sábado, 12 de janeiro de 2019

Maria Comprida/ Serra das Araras

  A rocha petropolitana que toca o céu.

A Maria Comprida é de longe a montanha mais impressionante da cidade de Petrópolis. A ascensão até o seu cume foi realizada na década de 30, pelo escalador Emérico Hungar. A conquista foi um marco histórico do montanhismo brasileiro. Antes da conquista, essa gigante era cercada de lendas, incluindo sacis e mulas-sem-cabeça no seu cume, considerado inatingível. A rota de conquista foi batizada de ''Canaleta'', alcançando o cume pela parede Leste a partir do colo entre  o João Grande (Manoel Grande naquele tempo)  e a Maria Comprida.  A rota atual, por caminhada, inicia-se  pelo monumental paredão Sul e segue pela linda crista a Sudoeste, vencendo 300 metros de desnível vertical até alcançar a ''Passagem dos Camelos''. Após as corcovas do camelo, a trilha segue pela estreita crista, chegando ao ponto de ter o abismo a menos de 1 metro de ambos os lados. Mais a frente, fica a curiosa ''Pedra Suspensa'' e depois para a estreita canaleta que ganhou o nome de ''Passagem Leander'' por conta do montanhista que a descobriu.  Além dessas rotas, a Maria Comprida tem outras rotas tão impressionantes como ela. Uma dessas é a ''Maria Nebulosa'', com 1.040 m de extensão localizada no seu paredão Nordeste. Mas sem dúvida, a via mais hipnotizante e desafiadora é a ''Domínio das Sombras'', com 830 metros de extensão na sombria parede frontal Sul. Os escaladores petropolitanos ''Alex Che'',''Ildinei'' e ''Bidú'' passaram 10 dias pendurados na parede sem ver o sol- pois em boa parte do ano a parede não é iluminada pelo sol. Chegaram ao cume no limite dos nervos e de suprimentos. Após o feito, a via permanece sem repetições. Com vocação para vias de acesso até o cume e com paredes rochosas que ultrapassam os 1.000 metros de altura, foi também palco de dois acidentes com aviões que se chocaram contra ela. Ninguém sobreviveu.
Maria Comprida e seu paredão impressionante.
Eu sabia que um dia iria. Mas não imaginaria que fosse tão cedo...

Em Petrópolis, eu duvido que exista alguém que não tenha ouvido falar da Maria Comprida. E mais ainda de quem não a reconhece visualmente. Ela é praticamente vista de quase todas as partes da cidade. Ergue-se imponente e dominante na Serra das Araras, em Araras. Quando se compara a outras montanhas em seu mais diversos formatos, ela se destaca. A 1.926 metros de altitude acima do nível do mar, um gigante de pedra apresenta-se vaidoso e imponente, deixando claramente a sua impressionante forma contra o céu.

Quando eu era mais novo, ia muitas vezes em Araras, na localidade conhecida como Vista Alegre.  O destino era sempre o mesmo : A casa da ''Tia Tereza''- que não vejo há tempos. Eu e meus irmãos ficávamos brincando com outras crianças no quintal até tarde da noite, antes de entrar para tomar banho e lanchar. Havia uma rede do lado de fora, onde por horas, eu estava a descansar e a brincar.  Numa dessas visitas ouvi pela primeira vez sobre a Maria Comprida. Eu não fazia a menor ideia do que seria. Minha mãe falava com a tia Tereza sobre os aviões que bateram na tal Maria Comprida. Como toda criança, curiosa e atenta, perguntei a elas o que era e onde que bateram. Então me apontaram a direção da montanha e eu fiquei apenas olhando sem entender muita coisa. Lembro apenas de ter me deparado com um enorme contorno que ia de encontro ao céu. O tempo passou e tudo mudou. Acabei descobrindo esse universo rochoso que nos fascina a cada passo, subidas, agarras e descidas.

Numa conversa com um amigo das trilhas, Anderson Medeiros,  ele me contava da sua vontade de ir até lá. Disse também que estava se preparando pois,além de ser uma caminhada pesada e bastante técnica, ele tinha medo de altura. Na conversa, disse a ele que eu também tinha o enorme desejo de ir até ela. Depois de muito tempo, ele me pediu informações sobre guia.  A Maria Comprida está em área particular e para acessar a sua trilha é preciso estar acompanhado de guia credenciado. Antes  era só ligar para o condomínio e agendar o dia da subida.  Porém, alguns caminhantes quebraram as regras e criaram um estreito relacionamento entre os montanhistas e os donos dos arredores onde situa-se a montanha. Por dia é permitido somente 6 pessoas na trilha e pode ser iniciada as 07h00 da manhã e com saída do condomínio no máximo entre as 17h00 e 18h00 da tarde.  Além do Anderson Medeiros, Francisco Rebello também falou comigo sobre a questão do guia.  Da mesma maneira, indiquei o Lucas Lourenço Rocha, que conheci no CEP e tivemos breves encontros na travessia Petrópolis x Teresópolis. Depois de negociarem os horários e todo o resto, foi decidido que iriam no domingo, 03 de setembro de 2017. Nem me passava pela cabeça que eu iria. Mas estava feliz por poder ajudar todos que queriam e iriam...

Um convite surpreendente...

Avisei o Lucas sobre os rapazes que estavam interessados em fazer a trilha. Agradecido, ele me informou que os rapazes já tinham consultado ele e estava tudo marcado. Foi nesse momento que ele me chamou pois havia uma vaga. Fiquei incrédulo! Não acreditei, mas certamente não perdi tempo e disse claramente que sim. Tudo isso ainda na sexta-feira. Ele pediu para que eu aguardasse pois, no sábado, ele explicaria a logística e outras coisas. Fiquei animadíssimo, mas reencontrei um antigo problema. Uma ansiedade de tamanha proporção. Encontrei o Davi Moura e ficamos papeando na rua por longas horas. Fomos até a casa dele e só voltei pra minha casa quando o dia clareou, já no sábado.  A hora estava acelerada até então. Cheguei em casa, peguei o meu celular e fui para o meu adorável banquinho de madeira que fica na varanda. Sentado e encostado na parede, coloquei o vídeo do ''Drone Aventura - Maria Comprida'' no YouTube. Junto de Felipe Lombardi, autor do vídeo,estava o Thiago Haussig.  O vídeo mostrava a beleza do lugar, mostrando ângulos incríveis daquele cenário fabuloso. Numa parte do vídeo, Thiago está subindo a crista Sudoeste, passando ao lado de um pinheiro com o drone filmando  a verticalidade surreal da parede. Até essa parte, segurei as lágrimas.  Mas não por muito tempo. Após isso, Thiago abria os braços na crista, bem perto do paredão e em seguida, na subida da ''Passagem Leander''.  ''Takes'' pra cá,'' Takes'' pra lá e então o drone sobrevoava a montanha, passando primeiro por Thiago e em seguida pelo Felipe. A frente, o imenso horizonte que o drone capturava pegando a Serra dos Órgãos, Serra da Estrela, Serra do Cantagalo, Serra do Taquaril e ao longe,  a região dos Três Picos de Friburgo. Era impossível conter a emoção. Até a trilha sonora era tocante com a sua melodia que combinava e harmonizava com tudo. Me levantei e fui pra cama, na tentativa de dormir. O vídeo não saía da minha cabeça. Deitado em minha cama, virava de um lado para o outro, procurava pela melhor posição, o conforto, mas não adiantava.  Bateu uma ansiedade danada. O sábado foi longo e a hora parecia não querer passar. Era quase uma tortura. No decorrer do dia, fiz algumas coisas em casa e depois fui até a casa da minha avó. Lá mostrei o vídeo aos presentes e retornei para a minha casa novamente por volta de meia-noite. Arrumei a mochila, os lanches, as bebidas e então fiquei na varanda tomando o meu café enquanto observava  a linda noite com o contorno das montanhas acompanhadas das brilhantes estrelas no céu.

Quase, quase!

Depois de tomar banho e colocar a mochila nas costas, fui pra rua esperar o ônibus que sairia as 05h30. Porém, fui dez minutos antes. Não queria perde-lo por nada. 05h30 e eu nada do ônibus sair. Ansioso, batia o pé no chão e andava de um lado para o outro enquanto escutava umas músicas pra relaxar. Dez minutos depois ele veio iluminando a rua e os muros das casas. Embarquei já sorridente, dando bom dia ao motorista e o cobrador. Nem fiz questão de sentar no banco, pois desceria na entrada do Carangola. Marcava 05h50 quando saltei na entrada do Carangola e atravessei a rua para esperar a carona generosa do Anderson Medeiros. Havíamos combinado o encontro ali por volta das 06h00 da manhã. E lá estava eu mais uma vez com o meu chapéu, mochila e o fone de ouvido. Selecionei algumas músicas do H.I.M e do Metallica. Mudava do Rock/Love Metal para o Rock/Metal. As músicas românticas eram pra relaxar e as agitadas pra me deixar no clima. Não demorou e as 06h10 chegava a minha carona. Ao entrar no carro, me ajustei e cumprimentei o Anderson e também o Vanderlei - amigo do Anderson que acabava de conhecer. Seguimos pelo asfalto até a ponte onde inicia-se a estrada de Araras e paramos num largo. A trilha estava marcada para as 07h00 da manhã. Pouco depois, chegou Francisco Rebello e o seu amigo - Luciano Moreira.
Todos se cumprimentaram e começamos a bater um bom papo.  Só faltava o guia (Lucas Lourenço Rocha) chegar. Contudo, para a minha ansiedade me torturar mais uma vez, Anderson disse que Lucas havia mandado uma mensagem. Na mensagem ele dizia que se atrasaria um pouco por ter passado mal durante a noite anterior. Enquanto ele não chegava, continuamos papeando.

A ficha começa a cair.

Lucas chegou e a reação de todos nós não poderia ser diferente : Animação total!!!
Cumprimentou a todos  e pegou carona comigo, Anderson e Vanderlei. Fomos na frente a caminho do condomínio ''Rock Valley''. Atrás de nós havia um outro carro e, atrás deste, o carro de Francisco. Pegamos a entrada da rua que seguia para a portaria do condomínio. Paramos em frente ao portão com a guarita do lado.  Lucas desceu do carro e em seguida, pediu alguns de nossos documentos para entregar a ficha ao porteiro. Do lado de fora do carro, eu olhei para a montanha. Nunca tinha chegado tão perto até então. Ela estava acompanha do João Grande e da Serra das Antas. Algumas nuvens a envolviam. Nesse momento, antes de fazer um registro, senti que o chamado estava forte, uma energia sobrenatural. Foi aí que percebi a ligação entre o homem e a montanha. A ficha caiu. Era pra valer. Estava iniciando uma trilha que sempre quis fazer.
Portaria do ''Rock Valley''.
Voltamos para o carro e seguimos rua acima pelo condomínio até chegar num largo perfeito para estacionar os carros. A trilha começava um pouco mais acima, entrando na mata pelo lado esquerdo.  Todos saíram dos carros e começaram os ajustes para iniciar a caminhada. Enquanto admirava o lugar, lembrava também de uma conversa que tive com a Natania Kronemberger que, de forma simpática e generosa, havia me convidado para uma trilha experimental junto ao CEP - Centro Excursionista Petropolitano.  A trilha seria a Pedra do Capeta/Serra da Estrela. Agradeci pelo convite e expliquei o motivo da ausência por conta da crise de ansiedade.  A Maria Comprida me tirou o sono!

Com um clima muito agradável e uma ótima energia entre os participantes, iniciamos a subida para pegar a trilha. Eu seguia os meus amigos e olhava para a montanha a todo tempo. E as nuvens ainda envolviam o seu cume. Antes de entrar na mata, fiz um registro.
Maria Comprida vista da rua do condomínio.
 As rochas, testemunhas dos tempos imemoriais.

Nas trilhas conheci a simpática Bianca Oliveira quando fomos ao Seio de Vênus no dia 19 de Fevereiro de 2017, três dias antes de completar dois anos desde que comecei nas caminhadas.  Além dela, desfrutei das agradáveis companhias de Victor - marido da Bianca -, Marcia Fukuda, e Hugo Esteves. Caminhamos e conversamos bastante naquele lindo dia de sol. Com Victor, Bianca e Hugo, falava sobre a Maria Comprida e dá imensa vontade de ir lá. Nem me passava pela cabeça que naquele ano eu iria. Depois conversei com Bianca e soube da linda história que a levou a realizar aquela trilha. Com a sua permissão, trago ao público e enriqueço o relato com a linda história dela em relação a Maria Comprida.

Bianca Oliveira
''Desde que eu me entendo por gente, meu avô me contava que tinha ido na Maria Comprida. Ele era bem jovem, tinha uns 20 anos naquela época. Com mais três amigos, eles foram a montanha.  Eles já moravam em Araras  e tinham o costume de andar nos morros a cavalo. Ele e a família trabalhavam em feiras. Vieram da roça para Petrópolis e ele sempre contava isso. Subiram sem técnica, sem equipamentos, sem preparo nenhum. Na época foi um feito incrível pra eles. Já existiam histórias de pessoas que tentavam subir e não conseguiam. Pessoas que se acidentaram e até morreram no local. O acesso era muito difícil e eles foram só com uma corda, isso é o que ele me contava. Ele foi uns dos primeiros a fazer isso, chegar ao topo com esses amigos. Isso deve ter mais de 70 anos, por aí. Se meu avô fosse vivo hoje, completaria 90 anos agora, dia 7 de Setembro.  Ele sempre me falava dessa história com muito entusiasmo por ter conseguido e por ter feito. Ele falava que tinha chegado, que tinha um livro no cume, que ele assinou e guardou o livro numa caixinha que ficava guardada em uma casinha de pedras. Depois eu fui vendo que era real e foi me dando essa vontade de fazer.  E quando eu fui ficando maior, dizia a ele que um dia iria lá pra ver como era porque ele se mostrava muito entusiasmado me contando. Foi uma  que marcou muito a vida e a juventude dele, enfim. Quanto mais velho ele ficava, mais sobre isso ele falava e chegava naquela fase de sempre repetir a mesma história toda vez que eu ia lá. É uma lembrança muito forte que tenho dele. Eu morava com meus avós e fui criada por eles. Quando me tornei adulta e fui entender as coisas, pesquisei e passei a falar com mais propriedade pra ele que um dia eu iria lá. Uma coisa que me surpreendia nele é que ele nunca dizia que era perigo e etc.  Dizia para que eu fosse sim. E foi a coisa mais incrível que fiz na minha vida.  Ele falava do visual daquela época, que foi incrível. Ele também achava que esse livro ainda poderia estar lá. E quanto mais a idade ia passando, mais ele repetia essa história , falando do livro, de ter assinado e dizendo que eu veria a sua assinatura quando eu fosse. Ele achava que era assim.  Faz 7 anos desde que ele faleceu. Depois disso eu fiquei com isso de subir lá.  Era uma coisa que eu queria muito fazer. E aos poucos fui guardando essa ideia pois, é muito gostoso estar na natureza, caminhar. Mas eu não fazia. Era aquele tipo de coisa  que você olha e gosta, mas não faz. E isso está recente em mim.  Então continuei trabalhando essa ideia e falava com o Victor que iria tomar coragem, queria fazer a Maria Comprida.  E a gente começou ao poucos : Véu da Noiva e trilhas mais curtinhas, até chegar na Maria Comprida. Então assim, a ida até a Maria Comprida  era uma vontade antiga, desejo mesmo. Foi uma conquista pessoal muito grande, porque eu queria fazer e fiz. Teve um enorme valor sentimental.  Quando eu comecei a subir, eu não tinha a menor ideia do que seria. Procurei me cercar de cuidados, contratar guia, ir me preparando. Não tinha uma ideia exata do que encontraria. Eu queria chegar pelo meu avô e por mim.  E por esse desejo fantástico, foi incrível!  Quando a gente começou a subir eu vi que aquilo seria difícil e pesado.  Eu deveria ter me programado melhor antes, fazer academia e buscar um condicionamento físico melhor. Fui me preparando psicologicamente também. Quando cheguei , percebi que aquilo seria muito mais difícil do que imaginei. E eu tinha aquele pensamento, o foco de que ia conseguir, vou chegar até o topo mesmo. Quando a gente chegou no pé da pedra, bem no início, foi o ponto mais incrível pra mim. Eu estava muito cansada. E quando se encosta naquela pedra... É incrível, fascinante!  Não tem como explicar. Parece que aquilo te dá uma energia. Dei uma respirada e pensei que ia conseguir. Aí você puxa uma força que só a montanha mesmo te dá.  Consegui chegar no topo, era tudo que eu queria.
Foi muito incrível, o Marcelo - Guia -, foi muito importante. Ele sabia da história, eu tinha contado a ele.  E ele falava que tinha certeza de que eu iria subir. A gente foi mesmo cansado e foi incrível. E ali em pensamento eu dizia: ''Vô, cheguei, cheguei, consegui. Prometi, estou aqui!''. Assinei o livro de cume e foi muito importante pra mim. Ficamos lá por 1h e começamos a descer. Marcelo dava as orientações e levamos mais tempo na descida pegando uma parte da trilha já anoitecendo. Mas o que ele garantiu, cumpriu.  Chegamos na portarias as 20h, levando 2h a mais . Quando chegamos, o Marcelo veio conversar e parabenizar o grupo por ter conseguido.  Estava eu, Victor, minha cunhada e meu irmão.  Depois ele veio e me deu um abraço, dizendo que tinha certeza de que a gente iria fazer, que eu ia conseguir e ele sabia o valor sentimental  que essa montanha tinha pra mim.  Disse também que foi muito importante pra ele fazer parte disso , pois sabia do que tinha ajudado a realizar. Nessa hora eu desabei. Ele foi 10 e foi incrível, incrível, incrível.'' - Bianca Oliveira.

Rumo a crista Sudoeste.

Depois de nos organizar, subimos pela rua até entrar na trilha que ficava um pouco mais acima.  Lucas era o guia da caminhada e ia na frente. Eu o seguia de perto com o Anderson e Vanderlei logo atrás. Francisco e Luciano fechavam a fila. A trilha estava bem no começo e íamos amaciando os nossos calçados e também o corpo. Reparei que haviam algumas placas indicando a trilha. Além da vegetação muito bonita ao redor, surgiam alguns bambus. Após algumas parada e conversas, paramos num lugar mais plano. Fizemos alguns registros  e lanchamos. Através da linha das árvores eu olhava para a montanha. Não conseguia acreditar que estava ali a caminho dela num dia magnífico.
Maria Comprida.
 Aproveitando o descanso, abri o bolso da mochila onde deixei algumas paçocas e mariolas para degustar durante o percurso. Ofereci ao rapazes e ganhei do Luciano uma deliciosa barrinha de cereal sabor morango. Antes mesmo de continuar, a turma se reuniu para registrar o momento. E eu não conseguia tirar os olhos da montanha...

Turma reunida.
 Bem descansados e alimentados, continuamos a subir pela trilha. Subimos com uma ventania bem forte logo cedo. Lucas seguia na frente retirando alguns galhos e pequenas árvores caídas pela trilha. Mais acima, nos deparamos com uma árvore ao lado da trilha que tinha uma marca curiosa: quatro listras espaçadas entre elas. Até pensei na possibilidade de ter sido feita por um felino. Comecei a olhar o chão ao redor na busca por pegadas.  Não vi nada ali. Sem tempo a perder, prosseguimos ganhando elevação na trilha que se mostrava cada vez mais exigente, deixando o gostinho do que estava por vir. Após algumas subidas, paramos num lugar agradável na passagem horizontal. Estávamos perto de um paredão com ótimas pedras para descansar. Quando se está cansado na trilha, pedras como aquelas são bancos.  Ali batemos mais um papo e nos preparamos. Novamente nos organizamos e colocamos os pés na trilha pois, mesmo com o início já exigente, o grupo estava prestes a encarar a longa subida da crista Sudoeste com 300m de desnível vertical.
Com o rápido ganho de elevação e já na crista Sudoeste propriamente dita, as cordas começaram a aparecer.
 Lucas sempre seguia a frente avaliando o estado da trilha e das cordas. E subia um por vez, com cautela total. Os que venciam o trecho aproveitavam para registrar o que vinha depois. Passamos por muitos trechos com cordas durante a subida da crista. Em alguns momentos a trilha beirava a borda, revelando o abismo que se formava aos poucos. Além de cordas, lajes de pedra e muitas flores e arbustos na crista, haviam alguns poucos trepa-pedras. Continuamos a vencer trecho por trecho até sair da crista Sudoeste.
Ralação na subida.

 Depois da boa ralação pra esquentar a musculatura, saímos da mata e conseguimos dar uma boa olhada no visual. Reparei também que o topo da montanha estava tomado pelas nuvens.
Passagem dos camelos e as nuvens no cume da MC.
 Dei uma olhada no João Grande e também na Serra das Antas. Após isso, me reuni com a turma para fazer outro registro antes de prosseguir.
Na subida da crista Sudoeste.
Voltamos com tudo para a subida. Apesar do esforço, todos estavam bem animados e com mais ânimo depois de apreciar o visual que se descortinava a partir da crista. Certo tempo depois, estava sozinho na trilha, admirando o lugar e esperando o pessoal chegar.  Vi Anderson um pouco abaixo, subindo pelas cordas. Aproveitei esse momento para fazer o primeiro vídeo do dia e tirar uma mais uma foto da montanha. Ela parecia ficar perto cada vez mais conforme subíamos.
O impressionante monólito.
 Apesar do cansaço, eu estava muito animado.O tempo estava bem diversificado nesse trecho. Algumas nuvens tomaram grande parte da montanha de repente. Quando parei pra descansar mais uma vez, notei um pinheiro solitário na trilha. Achei bem intrigante.
Pedra suspensa vista da crista Sudoeste.
 Seguimos na subida da crista até atingir um conjunto de pedras e parei ali para fazer um lanche, pouco antes da primeira corcova do camelo. Desse ponto dava para ver uma parte do Monte de Milho. Peguei alguns biscoitos doces e salgados pra comer. Além disso, não deixei nem o bolo de chocolate escapar.
Pausa pro lanche.
 Enquanto eu saboreava o lanche, aproveitava o momento de solidão ali, bem perto de uma montanha que eu tanto admirava e tinha o desejo de realizar. Ainda não acreditava, mas aceitava de bom grado. Passaram-se alguns minutos até a chegada de Vanderlei e Anderson até onde eu estava. Eles tiraram as mochilas das costas e pegaram o lanche para reforçar a carcaça também. Ficamos ali conversando até o Lucas chegar com Francisco e Luciano.  O dia estava muito bonito e com um atmosfera agradável. Durante o lanche e a conversa, não resisti e voltei a olhar para a montanha. Ela estava ali, na minha frente. Tão perto e tão longe ao mesmo tempo. A caminhada era pesada, mais até do que imaginei.  Mas eu estava indo muito bem e confiante de que ia chegar lá.  O seu cume desafiador erguido aos céus era fascinante. Em seguida, peguei o meu lanche e guardei na mochila. Os rapazes fizeram o mesmo e então voltamos para a trilha. Lucas seguia na frente e passava algumas orientações. Prosseguimos então para a ''Passagem dos Camelos'', uma curiosa elevação com duas corcovas, tendo uma curiosa pedra sobre o abismo. Caminhamos até chegar numa área espaçosa que tinha um grampo na pedra. Lucas desceu primeiro e recomendou que, como fizemos na subida, faríamos ali. Descemos um por um, aos poucos. Durante essa curta descida, notei que além de ser bem acidentada e potencialmente perigosa, estava ainda molhada.  A corda de apoio foi de grande ajuda ali. Todo mundo desceu tranquilamente e seguimos para outro trecho fantástico. O caminho agora seguia pela estreita crista, nos deixando a menos de 1 metro do abismo de ambos os lados. Nessa parte até brinquei com o Anderson de maneira saudável,evitando alimentar o medo que ele tem de altura. Fomos caminhando tranquilamente pela crista. Fiz até um vídeo pra guardar de recordação.  Coloquei pra gravar, segurei firme na mãos e foquei na trilha, sem preocupação com o que ou como o celular gravaria. A atenção nesse trecho foi redobrada.
 Dei uma olhada na pedra suspensa e acompanhei o Lucas. Subimos até passar do lado do abismo a esquerda e procurei por alguma parte dos aviões que se chocaram contra a montanha na esperança de ver alguma parte. Nada vi e então continuei no caminho. Lucas parou um pouco e ficamos batendo um papo enquanto os outros vinham.
O papo estava bom.
Enquanto conversava com o Lucas, ouvi uma agitação e fomos ver o que tinha acontecido. Cheguei a pensar que o Anderson estava desistindo. Para a minha surpresa, não era ele e sim o Vanderlei. Ele foi consumido pelo medo. Parecia ter visto a morte diante dos seus olhos. Anderson, Francisco e Luciano deram uma caçoada amigável para descontrair. Tentamos animar ele para que continuasse. Mas ele realmente travou. Todos deram uma força amiga para o Vanderlei que voltava com o Lucas até o local que fizemos o lanche antes da corcova do camelo. Aproveitamos e ficamos ali papeando e curtindo o visual. E eu não parava de olhar para o cume, estava muito ansioso. E faltava um pouco ainda. Novamente o Lucas apareceu e continuamos. Passamos do lado da pedra suspensa e Anderson fez um registro meu enquanto eu continuava encantado com o paredão.
Cume desafiador da Maria Comprida.
 Já bem perto do paredão da montanha, olhava para o lugar que passaríamos. Fizemos mais fotos aí e seguimos pela  trilha bonita e bem definida.  Continuamos a ladear o paredão seguindo pela esquerda até a trilha descer na direção da mata e voltar a subir bem íngreme outra vez.
Anderson na subida.
 Fizemos um breve descanso e voltamos a subir forte. Seguimos até a estreita canaleta que nos daria acesso ao cume.

Passagem Leander.


Sem tempo a perder, iniciamos a subida da passagem Leander, na forma de uma estreita canaleta nas encostas da montanha.  Não diferente de todas as partes da trilha, era um trecho totalmente exigente. Além de exigir técnica, esforço e atenção.Havia também muitas cordas para apoio. O começo foi bem tranquilo e seguimos com tudo para a reta final do tão desejado cume da Maria Comprida, a gigante de pedra. Fui seguindo o Lucas de perto até chegar num trecho bem erodido com a rocha bastante quebradiça. Apesar do cansaço,vencemos todo o trecho com bastante esforço e animação. 
Fizemos alguns registros uns dos outros durante toda a canaleta e nos divertimos muito também. Quando paramos pra descansar, quase no final da subida da canaleta, coloquei as minhas mãos na rocha e fechei os olhos. Ali em pensamento eu agradeci e pedi a permissão antes de prosseguir.
Retornamos a trilha e paramos num pequeno plato. De lá se tinha uma vista muito bacana da corcova do camelo e da crista. Anderson e eu acenamos para o Vanderlei. Passamos por pequenas lajes de pedra um tanto expostas e vi Francisco e Luciano chegando ao plato por onde passamos.  A trilha começou a perder inclinação e o cume estava muito próximo. Algumas fotos deste trecho:

Chegada ao cume

Lucas segui na frente comigo e o Anderson enquanto Luciano e Francisco vinham logo atrás. Diferente do que imaginei, o cume não era um amplo lajão só de pedras. Era muito arbustivo! Apesar de ter belos pontos com laje para descansar e apreciar a vista, vi muitas flores e também uma orquídea lindíssima.
Orquídea no cume.
 Anderson deixou que eu fosse a frente e que era o meu momento. Provavelmente ele achou que eu ia chorar - faltou pouco mesmo. Mas as lágrimas ficaram comigo na madruga de sábado enquanto assistia o vídeo do Drone Aventura. Fui sorridente andando calmamente atrás do Lucas. O momento era nosso, de todos. Foi uma vitória chegar ao cume dessa montanha impressionante.  Paramos numa laje perto de um totem. Conversava com o Lucas e Anderson enquanto aguardávamos a chegada de Francisco e Luciano. Só faltou o Vanderlei. Logo eles chegaram e todos se cumprimentaram. Foi emocionante. O clima era dos melhores. Vi no olhar de cada um deles o mesmo brilho que eu tinha em meus próprios olhos. Entendia perfeitamente bem o sentimento deles. Perambulando pelo cume, fizemos muitas fotos e vídeos. Depois nos sentamos pra conversar e falar de tudo um pouco. Falamos sobre montanhas, trocamos conhecimentos e muitas ideias. Após o breve descanso, fomos até o totem que guardava o livro de cume.  Quando mexemos no totem, o livro não estava lá. Claro que a ausência do livro não estragou o dia, mas certamente tirava um pouco do brilho da caminhada. Aproveitamos então para fazer alguns registros antes de sentar para lanchar.

Depois das fotos, fizemos o nosso lanche. As nuvens tomaram conta do cume trazendo um vento forte e um pouco frio. Nas poucas janelas de tempo que surgiram, fizemos alguns registros do visual. Não deu pra ver tanta coisa, mas só pela caminha até o cume em si já tinha valido totalmente a pena.

Passamos mais um tempo no cume e iniciamos o caminho de volta. Chegar nem sempre é o problema,voltar sim pode ser um grande problema. Voltamos com máxima atenção e cautela sabendo que enfrentaríamos todos os obstáculos da subida. Descemos a canaleta rapidamente e fizemos alguns registros da descida. Logo chegamos a crista e aproveitamos para fazer registros na pedra suspensa também.
Quando chegamos ao local onde Vanderlei nos aguardava, batemos um papo com ele e falamos sobre a experiência que tivemos. Ele me disse que estava frustado por não ter conseguido.  Eu entendia ele muito bem e o parabenizei por reconhecer o próprio limite e também para não ficar triste com isso, pra levar como experiência.  Depois da conversa ele parecia melhor e isso me deixou feliz. Descemos toda a crista Sudoeste tranquilamente com a luz de ouro tocando as montanhas e deixando a tarde muito bela. Logo abandonamos a crista e entramos na mata. Segui com o Lucas e Anderson até sair da trilha para a rua do condomínio.  Me deitei do lado da rua, numa grama tão macia que parecia até a minha própria cama. Senti o cansaço bater, a adrenalina ceder e a ansiedade ir embora. Tinha acabado. Eu tinha realizado essa trilha fantástica. Me sentei e peguei o resto do que sobrou do bolo e comecei a comer.  Tomei uns bons goles d'água para me hidratar enquanto esperava os outros chegarem.  Enquanto batia um papo com Anderson, notei que Luciano e Francisco estavam demorando muito. Eu, Anderson e Vanderlei esperamos ali enquanto Lucas voltava pela trilha a procura deles. Não demorou e eles apareceram. Luciano estava ajudando o Francisco que sentiu fortes dores no joelho ao final da trilha. Mas ele estava bem. Seguimos juntos em direção ao largo onde os carros estavam estacionados e nos organizamos para entrar.  Fomos até a portaria e saímos do condomínio Rock Valley . Paramos no centrinho de Araras para uma rápida comemoração.  Com Francisco e Luciano,Lucas foi embora. Anderson, Vanderlei e eu fomos depois. No caminho eu praticamente apagava a todo momento . Estava exausto devido a falta de sono e por todo esforço feito na trilha. Acordava um pouco assustado sempre que citavam o meu nome ou quando o Anderson manobrava o carro para fugir do engarrafamento.  Nossa jornada foi pesada naquele domingo. Levamos 04h17 minutos para alcançar o cume e 03h30 para descer até os carros.  Quando chegamos na entrada do Carangola eu estava um pouco melhor.  Assim que o carro parou, agradeci muito a Anderson pela generosidade e me despedi do Vanderlei. Fiquei feliz por ele ter me escutado na trilha e ter se sentido um pouco melhor.  Então o carro manobrou e foi embora. No ponto  coloquei o meu fone de ouvido para escutar algumas músicas enquanto esperava o ônibus. Preferi ficar de pé, encostado no muro pois, se eu estivesse sentado, iria dormir ali mesmo. Por sorte o meu ônibus chegou um pouco depois e então selecionei a música  que definia tudo o que se passou durante os dias desde que eu soube da caminhada até a volta pra casa.  Então lá estava eu, sentado no banco perto da janela e com o vidro aberto pra tomar um ar, escutando música e olhando  movimento das coisas. Cheguei em casa bastante feliz e agradecido pelo dia incrível que tive.
''Nem sempre se vê...lágrimas no escuro, lágrimas no escuro, lágrimas...
Mágica... no absurdo,mágica no absurdo,mágica... nem sempre se vê...''

As lendas eram reais. GIGANTES DE PEDRA!

Em homenagem a Manoel Honorato de Oliveira. Avô de Bianca Oliveira.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Morro do Palmares x Morro Careca


Palmares
Morro Careca

Pé na trilha outra vez.

Aproveitando a previsão boa para a cidade de Petrópolis, Alexandre agitou a turma para realizar uma caminhada que ele tinha em mente. A ideia de fazer essa trilha já tinha um tempo. Foi no dia 29 de Janeiro de 2017. O tempo não colaborou. Estava nublado e com algumas nuvens carregadas. Na ocasião, estava acompanhado de quatro pessoas : Alexandre Milhorance,Felipe Milhorance,Pablo Christo e Roberto Amarante. Aproveitando o feriado daquela sexta-feira, fizemos uma caminhada muito boa e produtiva.

Acordei bem cedinho naquela manhã do dia 21 de Abril de 2017, sexta-feira. Era feriado de Tiradentes. Organizei minha mochila e coloquei a água pra ferver. Fiz um café docinho e tomei alguns copos antes de ir pra rua esperar o ônibus. Já no Terminal de Corrêas,
andava de um lado para o outro enquanto esperava o pessoal chegar. Nossa ideia para aquele dia seria realizar uma mega trilha percorrendo quatro montanhas : Pedra da Cuca, Pedra Comprida de Araras, Palmares e Morro Careca. E lá estava eu, olhando o 602(Vale das Videiras) deixar a plataforma as 07h10 daquela manhã. Cerca de dois minutos depois eles chegaram e nos cumprimentamos. Comentei com eles sobre a saída do ônibus momentos antes da chegada deles. Não tinha noção do que iria acontecer. Achava que em breve, teria outro ônibus para nos levar até a Ponte Funda. E eu estava enganado!

Começo ruim.

Eram 09h30 da manhã e nada do ônibus aparecer. Além de estarmos perdendo tempo, o desânimo já era visível na expressão e nas palavras de cada um. Chegamos a cogitar o cancelamento e remarcar no dia seguinte ou em outra data. Pelo horário não daria tempo de fazer tudo e aproveitar o pôr do sol tranquilamente. Depois de muita conversa, optamos por fazer o Palmares e o Morro Careca ( Pedra Azul). Todos toparam e então esperamos a chegada do ônibus para Araras.  Próximo das 10h00 da manhã, o nosso ônibus chegou e embarcamos. Apesar do balde d'água fria, voltamos a nos animar e iniciamos um bate-papo daqueles no interior do veículo. Todos de pé, rindo de gargalhar. Foi um momento bem divertido do dia sem dúvida.

Subida do Palmares

 Logo chegamos em Araras, na localidade conhecida como Santa Catarina.  Pegamos o acesso da trilha do palmares e seguimos subindo pela sombra da mata e alguns fios d'água.  Paramos um pouco antes de iniciar a subida da crista do Palmares. O tempo estava bem favorável e elevava o nosso ânimo. Céu azul,vento refrescante e com tempo de sobra para ir até o Morro Careca. Reabastecidos, iniciamos a subida da montanha pela crista arbustiva.
Alexandre descansando
Seguindo na trilha
 Após sair do trecho arbustivo, chegamos as lajes.
 Aproveitamos para fazer alguns poucos registros e claro, o lanche.

Cume

Acabamos o lanche e nos organizamos. O cume já estava próximo e o horário ainda nos favorecia.
Seguimos em direção ao cume com rapidez e chegamos ao trecho exposto que antecede o cume.
Trecho final da trilha do Palmares. 
 Demos aquela boa olhada no lugar antes de começar a agitar passada no lance. Apesar de curto, necessitava de muito cuidado e atenção. Nesse ponto, eu só conseguia ser muito grato por ter levado o bastão de caminhada comigo justamente nesse dia. Meu joelho esquerdo estava me matando, de tanto que doía . Mesmo assim resolvi seguir em frente. Junto dos meu amigos, enfrentei o trecho sem problemas.  Algumas fotos desse momento abaixo:
Vencemos o trecho com segurança e chegamos no cume. Festejamos e descansamos um pouco. Não queríamos demorar muito ali, pois o Morro Careca estava a nossa espera. Novamente nos hidratamos e lanchamos. Apesar daquele belo céu azul na região da Serra das Araras, as nuvens tomavam conta da maior parte da cidade. Continuei saboreando meu lanche enquanto os meninos papeavam e o Alexandre seguia no gatilho da câmera.  Do Palmares ele acabou fazendo uma foto interessante do Morro Careca, lugar que iríamos a seguir.
Morro Careca( Pedra Azul) 
 Rumo a Pedra Azul

Descansados, iniciamos a descida para o Morro Careca. Começamos a descida bem íngreme e um pouco acidentada em alguns pontos.  Alexandre disparou na frente e só ouvíamos o barulho do mato sendo pisado por ele mais a frente. Por conta das dores no joelho, acabei ficando um pouco atrás.  Com o apoio dos bastões, a descida foi menos dolorosa, porém, lenta. Após a descida  que exigia bem dos joelhos, pegamos a subida relativamente suave do Morro Careca. Pelo caminho bem vegetativo e  indefinido, alguns espinhos nos feriam de vez em quando. Alexandre foi o primeiro a chegar ao cume. Lucas chegou pouco depois. Pablo,Glayson e eu em seguida. Comemoramos mais uma vez e exploramos todo o lugar na procura pelo livro de cume. Infelizmente não o achamos. Largamos as nossas tralhas numa laje de pedra e atacamos os lanches com força. Ali, sentados e bem alegres, papeamos e fizemos algumas fotos. O tempo tinha melhorado um pouco. Lucas agitou a turma e fizemos um registro com todos no cume.
Registro feito no cume.
 Novamente nos reunimos na laje onde largamos nossas coisas. Alexandre e Glayson deram uma explorada rápida e voltaram logo. Ficamos ali um bom tempo falando do visual. Especialmente para a Maria Comprida que era ainda mais impressionante daquele ponto. Erguia-se majestosamente, sendo o destaque. Alexandre aproveitou sua habilidade com a câmera para ter um autorretrato seu. A foto ficou muito boa.
Alexandre Milhorance.
 Aproveitei também para fazer uns registros nossos e do visual lá no cume. Faltava pouco para ir embora.  

 Aproveitei e peguei carona com o Alexandre que não soltava a câmera da mão. Afinal, eu tinha que ter uma foto pra guardar de recordação.
Já satisfeitos, recolhemos nossos pertences e iniciamos o caminho de volta para o Palmares pra começar.  Subimos novamente com o Alexandre indo a nossa frente. Glayson e Lucas o seguiam de perto. Eu fiquei por último, fazendo um tremendo esforço para subir. Mesmo com os bastões, o progresso era lento. A dor incomodava demais e me obrigava a parar muito. Foi um alívio chegar no Palmares. Continuamos até passar no trecho exposto com segurança e cautela. Descemos as lajes e entramos na parte mais arbustiva da crista na trilha.
Descendo as lajes
 Pablo foi me acompanhando de perto até o final da trilha. Ao final, agradeci a todos pela paciência, especialmente ao Pablo pela força e apoio moral. Esperamos o ônibus chegar pacientemente. Os horários eram demorados por conta do feriado. Acabei sentando no chão mesmo enquanto aguardava. Foi nesse momento que vimos o Vale das Videiras. Até brinquei com a turma, dizendo que o ônibus foi abduzido por um buraco negro. Já no Terminal de Corrêas, me despedi dos meus amigos e segui para o ponto. Aguardei a chegada do Vale do Carangola ansiosamente. Quando ele chegou, entrei e fui para o final, direto pra janela. Selecionei a música ''Civilian'' do Wye Oak e ativei a repetição automática. Pelo caminho, refletia sobre o dia que tive. Em pensamento, estava grato. A música ecoava na minha mente enquanto eu lembrava de cada passo, subida, descidas, arranhões, dores no joelho e todo tipo de coisa que aconteceu. De sorriso aberto e com muita felicidade, tive a sensação de quanto tinha valido a pena ter saído de casa naquela manhã...