sobre a trilha e ele topou. Contei a ele sobre o visual do lugar, do tão temido trecho exposto do Morro da Mensagem e também da placa que existe nesse trecho em homenagem ao montanhista que faleceu ali( Oliver Ochs) em 01 Outubro de 2002. Soube pelo livro do Waldyr Neto e pelo ''Zecão'' que o Oliver era figura fácil do CEP e conhecido por muitas pessoas. A sua queda infelizmente foi fatal, com o seu corpo parando  cerca de uns 200 metros abaixo. 
Placa no trecho exposto do Morro da Mensagem.
 Apesar da trilha ser bem leve, o trecho em si é sombrio e muito perigoso. É recomendável o uso de cordas para se fazer a proteção. Mas vale lembrar que não basta somente ter uma corda, tem que saber usar e fazer todos os procedimentos com segurança. Caso não tenha experiência com as cordas e tudo mais, vá com montanhistas experientes! Expliquei muitas coisas ao meu amigo que parecia bem animado. No mesmo dia compramos uns pacotes de pão de forma, maionese e latas de sardinha. Preparamos patê com pão e guardamos num pote dentro da geladeira de casa para conservar. Também compramos bolo e consideramos as garrafas de água. Já no dia da trilha, levantei um pouco sonolento. Tomei café e segui para encontrar meu amigo na rua.  Assim que o ônibus chegou, embarcamos e procuramos os nossos lugares. Coloquei meu fone de ouvido e fui curtindo minhas  músicas favoritas. Não pude deixar de notar o comportamento estranho de uma jovem sentada do outro lado, próximo a janela. Comentei com o Davi sobre o que observava e voltei a minha atenção para a janela e a paisagem. O ônibus seguia descendo o Vale do Carangola e o meu olhar foi diretamente para a Maria Comprida. Automaticamente surgiu no meu rosto aquele sorrisinho tímido. Eu havia feito a trilha no final de semana anterior e custava a acreditar. Aproveitei o amplo campo de visão para apreciar o conjunto do Taquaril e suas belas montanhas. Daí em diante segui curtindo algumas músicas do ''The Verve''. É nada poderia ser melhor do que escutar a música ''BitterSweet Symphony'' olhando as montanhas naquela manhã.  Então o ônibus finalmente chegou ao terminal e desembarcamos.  Em seguida, acompanhei Davi até a lanchonete. Ele estava com vontade de comer biscoito salgado. Comprou dois pacotes de torcida sabor de pimenta mexicana, mesmo comigo dizendo que poderíamos dividir um tranquilamente. Acabamos por comer os biscoitos enquanto aguardávamos notícias do Lucas. Já um pouco ansioso, olhava a hora de tempos em tempos e não pude deixar de dar boas risadas com as queixas do meu amigo a respeito do preço do biscoito. As 06h32 chegou a mensagem do Lucas. Na mensagem ele dizia que ainda estava passando mal. E reforçou também que os amigos dele iriam a trilha. Por não conhecer os amigos de Lucas, fiquei meio sem jeito de ir com eles. Voltei a atenção para o Davi e disse a ele o que ele certamente gostaria de ouvir. Disse a ele da seguinte maneira: '' Davi, Lucas não vem. Mudança de plano. Vamos para o Alcobaça''. Não fiquei surpreso com a animação dele. Aliás, tinha perdido as contas de quantas vezes ele falara da vontade de ir ate lá. Ele gostava muito da montanha e eu prometi que o levaria até ela.  Bom, a hora chegou!

Rumo ao Alcobaça.

Após informar a ele o nosso novo destino, olhei para a plataforma 2 e lá estava o Bonfim. Entramos e esperamos a partida. Não demorou e então os motores começaram a dar o ar da graça. Fomos conversando muito durante o percurso . Enquanto subíamos o lindo Vale do Bonfim, olhava para o meu amigo de vez em quando. Sem surpresas, a cara era de felicidade e eu conhecia aquele sentimento, de estar a caminho de um lugar que gostaria tanto de conhecer. Davi na quarta-feira nada mais era do que o Mateus de domingo. Logo desembarcamos do ônibus e seguimos subindo para o Pinheiral a pé. Subimos a rua aproveitando a bela visão da Pedra do Cone.
Pedra do Cone.
 Andamos até trocar o asfalto por terra e chegamos a estradinha de acesso para a portaria do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Após andar um pouco surge á direita a Capela do Bonfim.
Capela do Bonfim.
 Passamos ao lado do famoso ''Tourinho'' e seguimos até a entrada do sítio Ughetto - onde tenho ótimas recordações. Passava o verão lá com os meus primos. Saudades daquele tempo....

Ao chegar lá, Davi olhou a placa indicativa e continuamos no nosso caminho. Era bem cedo daquela manhã e já tinha gente trabalhando a todo vapor nas plantações. Cumprimentamos todos que atravessavam o nosso caminho com muita educação e carisma. Passamos ao lado de uma casa cujo jardim estava repleto de belas flores. O dono tinha bom gosto. Quando voltamos a caminhar, apareceu uma figura que acrescentaria o nosso dia.

Uma boa companhia ou uma ótima companhia?

Ao ouvir o barulho de nossos passos, uma cadela abandonou a sua casa e decidiu nos seguir. Recepcionei ela com muito carinho e então seguimos em direção a montanha. Achei engraçado quando meu amigo me perguntou, de forma duvidosa, se ela- a cadela-, nos seguiria até o topo. Respondi a sua pergunta de forma bem clara : ''Davi, creio eu que alguns montanhistas renascem em formas caninas''. Citei até o trio de cachorros de Araras.  O dia estava bem agradável e com calor considerável. Paramos para descansar em frente ao casebre de alvenaria abandonado que marca o início da trilha do Mãe D'água, montanha vizinha do Alcobaça, nosso destino.
Casebre que marca o início da trilha do Mãe D'água.
 Tirei o meu casaco e o guardei na mochila. Aproveitei a parada pra tomar água. Estava bem confortável com o short. Geralmente prefiro usar calça, mas com o calorão que fazia na serra, era praticamente impossível. Hidratados e alimentados, levantamos do chão e decidimos prosseguir. A cadelinha não perdeu tempo e começou a nos olhar. Fiz um registro dela e voltamos a caminhada, passando ao lado de alguns fios d'água e plantações.
Companheira fiel.
 Sobe,sobe,sobe!

Após caminhar por um tempinho, chegamos ao ponto onde inicia-se a subida propriamente dita da montanha.  Dei uma olhada na placa indicativa da travessia Uricanal e fiquei surpreso ao ver que não tinham vandalizado. Antes de lanchar e iniciar a subida, investiguei a trilha do Morro da Bandeira. A calha estava bem visível e então voltei até onde o Davi estava. Sentei o lado dele e peguei suco e pão na mochila. Recuperados e bem energizados, iniciamos a subida indo com calma.  O desnível até o cume seria de 500 metros verticais numa subida íngreme e exigente. Aproveitamos o trecho inicial da caminhada ao som do vento na copa das árvores e da melodia dos pássaros. As flores e a mata nos refrescavam com a sombra e embelezava o caminho com algumas bromélias. 
Trecho de mata com bromélias.
 Caminhamos pela mata superando alguns trechos erodidos, subidas fortes e degraus até abandonar a mata, chegando num campo mais aberto e já exposto ao sol. Subimos até um local mais amplo e com bom lugar para descansar. Enquanto recuperava o fôlego, recomendei a Davi para que olhasse o visual.  Ele o fez e então reparou as montanhas da Serra da Estrela, onde esteve comigo por duas vezes, realizando a travessia Cobiçado-Ventania.  Mostrei a ele o maciço da Serra dos Órgãos bem pertinho de nós.
Montanhas da Serra da Estrela.
 Rala-bunda.

Depois de ter feito os registros, voltamos a colocar os pés para funcionar e chegamos ao trepa-pedras que antecede a subida final do Alcobaça. Vencemos o trecho e mostrei a ele a bifurcação que leva ao Morro do Teto, outra montanha vizinha com acesso por um crista linda e longa. Com o Davi e a cadelinha na minha cola, iniciei a subida escorregadia do cone do Alcobaça. Subíamos com cuidado evitando escorregar. Vencemos o trecho e alcançamos o topo. Davi me agradeceu e nos cumprimentamos com um abraço. Custou pra ele acreditar que estava lá e eu entendia perfeitamente bem aquele sentimento. Foi fantástico ver a emoção dele e eu sabia o quanto aquela montanha significava para ele. Aproveitei e fiz alguns registros dele. Por conta do calor e da baixa resolução da câmera do celular, não consegui bons resultados. Mas o mais importante era guardar recordações do dia.
Davi aproveitando o  visual do cume.
 A cereja do bolo.

Mostrei ao meu amigo todas as vertentes possíveis da montanha. O visual do lugar estava encantador com o predominante azul do céu e sem nuvens, possibilitando olhar os horizontes que se descortinavam diante dos olhos. Antes de escolher um local para descansar, lanchar e conversar, peguei sacola plástica na mochila e uma luva para recolher um pouco de lixo que deixaram lá. Enquanto eu limpava, Davi me registrou no ato!
Limpando a sujeira!
 Retirei todo o lixo que vi por lá e coloquei na sacola. O mínimo do mínimo  é recolher todo o nosso lixo. Tudo que levamos para a natureza, temos que trazer de volta. Leve sempre sua sacolinha para armazenar o seu lixo e retirar também o que foi deixado pelos outros. Lixo acaba atraindo mais lixo. Quanto mais limpo o ambiente ficar, menos pessoas terão vontade de deixar lixo no lugar. Com o dever de casa feito, sentei ao lado de Davi num pedrão que mais parecia um banco. Lugar ideal para curtir a montanha. Mostrava ao Davi as montanhas e os seus nomes. Olhava com lágrimas nos olhos para a Maria Comprida e o Castelitos, duas impressionantes montanhas da cidade. Contava a meu amigo sobre o mar de capim-de-anta que atravessei e sobre como foi emocionante chegar ao Castelitos. Considerava aquela montanha uma lenda, uma montanha preciosa e que o destino correspondia a altura da árdua caminhada.  Demos uma pausa na conversa e retiramos da mochila o suco, os pães e o bolo. Oferecemos tudo o que tínhamos ali para a cadelinha e ela não quis. A danadinha somente cheirou, investigando o que era. O bichinho só queria dar uma volta com a gente mesmo. Com boas conversas e risadas, levantamos e fizemos alguns registros do cume antes de descer.

Hora de partir.

Já satisfeitos com a caminhada, pegamos as nossas tralhas e voltamos a trilha.  Descemos com calma e cuidado. Mas foi difícil manter a total atenção na volta. A cadelinha desceu praticamente rolando e se esfregando na mata o tempo todo. Eu não conseguia parar de rir e até gravei ela no ato. Não demorou muito e chegamos ao final da descida. Chegamos ao ponto de ônibus bem animados. Davi estava alegre e extasiado e eu fiquei feliz com isso. 
Esperando o busão!
 Embarcamos no ônibus e chegamos ao terminal rodoviário.  De lá, seguimos pra casa no 615(Vale do Carangola) . Despedi-me de Davi na rua e mais uma vez ele me agradeceu. Cumprimentei ele e fui pra casa com outra bela caminhada na companhia de um amigo e uma cachorra pra lá de companheira que enriqueceu o nosso dia. Fazer o que ama e ainda conseguir ajudar os outros não tem preço!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Pico do Glória/ Parque Nacional da Serra dos Órgãos

Trilha do Pico do Glória
Pico do Glória no centro da imagem
Fotografia: Alexandre Milhorance
Um antigo desejo...

Já era bem tarde daquela sexta-feira. Havia chegado em casa bem animado com a possibilidade de fazer uma trilha logo no sábado. Ainda pela semana corrida, combinava com um amigo - o Jonhnatan -, para ir comigo. Comentei sobre três roteiros que queria conhecer: Pedra da Cuca, Pedra da Índia e Pedra de Itaipava. Acabamos por perder totalmente o contato devido a queda de rede dele. Sem obter respostas no What's App, acabei decidindo ir ao Parque para visitar alguns poços e cachoeiras. Antes de dormir, pedi para minha mãe me acordar cedo no sábado. Quando despertei e olhei a hora no celular, dei um pulo da cama. Já marcava 06h30 e eu não deixei a mochila arrumada. Já sabendo que perderia o ônibus que estava a caminho, decidi pegar o próximo. Peguei a mochila e coloquei minha parka e calça impermeáveis no fundo. Para ficar mais a vontade, decidi colocar o short e uma camisa de tecido leve. Mesmo com a previsão marcando uma janela de tempo ensolarado com duração de mais ou menos cinco horas(5h), tinha a total noção de que uma chuva poderia cair sem aviso prévio, afinal, o verão tem dessas ''surpresas''. Com a mochila pronta, segui para o mercadinho onde trabalhava meu amigo Davi. O cumprimentei e comecei a comprar algumas barrinhas de cereais deliciosas dos sabores de chocolate e morango. Tendo biscoito salgado na mochila, comprei também um doce com recheio. Certamente ficaria mais feliz em ter preparado alguns sanduíches, frutas secas e suco natural. Acabei levando também um pacotinho desses sucos em pó da Tang. Apesar de não serem nada saudáveis , são gostosos. Fiquei conversando com o Davi até pegar o meu ônibus que chegaria por volta das 07h44. Ao sentar na janela e selecionar uma música para curtir o trajeto, vi as montanhas da Serra dos Órgãos  sendo engolidas por muitas nuvens carregadas. Não gostei muito do que vi, mas estava confiante na previsão do tempo. No terminal rodoviário esperei pacientemente até a chegada do Bonfim/Pinheiral. Apesar do atraso de 10 minutos, ele chegou e imediatamente partiu. Sentado no banco outra vez, reparei que algumas pessoas iriam para o mesmo lugar que eu. Saltei próximo ao ponto final e tomei a estradinha de terra que leva até a portaria do parque. Paguei o ingresso e segui subindo a trilha, com o apoio de um bastão de caminhada. Uma dor no calcanhar esquerdo insistia em me incomodar há duas semanas. Pensei em ir direto para o Véu da Noiva, mas optei pelo Poço Paraíso antes. Rapidamente cheguei ao Poço passando por uma linda trilha com bambus espaçados e com o escorrer das águas pelas calhas ao lado da trilha. Poucos se banhavam ali. Subi em uma pedra e fiz um registro. Estava também atento ao tempo, pois com o céu carregado e o risco de chuva iminente, não podia relaxar um minuto sequer. O risco de uma cabeça d'água era bem possível. Apesar do local ser bonito e agradável, um visitante me irritou. Ele chegou a arremessar algumas pedras do fundo do poço em outra maiores, fazendo com que partissem ao meio. Apesar da falta de noção, não levou em consideração os outros visitantes que estavam lá.
Poço Paraíso
 Após o registro, segui para o ''Circuito das Bromélias''. Quando iniciei a trilha e virei para a direita, ouvi duas vozes. Uma masculina e outra feminina. Curioso que sou, olhei e acabei por ver uma figura conhecida. Era o Roberto Bessa e uma amiga sua. Cumprimentei os dois e iniciei um papo longo e agravável com ele. Afinal, não tinha pressa nenhuma neste momento. O tempo continuava feio e decidi fazer hora lá. Depois de muito papo, nos despedimos e segui para a cachoeira do Véu da Noiva. Enquanto subia reparei que mesmo tímido, os raios de sol começavam a aparecer através das nuvens que pareciam diminuir. Mesmo sem imaginar  que iria subir uma montanha nesse dia, fiz um registro do Pico do Glória com o céu bem carregado.
Cume pontiagudo do Pico do Glória
Fiquei animado e mantive o ritmo na subida, evitando parar muito. Com a dissipação das nuvens, as montanhas já apareciam com a sua imponência, revelando o imenso paredão rochoso com a predominância do verde da nossa Mata Atlântica ao redor. Numa parada para degustar de uma barrinha, fiz um registro  daquela bela manhã.
Vale do Bonfim e a Pedra do Cone
Continuei subindo e passei por algumas pessoas, incluindo duas moças que chegaram a me perguntar se eu era guia. Respondi que não e continuei subindo bem embalado, só parando na bifurcação do Véu depois de passar por mais alguns caminhantes e banhistas. Ali, retirei a camisa um pouco para aliviar o calor e o suor do meu corpo. Tomei uns bons goles de água e vesti a camisa novamente. Pouco tempo se passou e três rapazes que vi momentos antes chegaram. Nos falamos e eles prosseguiram rumo ao Morro do Alicate. Continuei ali curtindo o ambiente até reencontrar as moças. Elas pararam para tomar um fôlego.  Percebi que eram montanhistas experientes. Uma delas relatava um pouco sobre as  caminhadas para os lados do Cubaio e Mamute. Até da forma antiga que se fazia a famosa travessia Petrópolis - Teresópolis . Fiquei encantado com aquilo. Já recuperadas, despediram-se e prosseguiram. Fiz o mesmo e então peguei a trilha para a cachoeira. Passei pela Gruta do Presidente e logo cheguei a linda queda. O volume de água estava bom e haviam poucas pessoas por lá. Assim como eu, muitas só observavam. O motivo era bem óbvio : Água bem gelada e sem calor suficiente!
Fiquei feliz também por não ver lixo lá. Cheguei a pensar que era questão de tempo ou até o caminho de volta. Para não perder tempo, segui para a parte de cima, onde existem dois belos poços. Mas antes registrei a cachoeira.
Véu da Noiva
 Em seguida, peguei a tilha para a parte de cima da cachoeira e encontrei algumas poucas pessoas pelo caminho escorregadio. Por estar sem facão, desviei da trilha por conta do bloqueio das árvores e galhos que caíram no caminho. Mas logo estava de volta a trilha. Cheguei aos poços e molhei o rosto. Ao olhar para cima, o azul do céu predominava. Me refresquei e aproveitei para tomar água e comer mais uma barrinha.

De repente!

Enquanto curtia o som das águas e dos pássaros, dei uma boa olhada para o Morro do Alicate e o Morro do Açu. Mas bem pertinho, um pouco para a minha esquerda, estava o pico pontiagudo e imponente do Glória. Daí me lembrei de uma coisa: Não tinha ido lá! Em seguida, a seguinte pergunta: ''Não!? Por quê?''. Apesar da melhora do tempo, eu ainda me preocupava com uma reviravolta repentina. Avaliei tudo e me levantei. Decidido, comecei a subir as lajes e acabei topando com dois homens. Papeamos um pouco e trocamos informações bem legais. Despedi-me deles e fui embora. 

Trecho do riacho,11h00 da manhã.

Subi as lajes com atenção, evitando os trechos molhados e potencialmente escorregadios que poderiam por um ponto final logo no início da trilha. Segui laje acima e parei para encher os meus recipientes com a deliciosa água que escorria das montanhas. A minha frente, surgiu um trecho de laje esbranquiçada e bem larga. De tão grande, lembrava uma rua. Ao lado, algumas poças d'água e blocos de granito. Começava aí um dos trechos mais belos da caminhada, por dentro do vale subindo o riacho  e passando pelos blocos de granito. Percebi que era uma trilha que necessitava de muita atenção e um pouco de técnica. Com o olhar atento, subi pelo riacho com atenção. Por conta das chuvas anteriores, o volume de água era bem relevante e o limo das pedras eram traiçoeiros. Esse trecho deu um bom trabalho e também um ou outro tombo. Após subir por 20 minutos, parei para fazer alguns registros e um vídeo do local. Continuei passando ao lado de uma gruta e hora ou outra, ''escalava'' na marra, uns blocos bem molhados.

Blocos de granito na subida do riacho
Poço convidativo para um banho
 Pouco antes de chegar ao início da subida da trilha propriamente dita da montanha, tomei um grande susto. Ao subir uma pedra, parei para dar uma respirada e avistei a grande laje que aparecia a frente, com a água escorrendo ao lado de uma espécie de gruta suspensa, a esquerda. Foi nesse momento que reparei uma cobra coral abandonando a água e seguindo para a mata. Fiquei arrepiado e com uma vontade imensa de tentar me aproximar para conseguir um registro. Contudo, preferi apenas observar o animal a distância. Voltei toda a atenção para a laje e olhei o céu. Tempo límpido e o tradicional calor do verão. 
Lajão de pedra íngreme que finaliza o trecho do riacho
 Subida exigente!

Com o fôlego recuperado e algumas barrinhas de cereais bem degustadas, coloquei a mochila nas costas e procurei pela calha da trilha, a direita de uma laje de pedra. Devido as chuvas, o mato tomou conta do trecho inicial. Vasculhei com atenção e vi a linha da trilha, subindo na direção da mata. Iniciei a subida e logo abandonei o meu bastão de caminhada. Ele certamente iria me atrapalhar, agarrando na vegetação o tempo todo. Deixei ele bem escondido ao lado esquerdo e segui subindo a trilha bem íngreme e escorregadia. Bem animado e motivado, subi esse primeiro trecho da trilha com algumas passagens um tanto complicadas, me apoiando em pedras  e galhos. Continuei até topar com uma laje de pedra que estava bem molhada. Com cuidado e atenção venci o trecho para pegar a trilha um pouco para a esquerda, entrando na mata.Numa parada para descansar, avistei o lindo cume do Alcobaça e alguns blocos de pedras numa laje ao lado da trilha.

Pico do Alcobaça

Blocos de pedra e bromélias na laje
 Mais a frente, passei por uma calha com dois blocos com muita cautela, evitando algumas pedras soltas. A trilha novamente voltou a ficar bem íngreme e cheguei no lance do ''degrau''. Com quase dois metros e bem encharcado,  deu um pouco de trabalho. Me beneficiei até de uma pequena árvore para vencer o trecho. Também havia uma corda lá. Antes de usar, averiguei com atenção pois, a mesma parecia se encontrar ali por um bom tempo. Não seria nada legal levar uma queda por conta do rompimento da corda. Já decidido, a usei para conseguir vencer o trecho.
Laje molhada e corda para apoio
 Após passar pela laje escorregadia, continuei na íngreme trilha até topar com a interessante visão das rochas a minha direita. Peguei o celular no bolso e registrei o lugar.
Vegetação na rocha
Guardei o celular no bolso mais uma vez e voltei para a trilha. Não demorou muito e então cheguei num trecho com uma laje bem inclinada. Dei uma boa olhada e vi que as lajes estavam bem molhadas. Fiquei parado por um tempo, avaliando por onde iria passar. Naquele momento, pensava em traçar uma rota onde a laje estivesse um pouco mais seca e que as ligações de uma para a outra fossem bem mais curtas. Decidi então ir para a esquerda, subindo bem pelo canto com cuidado e segurando na vegetação. Nunca fiquei tão feliz em ver bromélias. Elas serviram muito bem para que eu pudesse me apoiar e ganhar o terreno. Na última laje antes de volar a entrar na mata, sentei e descansei. Aproveitei o embalo para comer umas barrinhas e tomar mais água. O calor era sufocante e a subida muito exigente. Certamente aquela trilha não era feita pra ser percorrida no verão. Observei a paisagem e fiz alguns registros. Ventava um pouco e eu me remexia o tempo todo. Os insetos estavam aproveitando muito bem do meu sangue. Mesmo com esse incômodo, me concentrava no tempo e na paisagem. Vi umas flores bem interessantes e resolvi registrar também.

 Já recuperado, voltei a caminhar. A trilha seguiu mata adentro ,bem íngreme. Em alguns pontos tive que me abaixar e usar as mãos para liberar partes do caminho que estavam tomadas pela vegetação. Parei pra descansar perto de uma pedra que parecia um abrigo. Andando um pouquinho mais, notei que a inclinação começou a ceder e logo alcancei a crista da montanha. Tive novamente a visão do Vale do Bonfim e das montanhas ao redor. Foi de certa forma muito marcante chegar ali. O esforço e o ritmo acelerado fez valer cada momento.  Olhando pro belo vale, notei novamente o Alcobaça se destacando e peguei o celular para fazer mais registros.
Visual da crista
 Satisfeito com o visual, segui pela crista até chegar num trecho de mata mais aberto e olhei a extensa crista do Cubaio e as nuvens mais leves.
Crista do Cubaio
 Retornei a trilha na crista e passei por uma rampa de pedra tomando todo o cuidado possível. Estava sozinho, em pleno verão, fazendo uma trilha altamente perigosa. Os sentidos estavam redobrados a cada passo. Venci a rampa e passei por um conjunto de blocos bem bonitos. Foi bem fácil de passar aí.

Perigo!

Com os blocos ficando para trás, me sentei e fui lanchar para recuperar as energias. Estava para iniciar o trecho exposto da trilha. Antes mesmo de estar ali, tinha pesquisado e me informado bastante sobre o local. Quando me levantei, fui dar uma olhada mais de perto e vi que não podia bobear ali. De ambos os lados, a queda era enorme. Margem de erro ali não existia. Respirei e esperei o corpo relaxar. Tentava controlar a ansiedade e a adrenalina ao mesmo tempo. Não foi tarefa fácil, pois ao mesmo tempo que queria chegar ao cume, tinha que decidir se arriscaria ou não passar pelo trecho exposto. Por conta de toda a tensão e emoção do momento, acabei esquecendo de fazer uma foto do trecho. Consegui uma foto do Fabio Fliess para poder mostrar o lugar.
Trecho exposto da trilha.
Fotografia: Fabio Fliess
Sabendo o que tinha a fazer, usei da confiança, experiência e uma grande dose de responsabilidade para vencer a passagem que me levaria ao cume. Apesar de ter levado uma corda, não tirei da mochila. Eu não tinha testado ela. Apesar de ser de boa qualidade, não era uma corda própria para a atividade. Com a adrenalina a mil, fui subindo bem devagar, usando as mãos e os pés em sintonia. Passei com sucesso e um sorriso de orelha a orelha. Segui na trilha, que agora se mostrava uma rampinha leve com alguns blocos a esquerda. Alguns passos e então cheguei ao cume do Pico do Glória no dia 19 de Janeiro de 2019, num sábado bem quente de verão. O marco do cume foi o que mais me chamou atenção. Toquei no marco e então caiu a ficha!  Tinha chegado ao cume e comemorava muito, bem emocionado. A energia do lugar era surreal e estar sozinho engrandecia o sentimento de realização. Era eu e a montanha a sós. Coloquei a minha mochila encostada no marco e já corri para fazer algumas fotos. Ficava atento ao tempo sempre. Não queria ser pego de surpresa, não nessa trilha.

 Iniciei os registros do histórico marco de pedra do cume, que se encontra lá desde 19 de Julho de 1997.
Marco histórico no Pico do Glória
 Com as fotos gravadas no celular, comecei a retirar umas pedras do totem para alcançar o livro de cume que ficava no interior. Usei até a minha garrafinha para remover as pedras. Não sabia se encontraria somente o livro de cume lá dentro, protegido dos elementos naturais. Quando consegui olhar a parte de dentro, vi que a caixa onde o livro ficava guardado era presa na rocha. Abri a tampa e puxei o livro. Ele estava bem protegido e um pouco úmido. O retirei com cuidado e carinho para não o danificar.
Livro bem protegido.
 
Livro assinado

Removi o plástico que envolvia o livro e coloquei um peso em cima para que o vento não soprasse o plástico para longe. Utilizei uma das canetas que tinham para relatar a experiência que tive. Ainda estava tremendo um pouco por conta da adrenalina e misturava essa sensação a emoção de ter um livro de cume em mãos. Depois de ter feito o relato, embalei o livro da mesma forma que havia encontrado e o guardei na sua caixa. Recoloquei as pedras para proteger e fiz alguns vídeos do local. Quando terminei os vídeos, fiz uns registros meus lá. Por estar só, o que sobrou foi fazer a famosa 'selfie' para levar de recordação.

Cume do Pico do Glória

Marco de cume
 Depois desses registros, guardei o celular e decidi pegar o biscoito doce e recheado que tinha comprado. Na primeira mordida acabei percebendo que tinha algo de errado. Na verdade, errado demais! O biscoito estava fora da validade por quase dois meses. Removi o que tinha na boca e coloquei na sacola de lixo junto com o resto do pacote. Peguei o biscoito salgado e comi para retirar o gosto ruim do anterior. Muito satisfeito, resolvi que era hora de voltar. A vontade era de ficar mais tempo lá, curtindo a bela paisagem. Porém, o verão é uma caixinha de surpresas da qual eu não pagaria pra ver. Juntei tudo na mochila e desci a trilha. Atenção total no trecho exposto!
A descida foi rápida com poucos escorregões. Peguei meu bastão e sai da trilha, parando na laje para fazer um suco. Ali fiquei por trinta minutos, aproveitando a calmaria, sem ninguém para atrapalhar.
Descansando as pernas
 Com o fôlego recuperado, iniciei a descida de volta para a parte de cima da cachoeira passando pelos blocos de granitos bem escorregadios que encarei na ida. Achei mais fácil descer do que subir. Rapidamente cheguei a parte alta onde ficam os poços. Só tinha um casal lá. O rapaz me cumprimentou e me perguntou de onde eu vinha e para quais lugares o caminho levaria. Expliquei a ele detalhadamente e nos apresentamos. Junto do rapaz, o Fernando, estava também a sua namorada, a Daiana. Fiquei um bom tempo batendo um super papo com eles. Casal bem simpático e gentil.
Fernando e Daiana
 Após comer mais barrinhas, fiz um registro deles e entrei no poço para me banhar. Fernando foi primeiro e me trouxe coragem. Apesar do sol, não estava tão calor e a água era muito gélida. Mesmo assim valeu a pena entrar na água . Fui para perto da laje, deixando a água escorrer pela cabeça, com o corpo submerso. Era bem relaxante e não dava vontade de sair dali. Pedi para que o casal tirasse uma foto minha ali, para levar de recordação. Fernando logo passou o celular para a Daiana alegando que ela levava mais jeito. Assim que ela fez a foto, agradeci e fiquei mais um pouco.
Lavando o corpo e a alma
 Totalmente aliviado e com a alma lavada, fui até a laje de pedra para me secar. Vesti a camisa, arrumei minhas coisas e me despedi do casal. Ainda fiz outros registros do visual enquanto partia:

Pico do Glória
Morro do Açu e Morro do Alicate
 Com as últimas fotos registradas no celular, desci a trilha para a queda d'água da cachoeira e segui até pegar a trilha que descia para a portaria. No caminho encontrei novamente as duas moças que foram pro Morro do Alicate. Elas eram do CEB- Centro Excursionista Brasileiro. Me apresentei e elas me disseram os seus nomes: Márcia e Ivana! O papo foi bom e divertido. Me despedi delas na bifurcação do Poço Paraíso e Circuito das Bromélias. Subi rápido e dei uma passada no ''Circuito das Bromélias''. Peguei a trilha de volta e cheguei a portaria. Lá reencontrei o Roberto Bessa e batemos mais um papo. Sai do parque e peguei a estradinha de terra e segui para o ponto de ônibus. Já no ponto, conversei com outros caminhantes que visitaram os poços e cachoeiras. Então o ônibus chegou e todos entraram. Ao chegar no terminal, vi que meu ônibus estava no ponto e prestes a partir. Entrei bem rápido e peguei um lugar na janela. E assim se encerrava mais uma experiência fantástica nas caminhadas!

sábado, 12 de janeiro de 2019

Maria Comprida/ Serra das Araras

  A rocha petropolitana que toca o céu.

A Maria Comprida é de longe a montanha mais impressionante da cidade de Petrópolis. A ascensão até o seu cume foi realizada na década de 30, pelo escalador Emérico Hungar. A conquista foi um marco histórico do montanhismo brasileiro. Antes da conquista, essa gigante era cercada de lendas, incluindo sacis e mulas-sem-cabeça no seu cume, considerado inatingível. A rota de conquista foi batizada de ''Canaleta'', alcançando o cume pela parede Leste a partir do colo entre  o João Grande (Manoel Grande naquele tempo)  e a Maria Comprida.  A rota atual, por caminhada, inicia-se  pelo monumental paredão Sul e segue pela linda crista a Sudoeste, vencendo 300 metros de desnível vertical até alcançar a ''Passagem dos Camelos''. Após as corcovas do camelo, a trilha segue pela estreita crista, chegando ao ponto de ter o abismo a menos de 1 metro de ambos os lados. Mais a frente, fica a curiosa ''Pedra Suspensa'' e depois para a estreita canaleta que ganhou o nome de ''Passagem Leander'' por conta do montanhista que a descobriu.  Além dessas rotas, a Maria Comprida tem outras rotas tão impressionantes como ela. Uma dessas é a ''Maria Nebulosa'', com 1.040 m de extensão localizada no seu paredão Nordeste. Mas sem dúvida, a via mais hipnotizante e desafiadora é a ''Domínio das Sombras'', com 830 metros de extensão na sombria parede frontal Sul. Os escaladores petropolitanos ''Alex Che'',''Ildinei'' e ''Bidú'' passaram 10 dias pendurados na parede sem ver o sol- pois em boa parte do ano a parede não é iluminada pelo sol. Chegaram ao cume no limite dos nervos e de suprimentos. Após o feito, a via permanece sem repetições. Com vocação para vias de acesso até o cume e com paredes rochosas que ultrapassam os 1.000 metros de altura, foi também palco de dois acidentes com aviões que se chocaram contra ela. Ninguém sobreviveu.
Maria Comprida e seu paredão impressionante.
Eu sabia que um dia iria. Mas não imaginaria que fosse tão cedo...

Em Petrópolis, eu duvido que exista alguém que não tenha ouvido falar da Maria Comprida. E mais ainda de quem não a reconhece visualmente. Ela é praticamente vista de quase todas as partes da cidade. Ergue-se imponente e dominante na Serra das Araras, em Araras. Quando se compara a outras montanhas em seu mais diversos formatos, ela se destaca. A 1.926 metros de altitude acima do nível do mar, um gigante de pedra apresenta-se vaidoso e imponente, deixando claramente a sua impressionante forma contra o céu.

Quando eu era mais novo, ia muitas vezes em Araras, na localidade conhecida como Vista Alegre.  O destino era sempre o mesmo : A casa da ''Tia Tereza''- que não vejo há tempos. Eu e meus irmãos ficávamos brincando com outras crianças no quintal até tarde da noite, antes de entrar para tomar banho e lanchar. Havia uma rede do lado de fora, onde por horas, eu estava a descansar e a brincar.  Numa dessas visitas ouvi pela primeira vez sobre a Maria Comprida. Eu não fazia a menor ideia do que seria. Minha mãe falava com a tia Tereza sobre os aviões que bateram na tal Maria Comprida. Como toda criança, curiosa e atenta, perguntei a elas o que era e onde que bateram. Então me apontaram a direção da montanha e eu fiquei apenas olhando sem entender muita coisa. Lembro apenas de ter me deparado com um enorme contorno que ia de encontro ao céu. O tempo passou e tudo mudou. Acabei descobrindo esse universo rochoso que nos fascina a cada passo, subidas, agarras e descidas.

Numa conversa com um amigo das trilhas, Anderson Medeiros,  ele me contava da sua vontade de ir até lá. Disse também que estava se preparando pois,além de ser uma caminhada pesada e bastante técnica, ele tinha medo de altura. Na conversa, disse a ele que eu também tinha o enorme desejo de ir até ela. Depois de muito tempo, ele me pediu informações sobre guia.  A Maria Comprida está em área particular e para acessar a sua trilha é preciso estar acompanhado de guia credenciado. Antes  era só ligar para o condomínio e agendar o dia da subida.  Porém, alguns caminhantes quebraram as regras e criaram um estreito relacionamento entre os montanhistas e os donos dos arredores onde situa-se a montanha. Por dia é permitido somente 6 pessoas na trilha e pode ser iniciada as 07h00 da manhã e com saída do condomínio no máximo entre as 17h00 e 18h00 da tarde.  Além do Anderson Medeiros, Francisco Rebello também falou comigo sobre a questão do guia.  Da mesma maneira, indiquei o Lucas Lourenço Rocha, que conheci no CEP e tivemos breves encontros na travessia Petrópolis x Teresópolis. Depois de negociarem os horários e todo o resto, foi decidido que iriam no domingo, 03 de setembro de 2017. Nem me passava pela cabeça que eu iria. Mas estava feliz por poder ajudar todos que queriam e iriam...

Um convite surpreendente...

Avisei o Lucas sobre os rapazes que estavam interessados em fazer a trilha. Agradecido, ele me informou que os rapazes já tinham consultado ele e estava tudo marcado. Foi nesse momento que ele me chamou pois havia uma vaga. Fiquei incrédulo! Não acreditei, mas certamente não perdi tempo e disse claramente que sim. Tudo isso ainda na sexta-feira. Ele pediu para que eu aguardasse pois, no sábado, ele explicaria a logística e outras coisas. Fiquei animadíssimo, mas reencontrei um antigo problema. Uma ansiedade de tamanha proporção. Encontrei o Davi Moura e ficamos papeando na rua por longas horas. Fomos até a casa dele e só voltei pra minha casa quando o dia clareou, já no sábado.  A hora estava acelerada até então. Cheguei em casa, peguei o meu celular e fui para o meu adorável banquinho de madeira que fica na varanda. Sentado e encostado na parede, coloquei o vídeo do ''Drone Aventura - Maria Comprida'' no YouTube. Junto de Felipe Lombardi, autor do vídeo,estava o Thiago Haussig.  O vídeo mostrava a beleza do lugar, mostrando ângulos incríveis daquele cenário fabuloso. Numa parte do vídeo, Thiago está subindo a crista Sudoeste, passando ao lado de um pinheiro com o drone filmando  a verticalidade surreal da parede. Até essa parte, segurei as lágrimas.  Mas não por muito tempo. Após isso, Thiago abria os braços na crista, bem perto do paredão e em seguida, na subida da ''Passagem Leander''.  ''Takes'' pra cá,'' Takes'' pra lá e então o drone sobrevoava a montanha, passando primeiro por Thiago e em seguida pelo Felipe. A frente, o imenso horizonte que o drone capturava pegando a Serra dos Órgãos, Serra da Estrela, Serra do Cantagalo, Serra do Taquaril e ao longe,  a região dos Três Picos de Friburgo. Era impossível conter a emoção. Até a trilha sonora era tocante com a sua melodia que combinava e harmonizava com tudo. Me levantei e fui pra cama, na tentativa de dormir. O vídeo não saía da minha cabeça. Deitado em minha cama, virava de um lado para o outro, procurava pela melhor posição, o conforto, mas não adiantava.  Bateu uma ansiedade danada. O sábado foi longo e a hora parecia não querer passar. Era quase uma tortura. No decorrer do dia, fiz algumas coisas em casa e depois fui até a casa da minha avó. Lá mostrei o vídeo aos presentes e retornei para a minha casa novamente por volta de meia-noite. Arrumei a mochila, os lanches, as bebidas e então fiquei na varanda tomando o meu café enquanto observava  a linda noite com o contorno das montanhas acompanhadas das brilhantes estrelas no céu.

Quase, quase!

Depois de tomar banho e colocar a mochila nas costas, fui pra rua esperar o ônibus que sairia as 05h30. Porém, fui dez minutos antes. Não queria perde-lo por nada. 05h30 e eu nada do ônibus sair. Ansioso, batia o pé no chão e andava de um lado para o outro enquanto escutava umas músicas pra relaxar. Dez minutos depois ele veio iluminando a rua e os muros das casas. Embarquei já sorridente, dando bom dia ao motorista e o cobrador. Nem fiz questão de sentar no banco, pois desceria na entrada do Carangola. Marcava 05h50 quando saltei na entrada do Carangola e atravessei a rua para esperar a carona generosa do Anderson Medeiros. Havíamos combinado o encontro ali por volta das 06h00 da manhã. E lá estava eu mais uma vez com o meu chapéu, mochila e o fone de ouvido. Selecionei algumas músicas do H.I.M e do Metallica. Mudava do Rock/Love Metal para o Rock/Metal. As músicas românticas eram pra relaxar e as agitadas pra me deixar no clima. Não demorou e as 06h10 chegava a minha carona. Ao entrar no carro, me ajustei e cumprimentei o Anderson e também o Vanderlei - amigo do Anderson que acabava de conhecer. Seguimos pelo asfalto até a ponte onde inicia-se a estrada de Araras e paramos num largo. A trilha estava marcada para as 07h00 da manhã. Pouco depois, chegou Francisco Rebello e o seu amigo - Luciano Moreira.
Todos se cumprimentaram e começamos a bater um bom papo.  Só faltava o guia (Lucas Lourenço Rocha) chegar. Contudo, para a minha ansiedade me torturar mais uma vez, Anderson disse que Lucas havia mandado uma mensagem. Na mensagem ele dizia que se atrasaria um pouco por ter passado mal durante a noite anterior. Enquanto ele não chegava, continuamos papeando.

A ficha começa a cair.

Lucas chegou e a reação de todos nós não poderia ser diferente : Animação total!!!
Cumprimentou a todos  e pegou carona comigo, Anderson e Vanderlei. Fomos na frente a caminho do condomínio ''Rock Valley''. Atrás de nós havia um outro carro e, atrás deste, o carro de Francisco. Pegamos a entrada da rua que seguia para a portaria do condomínio. Paramos em frente ao portão com a guarita do lado.  Lucas desceu do carro e em seguida, pediu alguns de nossos documentos para entregar a ficha ao porteiro. Do lado de fora do carro, eu olhei para a montanha. Nunca tinha chegado tão perto até então. Ela estava acompanha do João Grande e da Serra das Antas. Algumas nuvens a envolviam. Nesse momento, antes de fazer um registro, senti que o chamado estava forte, uma energia sobrenatural. Foi aí que percebi a ligação entre o homem e a montanha. A ficha caiu. Era pra valer. Estava iniciando uma trilha que sempre quis fazer.
Portaria do ''Rock Valley''.
Voltamos para o carro e seguimos rua acima pelo condomínio até chegar num largo perfeito para estacionar os carros. A trilha começava um pouco mais acima, entrando na mata pelo lado esquerdo.  Todos saíram dos carros e começaram os ajustes para iniciar a caminhada. Enquanto admirava o lugar, lembrava também de uma conversa que tive com a Natania Kronemberger que, de forma simpática e generosa, havia me convidado para uma trilha experimental junto ao CEP - Centro Excursionista Petropolitano.  A trilha seria a Pedra do Capeta/Serra da Estrela. Agradeci pelo convite e expliquei o motivo da ausência por conta da crise de ansiedade.  A Maria Comprida me tirou o sono!

Com um clima muito agradável e uma ótima energia entre os participantes, iniciamos a subida para pegar a trilha. Eu seguia os meus amigos e olhava para a montanha a todo tempo. E as nuvens ainda envolviam o seu cume. Antes de entrar na mata, fiz um registro.
Maria Comprida vista da rua do condomínio.
 As rochas, testemunhas dos tempos imemoriais.

Nas trilhas conheci a simpática Bianca Oliveira quando fomos ao Seio de Vênus no dia 19 de Fevereiro de 2017, três dias antes de completar dois anos desde que comecei nas caminhadas.  Além dela, desfrutei das agradáveis companhias de Victor - marido da Bianca -, Marcia Fukuda, e Hugo Esteves. Caminhamos e conversamos bastante naquele lindo dia de sol. Com Victor, Bianca e Hugo, falava sobre a Maria Comprida e dá imensa vontade de ir lá. Nem me passava pela cabeça que naquele ano eu iria. Depois conversei com Bianca e soube da linda história que a levou a realizar aquela trilha. Com a sua permissão, trago ao público e enriqueço o relato com a linda história dela em relação a Maria Comprida.

Bianca Oliveira
''Desde que eu me entendo por gente, meu avô me contava que tinha ido na Maria Comprida. Ele era bem jovem, tinha uns 20 anos naquela época. Com mais três amigos, eles foram a montanha.  Eles já moravam em Araras  e tinham o costume de andar nos morros a cavalo. Ele e a família trabalhavam em feiras. Vieram da roça para Petrópolis e ele sempre contava isso. Subiram sem técnica, sem equipamentos, sem preparo nenhum. Na época foi um feito incrível pra eles. Já existiam histórias de pessoas que tentavam subir e não conseguiam. Pessoas que se acidentaram e até morreram no local. O acesso era muito difícil e eles foram só com uma corda, isso é o que ele me contava. Ele foi uns dos primeiros a fazer isso, chegar ao topo com esses amigos. Isso deve ter mais de 70 anos, por aí. Se meu avô fosse vivo hoje, completaria 90 anos agora, dia 7 de Setembro.  Ele sempre me falava dessa história com muito entusiasmo por ter conseguido e por ter feito. Ele falava que tinha chegado, que tinha um livro no cume, que ele assinou e guardou o livro numa caixinha que ficava guardada em uma casinha de pedras. Depois eu fui vendo que era real e foi me dando essa vontade de fazer.  E quando eu fui ficando maior, dizia a ele que um dia iria lá pra ver como era porque ele se mostrava muito entusiasmado me contando. Foi uma  que marcou muito a vida e a juventude dele, enfim. Quanto mais velho ele ficava, mais sobre isso ele falava e chegava naquela fase de sempre repetir a mesma história toda vez que eu ia lá. É uma lembrança muito forte que tenho dele. Eu morava com meus avós e fui criada por eles. Quando me tornei adulta e fui entender as coisas, pesquisei e passei a falar com mais propriedade pra ele que um dia eu iria lá. Uma coisa que me surpreendia nele é que ele nunca dizia que era perigo e etc.  Dizia para que eu fosse sim. E foi a coisa mais incrível que fiz na minha vida.  Ele falava do visual daquela época, que foi incrível. Ele também achava que esse livro ainda poderia estar lá. E quanto mais a idade ia passando, mais ele repetia essa história , falando do livro, de ter assinado e dizendo que eu veria a sua assinatura quando eu fosse. Ele achava que era assim.  Faz 7 anos desde que ele faleceu. Depois disso eu fiquei com isso de subir lá.  Era uma coisa que eu queria muito fazer. E aos poucos fui guardando essa ideia pois, é muito gostoso estar na natureza, caminhar. Mas eu não fazia. Era aquele tipo de coisa  que você olha e gosta, mas não faz. E isso está recente em mim.  Então continuei trabalhando essa ideia e falava com o Victor que iria tomar coragem, queria fazer a Maria Comprida.  E a gente começou ao poucos : Véu da Noiva e trilhas mais curtinhas, até chegar na Maria Comprida. Então assim, a ida até a Maria Comprida  era uma vontade antiga, desejo mesmo. Foi uma conquista pessoal muito grande, porque eu queria fazer e fiz. Teve um enorme valor sentimental.  Quando eu comecei a subir, eu não tinha a menor ideia do que seria. Procurei me cercar de cuidados, contratar guia, ir me preparando. Não tinha uma ideia exata do que encontraria. Eu queria chegar pelo meu avô e por mim.  E por esse desejo fantástico, foi incrível!  Quando a gente começou a subir eu vi que aquilo seria difícil e pesado.  Eu deveria ter me programado melhor antes, fazer academia e buscar um condicionamento físico melhor. Fui me preparando psicologicamente também. Quando cheguei , percebi que aquilo seria muito mais difícil do que imaginei. E eu tinha aquele pensamento, o foco de que ia conseguir, vou chegar até o topo mesmo. Quando a gente chegou no pé da pedra, bem no início, foi o ponto mais incrível pra mim. Eu estava muito cansada. E quando se encosta naquela pedra... É incrível, fascinante!  Não tem como explicar. Parece que aquilo te dá uma energia. Dei uma respirada e pensei que ia conseguir. Aí você puxa uma força que só a montanha mesmo te dá.  Consegui chegar no topo, era tudo que eu queria.
Foi muito incrível, o Marcelo - Guia -, foi muito importante. Ele sabia da história, eu tinha contado a ele.  E ele falava que tinha certeza de que eu iria subir. A gente foi mesmo cansado e foi incrível. E ali em pensamento eu dizia: ''Vô, cheguei, cheguei, consegui. Prometi, estou aqui!''. Assinei o livro de cume e foi muito importante pra mim. Ficamos lá por 1h e começamos a descer. Marcelo dava as orientações e levamos mais tempo na descida pegando uma parte da trilha já anoitecendo. Mas o que ele garantiu, cumpriu.  Chegamos na portarias as 20h, levando 2h a mais . Quando chegamos, o Marcelo veio conversar e parabenizar o grupo por ter conseguido.  Estava eu, Victor, minha cunhada e meu irmão.  Depois ele veio e me deu um abraço, dizendo que tinha certeza de que a gente iria fazer, que eu ia conseguir e ele sabia o valor sentimental  que essa montanha tinha pra mim.  Disse também que foi muito importante pra ele fazer parte disso , pois sabia do que tinha ajudado a realizar. Nessa hora eu desabei. Ele foi 10 e foi incrível, incrível, incrível.'' - Bianca Oliveira.

Rumo a crista Sudoeste.

Depois de nos organizar, subimos pela rua até entrar na trilha que ficava um pouco mais acima.  Lucas era o guia da caminhada e ia na frente. Eu o seguia de perto com o Anderson e Vanderlei logo atrás. Francisco e Luciano fechavam a fila. A trilha estava bem no começo e íamos amaciando os nossos calçados e também o corpo. Reparei que haviam algumas placas indicando a trilha. Além da vegetação muito bonita ao redor, surgiam alguns bambus. Após algumas parada e conversas, paramos num lugar mais plano. Fizemos alguns registros  e lanchamos. Através da linha das árvores eu olhava para a montanha. Não conseguia acreditar que estava ali a caminho dela num dia magnífico.
Maria Comprida.
 Aproveitando o descanso, abri o bolso da mochila onde deixei algumas paçocas e mariolas para degustar durante o percurso. Ofereci ao rapazes e ganhei do Luciano uma deliciosa barrinha de cereal sabor morango. Antes mesmo de continuar, a turma se reuniu para registrar o momento. E eu não conseguia tirar os olhos da montanha...

Turma reunida.
 Bem descansados e alimentados, continuamos a subir pela trilha. Subimos com uma ventania bem forte logo cedo. Lucas seguia na frente retirando alguns galhos e pequenas árvores caídas pela trilha. Mais acima, nos deparamos com uma árvore ao lado da trilha que tinha uma marca curiosa: quatro listras espaçadas entre elas. Até pensei na possibilidade de ter sido feita por um felino. Comecei a olhar o chão ao redor na busca por pegadas.  Não vi nada ali. Sem tempo a perder, prosseguimos ganhando elevação na trilha que se mostrava cada vez mais exigente, deixando o gostinho do que estava por vir. Após algumas subidas, paramos num lugar agradável na passagem horizontal. Estávamos perto de um paredão com ótimas pedras para descansar. Quando se está cansado na trilha, pedras como aquelas são bancos.  Ali batemos mais um papo e nos preparamos. Novamente nos organizamos e colocamos os pés na trilha pois, mesmo com o início já exigente, o grupo estava prestes a encarar a longa subida da crista Sudoeste com 300m de desnível vertical.
Com o rápido ganho de elevação e já na crista Sudoeste propriamente dita, as cordas começaram a aparecer.
 Lucas sempre seguia a frente avaliando o estado da trilha e das cordas. E subia um por vez, com cautela total. Os que venciam o trecho aproveitavam para registrar o que vinha depois. Passamos por muitos trechos com cordas durante a subida da crista. Em alguns momentos a trilha beirava a borda, revelando o abismo que se formava aos poucos. Além de cordas, lajes de pedra e muitas flores e arbustos na crista, haviam alguns poucos trepa-pedras. Continuamos a vencer trecho por trecho até sair da crista Sudoeste.
Ralação na subida.

 Depois da boa ralação pra esquentar a musculatura, saímos da mata e conseguimos dar uma boa olhada no visual. Reparei também que o topo da montanha estava tomado pelas nuvens.
Passagem dos camelos e as nuvens no cume da MC.
 Dei uma olhada no João Grande e também na Serra das Antas. Após isso, me reuni com a turma para fazer outro registro antes de prosseguir.
Na subida da crista Sudoeste.
Voltamos com tudo para a subida. Apesar do esforço, todos estavam bem animados e com mais ânimo depois de apreciar o visual que se descortinava a partir da crista. Certo tempo depois, estava sozinho na trilha, admirando o lugar e esperando o pessoal chegar.  Vi Anderson um pouco abaixo, subindo pelas cordas. Aproveitei esse momento para fazer o primeiro vídeo do dia e tirar uma mais uma foto da montanha. Ela parecia ficar perto cada vez mais conforme subíamos.
O impressionante monólito.
 Apesar do cansaço, eu estava muito animado.O tempo estava bem diversificado nesse trecho. Algumas nuvens tomaram grande parte da montanha de repente. Quando parei pra descansar mais uma vez, notei um pinheiro solitário na trilha. Achei bem intrigante.
Pedra suspensa vista da crista Sudoeste.
 Seguimos na subida da crista até atingir um conjunto de pedras e parei ali para fazer um lanche, pouco antes da primeira corcova do camelo. Desse ponto dava para ver uma parte do Monte de Milho. Peguei alguns biscoitos doces e salgados pra comer. Além disso, não deixei nem o bolo de chocolate escapar.
Pausa pro lanche.
 Enquanto eu saboreava o lanche, aproveitava o momento de solidão ali, bem perto de uma montanha que eu tanto admirava e tinha o desejo de realizar. Ainda não acreditava, mas aceitava de bom grado. Passaram-se alguns minutos até a chegada de Vanderlei e Anderson até onde eu estava. Eles tiraram as mochilas das costas e pegaram o lanche para reforçar a carcaça também. Ficamos ali conversando até o Lucas chegar com Francisco e Luciano.  O dia estava muito bonito e com um atmosfera agradável. Durante o lanche e a conversa, não resisti e voltei a olhar para a montanha. Ela estava ali, na minha frente. Tão perto e tão longe ao mesmo tempo. A caminhada era pesada, mais até do que imaginei.  Mas eu estava indo muito bem e confiante de que ia chegar lá.  O seu cume desafiador erguido aos céus era fascinante. Em seguida, peguei o meu lanche e guardei na mochila. Os rapazes fizeram o mesmo e então voltamos para a trilha. Lucas seguia na frente e passava algumas orientações. Prosseguimos então para a ''Passagem dos Camelos'', uma curiosa elevação com duas corcovas, tendo uma curiosa pedra sobre o abismo. Caminhamos até chegar numa área espaçosa que tinha um grampo na pedra. Lucas desceu primeiro e recomendou que, como fizemos na subida, faríamos ali. Descemos um por um, aos poucos. Durante essa curta descida, notei que além de ser bem acidentada e potencialmente perigosa, estava ainda molhada.  A corda de apoio foi de grande ajuda ali. Todo mundo desceu tranquilamente e seguimos para outro trecho fantástico. O caminho agora seguia pela estreita crista, nos deixando a menos de 1 metro do abismo de ambos os lados. Nessa parte até brinquei com o Anderson de maneira saudável,evitando alimentar o medo que ele tem de altura. Fomos caminhando tranquilamente pela crista. Fiz até um vídeo pra guardar de recordação.  Coloquei pra gravar, segurei firme na mãos e foquei na trilha, sem preocupação com o que ou como o celular gravaria. A atenção nesse trecho foi redobrada.
 Dei uma olhada na pedra suspensa e acompanhei o Lucas. Subimos até passar do lado do abismo a esquerda e procurei por alguma parte dos aviões que se chocaram contra a montanha na esperança de ver alguma parte. Nada vi e então continuei no caminho. Lucas parou um pouco e ficamos batendo um papo enquanto os outros vinham.
O papo estava bom.
Enquanto conversava com o Lucas, ouvi uma agitação e fomos ver o que tinha acontecido. Cheguei a pensar que o Anderson estava desistindo. Para a minha surpresa, não era ele e sim o Vanderlei. Ele foi consumido pelo medo. Parecia ter visto a morte diante dos seus olhos. Anderson, Francisco e Luciano deram uma caçoada amigável para descontrair. Tentamos animar ele para que continuasse. Mas ele realmente travou. Todos deram uma força amiga para o Vanderlei que voltava com o Lucas até o local que fizemos o lanche antes da corcova do camelo. Aproveitamos e ficamos ali papeando e curtindo o visual. E eu não parava de olhar para o cume, estava muito ansioso. E faltava um pouco ainda. Novamente o Lucas apareceu e continuamos. Passamos do lado da pedra suspensa e Anderson fez um registro meu enquanto eu continuava encantado com o paredão.
Cume desafiador da Maria Comprida.
 Já bem perto do paredão da montanha, olhava para o lugar que passaríamos. Fizemos mais fotos aí e seguimos pela  trilha bonita e bem definida.  Continuamos a ladear o paredão seguindo pela esquerda até a trilha descer na direção da mata e voltar a subir bem íngreme outra vez.
Anderson na subida.
 Fizemos um breve descanso e voltamos a subir forte. Seguimos até a estreita canaleta que nos daria acesso ao cume.

Passagem Leander.


Sem tempo a perder, iniciamos a subida da passagem Leander, na forma de uma estreita canaleta nas encostas da montanha.  Não diferente de todas as partes da trilha, era um trecho totalmente exigente. Além de exigir técnica, esforço e atenção.Havia também muitas cordas para apoio. O começo foi bem tranquilo e seguimos com tudo para a reta final do tão desejado cume da Maria Comprida, a gigante de pedra. Fui seguindo o Lucas de perto até chegar num trecho bem erodido com a rocha bastante quebradiça. Apesar do cansaço,vencemos todo o trecho com bastante esforço e animação. 
Fizemos alguns registros uns dos outros durante toda a canaleta e nos divertimos muito também. Quando paramos pra descansar, quase no final da subida da canaleta, coloquei as minhas mãos na rocha e fechei os olhos. Ali em pensamento eu agradeci e pedi a permissão antes de prosseguir.
Retornamos a trilha e paramos num pequeno plato. De lá se tinha uma vista muito bacana da corcova do camelo e da crista. Anderson e eu acenamos para o Vanderlei. Passamos por pequenas lajes de pedra um tanto expostas e vi Francisco e Luciano chegando ao plato por onde passamos.  A trilha começou a perder inclinação e o cume estava muito próximo. Algumas fotos deste trecho:

Chegada ao cume

Lucas segui na frente comigo e o Anderson enquanto Luciano e Francisco vinham logo atrás. Diferente do que imaginei, o cume não era um amplo lajão só de pedras. Era muito arbustivo! Apesar de ter belos pontos com laje para descansar e apreciar a vista, vi muitas flores e também uma orquídea lindíssima.
Orquídea no cume.
 Anderson deixou que eu fosse a frente e que era o meu momento. Provavelmente ele achou que eu ia chorar - faltou pouco mesmo. Mas as lágrimas ficaram comigo na madruga de sábado enquanto assistia o vídeo do Drone Aventura. Fui sorridente andando calmamente atrás do Lucas. O momento era nosso, de todos. Foi uma vitória chegar ao cume dessa montanha impressionante.  Paramos numa laje perto de um totem. Conversava com o Lucas e Anderson enquanto aguardávamos a chegada de Francisco e Luciano. Só faltou o Vanderlei. Logo eles chegaram e todos se cumprimentaram. Foi emocionante. O clima era dos melhores. Vi no olhar de cada um deles o mesmo brilho que eu tinha em meus próprios olhos. Entendia perfeitamente bem o sentimento deles. Perambulando pelo cume, fizemos muitas fotos e vídeos. Depois nos sentamos pra conversar e falar de tudo um pouco. Falamos sobre montanhas, trocamos conhecimentos e muitas ideias. Após o breve descanso, fomos até o totem que guardava o livro de cume.  Quando mexemos no totem, o livro não estava lá. Claro que a ausência do livro não estragou o dia, mas certamente tirava um pouco do brilho da caminhada. Aproveitamos então para fazer alguns registros antes de sentar para lanchar.

Depois das fotos, fizemos o nosso lanche. As nuvens tomaram conta do cume trazendo um vento forte e um pouco frio. Nas poucas janelas de tempo que surgiram, fizemos alguns registros do visual. Não deu pra ver tanta coisa, mas só pela caminha até o cume em si já tinha valido totalmente a pena.

Passamos mais um tempo no cume e iniciamos o caminho de volta. Chegar nem sempre é o problema,voltar sim pode ser um grande problema. Voltamos com máxima atenção e cautela sabendo que enfrentaríamos todos os obstáculos da subida. Descemos a canaleta rapidamente e fizemos alguns registros da descida. Logo chegamos a crista e aproveitamos para fazer registros na pedra suspensa também.
Quando chegamos ao local onde Vanderlei nos aguardava, batemos um papo com ele e falamos sobre a experiência que tivemos. Ele me disse que estava frustado por não ter conseguido.  Eu entendia ele muito bem e o parabenizei por reconhecer o próprio limite e também para não ficar triste com isso, pra levar como experiência.  Depois da conversa ele parecia melhor e isso me deixou feliz. Descemos toda a crista Sudoeste tranquilamente com a luz de ouro tocando as montanhas e deixando a tarde muito bela. Logo abandonamos a crista e entramos na mata. Segui com o Lucas e Anderson até sair da trilha para a rua do condomínio.  Me deitei do lado da rua, numa grama tão macia que parecia até a minha própria cama. Senti o cansaço bater, a adrenalina ceder e a ansiedade ir embora. Tinha acabado. Eu tinha realizado essa trilha fantástica. Me sentei e peguei o resto do que sobrou do bolo e comecei a comer.  Tomei uns bons goles d'água para me hidratar enquanto esperava os outros chegarem.  Enquanto batia um papo com Anderson, notei que Luciano e Francisco estavam demorando muito. Eu, Anderson e Vanderlei esperamos ali enquanto Lucas voltava pela trilha a procura deles. Não demorou e eles apareceram. Luciano estava ajudando o Francisco que sentiu fortes dores no joelho ao final da trilha. Mas ele estava bem. Seguimos juntos em direção ao largo onde os carros estavam estacionados e nos organizamos para entrar.  Fomos até a portaria e saímos do condomínio Rock Valley . Paramos no centrinho de Araras para uma rápida comemoração.  Com Francisco e Luciano,Lucas foi embora. Anderson, Vanderlei e eu fomos depois. No caminho eu praticamente apagava a todo momento . Estava exausto devido a falta de sono e por todo esforço feito na trilha. Acordava um pouco assustado sempre que citavam o meu nome ou quando o Anderson manobrava o carro para fugir do engarrafamento.  Nossa jornada foi pesada naquele domingo. Levamos 04h17 minutos para alcançar o cume e 03h30 para descer até os carros.  Quando chegamos na entrada do Carangola eu estava um pouco melhor.  Assim que o carro parou, agradeci muito a Anderson pela generosidade e me despedi do Vanderlei. Fiquei feliz por ele ter me escutado na trilha e ter se sentido um pouco melhor.  Então o carro manobrou e foi embora. No ponto  coloquei o meu fone de ouvido para escutar algumas músicas enquanto esperava o ônibus. Preferi ficar de pé, encostado no muro pois, se eu estivesse sentado, iria dormir ali mesmo. Por sorte o meu ônibus chegou um pouco depois e então selecionei a música  que definia tudo o que se passou durante os dias desde que eu soube da caminhada até a volta pra casa.  Então lá estava eu, sentado no banco perto da janela e com o vidro aberto pra tomar um ar, escutando música e olhando  movimento das coisas. Cheguei em casa bastante feliz e agradecido pelo dia incrível que tive.
''Nem sempre se vê...lágrimas no escuro, lágrimas no escuro, lágrimas...
Mágica... no absurdo,mágica no absurdo,mágica... nem sempre se vê...''

As lendas eram reais. GIGANTES DE PEDRA!

Em homenagem a Manoel Honorato de Oliveira. Avô de Bianca Oliveira.