terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Morro do Cubaio

Caminhada no Morro do Cubaio

Morro do Cubaio
Fotografia: Alexandre Milhorance
O Morro do Cubaio é a quinta montanha mais alta da Serra dos Órgãos. Sua trilha passa por cachoeiras, trechos de lajes de pedra, cristas, matas fechadas e belos mirantes. O caminho é repleto de bromélias, orquídeas,capim-de-anta e tantas outras plantas e flores ainda acrescentam na beleza dessa linda montanha.

Início ruim.

Depois de algumas conversas durante a semana,eu já tinha combinado com o Alexandre a caminhada do final de semana. Marcamos para o dia 16 de Julho de 2017, domingo. Ao cair da noite de sábado, eu deixei tudo arrumado na mochila e fui para a cama. A hora já estava avançada quando fechei os olhos. Quando acordei, tomei um susto enorme. Estava atrasado. Rapidamente mandei uma mensagem para o meu amigo enquanto corria para colocar a roupa e correr para pegar o ônibus. Me atrasei por 1h. O ônibus que eu deveria pegar já tinha passado no bairro. Peguei um ônibus e saltei na entrada do Carangola. Não foi preciso esperar muito para pegar outro ônibus para o terminal de corrêas. Ao chegar no terminal, rapidamente procurei pelo meu amigo. E lá estava ele, me esperando. Pedi desculpas pelo atraso e batemos um papo. O nosso ônibus chegou e entramos. Ás 08h00 da manhã ele saiu com destino ao Bonfim. E era pra lá que iríamos. Saltamos quase no ponto final e seguimos para a portaria do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Ao chegar lá, pagamos os nossos ingressos e então começamos a jornada daquele dia. Por estar atrasado e tendo atrasado Alexandre, comecei a colocar a canela pra queimar. Todo o esforço que desse para compensar o tempo perdido era de grande valia. Com bastante disposição e num ritmo frenético, ganhamos terreno rapidamente em muito pouco tempo. Passamos por algumas pessoas que subiam a nossa frente. Devido ao esforço logo no início, paramos para recuperar o fôlego e pegar um pouco de água pura e cristalina das montanhas. Fizemos a outra parada somente na bifurcação do Véu da Noiva.
Alexandre no descanso.
Um belo trecho.

Com o tempo agradável naquela bela manhã de domingo, pegamos o caminho da cachoeira do Véu da Noiva. Estava bem úmido. Subimos a trilha passando por bambus e raízes. O caminho estava escorregadio e tomamos cuidado ao passar pelas pedras. Cruzamos alguns riachos e chegamos a Gruta do Presidente.
Gruta do Presidente
Foto: Gustavo Botelho
 Paramos ali por um tempinho para dar uma boa olhada no lugar. Bem a nossa frente a gruta que era um local frequentado por Getúlio Vargas que chegava ali cavalgando. Dai o nome '' Gruta do Presidente''. Voltamos a trilha com bastante atenção tomando os devidos cuidados com pedras escorregadias. Qualquer descuido significaria o fim da trilha. Andamos por cerca de 5 minutos e chegamos a linda cachoeira. Paramos lá para fazer uns registros e relaxar ao som da água e do canto dos pássaros.
Véu da Noiva
 Bem relaxados, pegamos a trilha que leva a parte de cima da cachoeira. Lá nos deparamos com dois pocinhos bem convidativos para um banho. Mas era inverno e a água estava muito gelada. Tomamos muito cuidado ali. O local além de ser perigoso, já foi palco de alguns acidentes bem graves. Enquanto eu enchia minha garrafinha com água, dei uma boa olhada no local. Desse ponto era possível ter uma visão bem impressionante do Pico do Glória a esquerda e do Morro do Alicate e Morro do Açu a direita. Fizemos alguns registros para não deixar a oportunidade passar. Enquanto Alexandre mandava ver com a sua câmera, eu me arriscava com o celular.
Pico do Glória
Morro do Açu e Morro do Alicate
 Depois das fotos e já reabastecidos, voltamos para a nossa caminhada. Alexandre foi na frente e eu o seguia de perto. Seguimos ladeando a laje até pegar uma trilha discreta a esquerda. O caminho era encantador logo no começo. Isso já nos deixou bem animados. O trecho alternava muitas lajes com bromélias por todos os lados. A vegetação também era agradável. 
Alexandre na subida.
 Continuamos a subir até a trilha nos colocar para a esquerda. Ao lado direito tínhamos a vegetação e a esquerda, um imenso abismo. Nos encontrávamos na ''Aresta do Cubaio''.
Alexandre na ladeira do Cubaio.
Vale do Bonfim e Conjunto do Alcobaça
 A visão dali era espetacular. Víamos o imenso vale e o paredão vertical repleto de bromélias. Seguimos na borda da aresta do Cubaio até seguir uma trilha saindo a direita, se afastando do abismo. Bem animados com os encantos daquele lugar, continuamos na trilha até chegar na impressionante ''Janela do Bonfim''. Vista de arrepiar e tirar o fôlego que já não tínhamos. Era magnífico. Uma das visões mais belas que havia presenciado. Alexandre expressava o mesmo sentimento. Decidimos que ali era certamente o local para um bom lanche e uma agradável conversa entre amigos. Comentamos sobre o dia até ali e também sobre o imenso abismo que estava ali. Ao mesmo tempo que ele me encantava, me enviava um sinal de cuidado. Na minha cabeça eu só pensava na frase que sempre repetia para alguns amigos: ''Cuidado! O perigo mora ao lado...''. E nesse trecho o perigo morava ao lado literalmente!!!
Não ficaria satisfeito só com registros. Queria gravar a altura daquele imenso abismo, mas de forma segura. Me deitei no chão, como se fosse um ''Sniper'' e fui até a borda. Quando cheguei lá e olhei para baixo, senti aquele frio na barriga. Mesmo assim gravei e me afastei com segurança. Levantei, tomei água e fiz algumas fotos. Alexandre também fez fotos bem bacanas. E eu peguei carona com o meu amigo e fotógrafo de montanhas.
Aproveitando a maravilhosa visão
Lugar encantador
 O caminho continua.

Descansados e com a boa sensação de ter aproveitado muito o lugar, voltamos a trilha. Ainda tinha muito chão pela frente. Seguimos subindo até chegar num trecho bem íngreme e potencialmente perigoso. A trilha era estreita e bem a beira do abismo. Entre nós e o abismo, alguns frágeis arbustos e poucas árvores. Superamos o trecho com cuidado nos beneficiando de raízes e galhos firmes. Fizemos tudo com cautela. Não era hora de dar bola pro azar... ou para imprudências!
Após superar o lance anterior, entramos num trecho de mata belo e refrescante. Foi bom sentir o cheiro de mato enquanto caminhava pela sombra das árvores tirando as teias de aranha que grudavam no meu rosto.
Trecho belíssimo de mata. 
Alexandre na trilha.
 Com o vento e a sombra refrescante da mata, seguimos caminho passando por algumas belas flores e algumas árvores caídas antes de iniciar um trecho de subida mais forte.


Após deixar o trecho da mata, chegamos no início da subida. Vencemos o trecho e logo alcançamos a crista do Cubaio. Os arbustos deram lugar ao capim-de-anta.

Alexandre na crista com o capim-de-anta
 Deste ponto a visão também era muito bonita até onde dava pra enxergar. As nuvens já estavam a caminho, impossibilitando a nossa visão para algumas regiões da cidade. Conseguimos avistar o ''Conjunto do Alcobaça'', algumas montanhas da Serra do Couto, Serra das Araras e ''Conjunto do Retiro''. Antes de prosseguir, mais uma pausa para o lanche. Levei um pão recheado com queijo, presunto e um molho bem saboroso que não conseguia reconhecer. Dividi o pão com o Alexandre e peguei algumas batatinhas com ele. Ele adorou o pão recheado. Era uma delícia mesmo. Com a barriga cheia e bem hidratados, voltamos a trilha. Andamos pela crista repleta de capim-de-anta e utilizamos muito do bom senso nesse trecho. Surgiam calhas de trilha por todos os lados. Ladeamos pela esquerda até atingir um morrinho. Depois do morrinho, entramos num trecho lotado de bromélias. Até no meio da trilha tinha. Passamos com cuidado para preservar o caminho e as plantas também. Ao sair desse trecho, nos deparamos com bambus a nossa frente. Hora de tirar o facão da mochila!


↱ Vale lembrar que: O uso do facão dentro dos limites do Parque Nacional da Serra dos Órgãos  deve ser antecipado a UC com antecedência;

↱ Ao abrir trilha com o facão, tenha certeza de que se encontra na trilha correta. Antes de usar, ande no mínimo 10 metros para avaliar a calha da trilha.

↱ Ao abrir uma trilha paralela, outras pessoas podem acabar seguindo os seus rastros. O resultado é a destruição da flora e a causa de acidente ou pessoas perdidas que seguiram a sua trilha.

↱ Seja consciente, respeite o meio ambiente e as regras da UC que está visitando. Tenha o material adequado para a realizar a atividade. Respeite os seus limites!

Para o nosso alívio, o trecho era curto. Mas deu um bom trabalho para os nossos braços. Saímos da mata e vimos um descampado a nossa frente. A vegetação rasteira era acompanhada de alguns arbustos e uma curiosa laje de pedra solitária. Demos uma boa olhada no local antes de prosseguir. A regra é clara: se sair da mata para um descampado, sempre olhe para trás. Assim não terá surpresas na volta! Alexandre e eu começamos a procurar pelo ponto em que a trilha continuava. Fui para a direita e Alexandre para a esquerda. Ele achou e então seguimos. E lá fomos nós, mais uma vez, caminhando pela mata e tirando os bambus entrelaçados do caminho. Só que sem o facão em punho. Não era necessário. Os bambus estavam secos e era fácil passar por eles. Após revezamentos e um pouco de paciência, chegamos ao mirante do Cubaio, já bem próximo do cume. Sentamos nessa pedra para descansar e avaliamos o tempo que permanecia nublado e ventava demais. Com os nossos olhares atentos a tudo, vimos o óbvio caminho para o cume da montanha. Determinados, pegamos as nossas mochilas e fomos para a reta final.

Trecho final.

Deixamos o mirante pra trás e partimos em direção a crista, seguindo pela direita. Descemos o colo e viramos para a esquerda. Começamos a subir para novamente descer e virar para a esquerda mais uma vez. Faltava muito pouco para chegar ao cume. Mas novamente os bambus apareceram em nosso caminho. E dessa vez não estavam secos e quebradiços. Passamos por eles usando as mãos para abrir caminho e até abaixamos  em algumas partes. Agora, livre dos bambus, vimos as lajes que subiam para a reta final. Mesmo cansados, subimos aos poucos.
Subida para o cume na laje de pedra
 Conforme subíamos, avistamos alguns totens e seguimos nos orientando por eles. Acompanhar os totens foi a escolha certa. Era realmente o caminho mais tranquilo para o cume. Chegamos ao topo e nos cumprimentamos como temos o costume de fazer. Alcançamos o nosso objetivo, mesmo com o atraso logo pela manhã. Ali no cume, olhei para o percurso que realizamos e estava bem orgulhoso. A trilha foi fantástica. Apesar do nosso otimismo, a previsão do tempo não acertou. Mas continuamos no cume, esperando uma mudança repentina. Sentamos e papeamos um pouco durante o lanche. Alimentados e recuperados, começamos a andar pelo cume. Alexandre procurava por bons ângulos e algumas aberturas no tempo para poder fazer suas fotos. Eu olhava os totens e seguia atento ao tempo. Consegui aproveitar uma janela de tempo curta para ver o Morro do Alicate, Pico do Glória e boa parte do Vale do Bonfim lá de cima. Certo tempo depois, o tempo nos permitiu ver o cume do Castelitos. Comentei com o Alexandre sobre a vontade que tinha de ir até lá. Dessa vez não teria como esticar com o tempo nublado e com a hora avançada. A caminhada do dia era para reconhecimento da área. Assim poderíamos avaliar tudo antes de combinar a trilha até aquele cume imponente e pouco frequentado. Ventava demais lá em cima e o frio começava a ficar mais intenso. Os dedos das minhas mãos estavam bem gélidos e duros. Decidi andar por lá a procura de um livro de cume, mas nada achei. O vento estava bem forte e não tínhamos muita proteção a não ser o nosso agasalho. Enquanto eu andava para aquecer, Alexandre olhava tudo e ficava com as mãos no bolso do casaco. Aproveitei para registrar a atmosfera do lugar com alguns vídeos. Fizemos também registros  no cume, para levar de recordação.
Eu no Morro do Cubaio
Alexandre no Morro do Cubaio
 Com as recordações no celular, voltamos a nos sentar perto da vegetação rasteira. Não tinha muita alternativa para escapar do vento. Pegamos isotônicos, batatas, barrinhas de chocolate e o que sobrou do pão recheado. Apesar do tempo nublado e do frio que fazia, resistimos lá para conseguir ver alguma coisa.  Durante o tempo em que conversamos sentados no cume, poucas vezes o tempo colaborou. Mas mesmo assim, nas poucas aberturas de tempo que presenciamos, conseguimos ver alguns encantos do lugar. Uma janela de tempo abriu de forma repentina e nos levantou na mesma hora. Conseguimos ver os paredões da Pedra do Sino e a pontinha do Garrafão. Deu até pra ver os paredões do Pipoca e o cume do Papudo. Ficamos mais animados, mesmo com o vento e o frio nos castigando lá em cima. Ao ver parte do potencial visual daquela montanha, não pensamos em descer em hipótese alguma.  Mas logo o tempo fechou e a névoa voltou a tomar conta. Em questão de minutos, a nossa direita, descortinava-se uma visão fantástica e diferente para algumas montanhas da Serra do Cantagalo: Cantagalo, Triunfo e Santann'a.
Ficamos no cume um pouco mais de 2h enfrentando ventos fortes e frio intenso. Mas decidimos que era hora de voltar. Colocamos as mochilas nas costas e iniciamos o caminho de volta para a portaria. 
Alexandre descendo as lajes na volta.
 Voltamos pela trilha aproveitando o visual que tínhamos a nossa frente. Acima dos 2.000 de altitude a névoa não dava trégua e insistia em permanecer lá. Alexandre fez algumas fotos bem interessantes na volta. O destaque ficou para as montanhas do ''Conjunto do Alcobaça''. Avistamos também a Serra das Araras e algumas montanhas na região do Retiro. A descida foi bem tranquila. A crista repleta de capim-de-anta agora tinha uma atmosfera surreal.
Voltando pela crista com uma bela visão.
 Rapidamente descemos e chegamos ao trecho belo da mata. Respiramos o mais puro ar enquanto recebíamos de presente os cantos mais lindos dos pássaros.
Trecho lindo de mata na volta.
 Faltando pouco para chegar na parte de cima do Véu da Noiva, demos uma olhada no horário. Decidimos fazer mais um tempo ali. A ideia era curtir mais um pouco o visual da Janela do Bonfim.
Alexandre fez algumas fotos. Eu nem tentei. A luz não iria ajudar e eu só tinha o celular como ferramenta. Mas acabei ganhando um registro muito bacana do meu amigo enquanto admirava o lugar.
Na volta, parei para observar.
 Satisfeitos, voltamos para a trilha e chegamos a parte alta da cachoeira. Eu estava um pouco assustado. Enfiei a perna esquerda dentro de uma fenda. Sorte que a largura daquele fenda era a conta para a minha perna ter entrado com uma folga mínima. Verifiquei se estava tudo bem e prosseguimos para a portaria.
Deu até tempo de fazer um registro da Cachoeira das Andorinhas.
Alexandre fazendo seus registros.
 Depois da rápida passada na queda das Andorinhas, fomos para a portaria. Descemos tudo bem rápido. Ao chegar, deixamos os lixos em seus devidos lugares e fomos para o ponto de ônibus. Já no terminal, me despedi de Alexandre e fui pra casa bem feliz. Mesmo sem ver todo o visual, a trilha foi incrível. É ótimo estar nas trilhas de montanha. Sair do conforto é a melhor coisa deste mundo.

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