sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Palmares x Serra das Antas x Monte de Milho/ Serra das Araras

                                                    Caminhando comigo outra vez.

       Com o fim de semana chegando após outra longa semana de trabalho na empresa, comecei a pensar em qual caminhada faria. Também esperava a confirmação do Alexandre Milhorance sobre a sua disponibilidade para o sábado, dia 26/09/2020. Recebi a mensagem do Alexandre informando que ele tinha outro compromisso. Até convidei outras pessoas para ter alguma companhia, mas todos me informaram estar indisponíveis. Acabei entrando em contato com a Associação dos Moradores de Araras para avisar que eu iria realizar a trilha e tinha consciência de levar e trazer os cachorros de volta comigo.

Placa de orientações.

   Desde 2018 eu tinha um enorme interesse em conhecer o Monte de Milho, um lindo pico pontiagudo que fica na borda oeste da Serra das Araras sendo uma trilha exigente apesar de ser curta. O seu acesso é pelo Vale das Limeiras que está situado á noroeste da Serra das Araras e por lá não tem acesso de ônibus por ser uma região distante. Alexandre me relatou sobre aquele lindo lugar com muito Rabo-de-galo nas lajes e o visual incrível das montanhas adjacentes. Disse também que foram até a Serra das Antas, montanha vizinha da Maria Comprida.

Já sabendo que eu teria a minha própria companhia, mandei informações e mapas para minha mãe no Wpp. Ela nunca gosta que eu vá sozinho e eu entendia perfeitamente. Me preparei, deixei tudo arrumado e fui dormir. Acordei ás 05h00 da manhã, me arrumei e peguei o ônibus do bairro. Já na entrada do Carangola aguardei a passagem do 700(Itaipava) que não demorou e cheguei ao terminal de Corrêas por volta das 06h00. Lá comprei um gatorade sabor laranja e tomei um café pingado enquanto aguardava o 610(Araras). 

Ao olhar com mais atenção para a plataforma naquela manhã tranquila, avistei o 622(Santa Luzia) que sairia as 06h15. Não perdi tempo e embarquei. Sentei na janela e soltei a minha playlist de músicas Indie até chegar no local de acesso para o Palmares.

                                                                    Malta. 

 Por volta das 06h45 cheguei a localidade de Santa Catarina, na base da montanha. Ao desembarcar, um senhor começou a papear comigo sobre a região e me contou o que fazia quando jovem. Ficamos por 10 minutos batendo papo com a máscara no rosto e então fui a padaria para comprar mais algumas coisas. Por estar atento a previsão e tendo conhecimento da temperatura prevista para o dia, levei 4,5L de água e comprei outro isotônico para complementar. Ao seguir para a rua de acesso, me deparei com um grupo relativamente grande de pessoas com roupas e tênis bem esportivos. Não pensei duas vezes e após desejar um bom dia a todos, disparei na frente deles. Chegando no portão de acesso, ouvi alguns latidos e de repente estava cercado por dois cachorros e duas cadelas. Passei pelo portão, fechei  e segui caminho. Os cachorros sumiram e só restaram ás simpáticas cadelas. Olhei o relógio e já marcava 07h10. Peguei duas garrafinhas, coloquei uma em cada bolso da calça e segui trilha acima me hidratando aos poucos. O caminho seguia pela bela mata muito bem definido passando por muitos riachos onde coletei água para preencher meus recipientes. Ao sair dessa primeira parte da subida nos deparamos com um colo onde há um reservatório de água. Decidi que a hora de lanchar tinha chegado. Dividi meu bolo de cenoura com cobertura de chocolate com as simpáticas cadelas antes de prosseguir para a crista que da acesso ao primeiro cume da caminhada.

Cadelas simpáticas.

Crista do Palmares.

Já recuperado com a breve pausa para o lanche, segui na trilha mantendo um bom ritmo. Notei a presença de algumas nuvens na região. A maior parte delas envolvendo a Serra das Antas e Maria Comprida. Continuei a caminhar parando bem pouco, aproveitando a companhia das cadelas. O visual estava muito bom e eu parei para fazer um registro antes de prosseguir. Peguei o celular e fiz uma foto da Pedra Comprida de Araras(CEP70). 

CEP70 visto da trilha do Palmares.

Guardei o celular no bolso e continuei a subir pela crista arbustiva da crista com a calha que apontava para todos os lados e que levava ao mesmo lugar praticamente. As cadelas seguiam a todo vapor e me deixavam comendo poeira. Por volta das 07h45 parei para apreciar a montanha imponente que dominava a paisagem á esquerda. Essa montanha é o cume Sudoeste da Serra das Antas. Estive lá em 2017 e desde então não retornei. Apreciei e senti uma boa sensação ao lembrar do momentos vividos naquele dia. Não deixei passar em branco e fiz um registro enquanto curtia minha nostalgia.

Cume Sudoeste da Serra das Antas.

Andando mais um pouco cheguei a parte das lajes da subida tranquila da crista e o cume estava bem próximo. A crista começou a ficar estreita e rochosa. 

Crista estreita e rochosa que dá acesso ao Palmares.

Nada que eu não soubesse. Há duas semanas fiz o Palmares X Morro Careca( Pedra Azul). Nesse dia tive a companhia do Renan Machado e da Luana. Foi um dia muito divertido e especialmente por ter a oportunidade de apresentar essas duas montanhas a eles. Voltando a trilha, passei com cautela para o trecho exposto. Venci com cuidado e achei que as cadelas não conseguiriam passar. Fiquei preocupado e pensativo se iria ou não prosseguir com o plano. Não me agradava a ideia de seguir a trilha deixando elas por conta própria para voltar. Quando atingi a crista do outro lado, fiquei surpreso ao ver que elas chegaram pela mata. Me senti aliviado e segui para o cume do Palmares. De lá, olhei a  vista parcial da Maria Comprida. Do cume do Palmares, seguindo a calha, surge discretamente á direita o rastro da trilha para o Morro Careca. Descendo a esquerda até uma pedra, é o caminho para a Serra das Antas. Tomei água, isotônico e dividi o que sobrou do bolo e um salgado com as cadelas. Também compartilhei a água em outro recipiente. Uns 15 minutos depois as cadelas me abandonaram e foram ao encontro do grupo que deixei pra trás. Quando me levantei e fiquei visível ouvi algumas exclamações com tom de surpresa. Arrumei tudo e segui descendo a trilha até pegar a descida das lajes do Palmares. Com cuidado, venci os trechos e usei uma árvore seca como referência. 

Palmares a partir do início da trilha da Serra das Antas.

 A trilha segue pela mata e logo surge uma bifurcação á direita. Notei que era uma boa descida. Continuei caminhando e tomando água o tempo todo. Logo a trilha começa a subir passando por um lindo trecho repleto de bromélias com a trilha bem definida. Foi neste trecho que registrei uma bela orquídea.
Orquídea.

Bastante animado e com um ritmo bom, continuei a subir apreciando cada detalhe do caminho. Apesar de estar bem adiantado, já sentia um pouco do calor. Uma prévia do que me aguardava durante a caminhada. Tive a sorte de ver uma linda bromélia e não deixei passar em branco.

Bromélia.

Numa parada para descansar um pouco, aproveitei para fazer um registro do Palmares de um ângulo interessante que já fazia a caminhada valer muito a pena. 

Belo ângulo do Palmares com o CEP70 ao fundo.

Novamente segui caminho com a mata arbustiva acompanhada da mata de altitude. O sol agora já estava mais presente e eu exposto. Continuei seguindo a trilha bem definida aproveitando todo aquele visual que tinha ao meu redor. Era encantador apreciar as montanhas ao redor de forma inédita.

A caminho da Serra das Antas.

Continuando a caminhar pela mata de altitude e seguindo a trilha bem visível parei para dar uma boa olhada e focar o olhar pra fazer um registro da região em que me encontrava. Até que não foi uma tarefa difícil de se fazer. A trilha começa a descer um pouco num trecho descampado com vegetação rasteira que logo dá lugar ao que parece mais um ''tapetão'' de tão fofo que era.

''Tapetão''.

 A trilha segue por esse ''tapetão'' e sem muito aviso vira á direita até chegar em outro trecho idêntico ao anterior. Neste ponto a trilha segue descendo á esquerda em meio a vegetação. Descida bem curta até chegar num ponto com um tronco caído e água. Por estar abastecido e analisar aquela fonte d'água parada, optei por não pegar e segui a trilha subindo á esquerda. Ao final do rastro surge um lajão com algumas bromélias na lateral.

Trecho de laje.

A partir da laje segui subindo pela direita e depois cruzei a laje seguindo para o lado oposto. Aproveitei para dar uma respirada e fazer um registro do local. A beleza cênica era impressionante e o cume Sudoeste da Serra das Antas muito bonito visto dali.  O CEP70  também aparecia ao longe para enriquecer a paisagem.

Cume Sudoeste da Serra das Antas em destaque.

Voltei a andar passando pelo platô seguindo para á esquerda. A laje estava um pouco molhada em alguns trechos. Dei uma boa avaliada e cheguei a conclusão de que qualquer descuido eu rolaria e poderia me machucar feio. Com cuidado aproveitei a aderência dos pontos mais secos e consegui passar para o platô que ficava ao lado com a trilha acima, seguindo á esquerda. A trilha permanecia bem definida e como em alguns outros trechos surgiam algumas entradas curtas que não davam em lugar algum. Logo a vegetação de altitude começa a predominar e permite caminhar com visual amplo alternando trechos de trilha e algumas lajes. Pouco se sobe depois das lajes. E nem se percebe que sobe, pois essa parte final é suave e já começa a dar a tão merecida recompensa. Outra parada para hidratar e aproveitei para um novo registro.

Vegetação de altitude.

Ao ganhar mais um pouco de elevação, talvez algo em torno de 70 metros já é possível ver a mudança radical do lugar com vista mais ampla.

Incrível vista para Serra do Couto e Serra das Araras.

Com o calor da manhã ganhando força e a temperatura aumentando gradativamente, andei saboreando a minha própria companhia pela trilha até perceber algumas curvas que me jogavam da esquerda para a direita até chegar ao cume da Serra das Antas. Olhei o horário e fiquei bem animado. Ás 09h48 lá estava, comemorando como se tivesse feito um gol aos 49 do segundo tempo, levando a torcida a loucura. O sentimento de realização era engrandecido por estar em minha própria companhia. O momento mais marcante é quando uma nuvem insistente começa a se desfazer e a Maria Comprida se apresenta de forma magnífica a minha frente. Esse foi um momento marcante e emocionante.

Nuvens encobrindo parcialmente o cume da Maria Comprida.

 No cume propriamente dito havia algumas pedras que pensei ser o totem. Ao me aproximar, me deparo com os restos de uma fogueira.

Resto de fogueira.

No cume dei uma boa olhada em duas bifurcações que surgiam do lado esquerdo. Uma ia para a direita, levando em direção a crista que sai na Via Ferrata(Acesso para a Maria Comprida) e a outra, um pouco atrás, seguindo para o lado oposto. Já sabia que ali seria o próximo destino. Aproveitei e desci até o mirante próximo ao cume, peguei um salgado e o isotônico para lanchar enquanto lia o livro de cume. Fiz uma foto da Maria Comprida, que agora aparecia com mais destaque.

Imponente Maria Comprida.

Aproveitei bastante o mirante e a paz da montanha para ler os relatos dos outros montanhistas e suas experiências por lá. Após ler muitos relatos, assinei o livro e terminei meu lanche.

Livro de cume.

Com muito ânimo e feliz por ter conseguido ir bem até a Serra das Antas, embalei o livro devidamente e o guardei com todo cuidado. Coloquei ele na marmita e novamente fechei o totem.


Totem da Serra das Antas.

Ao consultar o horário, o relógio marcava 10h20. Hora de partir...

Serra das Antas x Monte de Milho.

A temperatura aumentava gradativamente e o consumo de água era constante. Desci seguindo a trilha me orientando por alguns poucos totens e vi algumas fitas presas aos arbustos mais altos. Me concentrei na direção para me orientar e ficava bastante ligado nas marcas de desgaste das lajes de pedra que deixam um rastro esbranquiçado por conta da exposição de pequenos cristais na rocha. Reparei também que havia setas feitas na rocha. Parei para fazer um registro da laje e de algumas bromélias por lá.

Descida por lajes a caminho do Monte de Milho.


Conforme seguia descendo pelas lajes, o caminho ficava um pouco mais exigente e exigia atenção. Escorria um filete d'água pela rocha e num determinado ponto atravessei para o lado oposto da laje molhada para a esquerda. Foi daí que vi o incrível Monte de Milho e a sua bela crista. Aproveitei para registrar e depois segui por trechos que alternavam entre trilha, lajes e uns blocos de pedra que eram facilmente vencidos com atenção.

Laje com bromélias e o Monte de Milho.

Ao abandonar a exposição do terreno aberto e entrar na mata, dei outra respirada. Apreciei aquele momento e novamente voltei ao movimento. A descida era muito bem definida e oferecia sombra. Nessa altura do campeonato já ajudava bastante. Em alguns pontos dava pra observar o paredão da Serra das Antas tomando forma bem ao lado. A Maria Comprida também começava a revelar um ângulo bem diferente e bonito de se observar.

Paredões rochosos na descida da trilha para o Monte de Milho.

Mais motivado do que nunca, cheguei rapidamente a crista que levava ao Monte de Milho. Segui admirando o visual ao meu redor e fiquei encantado com o visual pontiagudo da montanha a partir de um trecho de rocha na lateral da crista.

Formato pontiagudo do Monte de Milho a partir da crista.

 O caminho na crista era agradável com a trilha indefinida em alguns trechos. Surgiam algumas lajes e a montanha parecia cada vez mais perto. O coração acelerado, o vento soprando o rosto, o canto dos pássaros ao redor faziam o ambiente mágico. As bromélias davam um charme especial a crista e o Rabo-de-Galo fechava com chave de ouro na reta final para o cume.

Rabo-de-Galo.

Cheguei na reta final com todo o gás e muita empolgação. Faltando pouco para o cume, fui com muita sede ao pote e senti o indício de uma câimbra. Parei a tempo e fiz uma massagem rápida na região. Respirei fundo, controlei a ansiedade, agradeci ao Criador e então cheguei. Ás 11h07 daquela manhã ensolarada alcancei o objetivo. Foi inexplicável a sensação e os olhos ficaram cheios ''d'água''. Eu senti arrepios no corpo, me senti vivo e feliz por ter feito num tempo que considerei muito bom. Fiz do Malta até o Monte de Milho em 04h07 contando com as paradas. Apreciei a vista e não perdi tempo para registrar o visual dali.

Maria Comprida a partir do Monte de Milho.

Quando deixei a mochila na sombra, fiz uma ligação para avisar minha mãe que havia chegado ao destino e que começaria a retornar por volta de 12h00. Fui até o totem onde o livro fica e então tive a surpresa quando abri a urna. O livro não estava lá.

Urna do Monte de Milho vazia.

Comecei a guardar a urna e a envolvi nas precárias embalagens plásticas que restavam. Peguei meu isotônico e fiquei ali curtindo a montanha e o visual do lugar. Aproveitei para dar um descanso as pernas e apenas apreciei o lugar. Por não ter automóvel, eu não tinha ideia de quando faria esta magnífica montanha já que seu acesso é por Secretário em uma região distante e sem ônibus.

Acabei iniciando o caminho de volta ás 11h40. Apesar de ter levado bastante água, o que eu tinha agora teria que ser racionado até chegar na trilha do Palmares. Sobrou apenas 500ml. A tentação de beber tudo passava no pensamento a todo instante. Mas eu estava focado em fazer aquilo render o máximo que pudesse. Por volta de 12h30 eu estava quase chegando ao trecho das lajes para voltar a Serra das Antas. Ao chegar nas lajes, senti o corpo cobrar a reposição de água. Aproveitei para respirar e acabei me deparando com belos lírios.

Lírios e Rabo-de-Galo nas lajes da Serra das Antas.

Quando fui bicar a garrafa, senti que estava quente. De forma completamente irracional eu acabei molhando a nuca e o rosto. E lá se foi  a minha água. Quando me dei conta e olhei na mochila, todos os recipientes estavam vazios e percebi que havia feito borrada mesmo estando focado na quantidade limitada. Aproximadamente ás 12h40 eu cheguei a Serra das Antas e relatei a ida ao Monte de Milho.
Para finalizar a bateria do meu celular estava prestes a acabar e fiz a última foto do dia. E não podia ser nada mais, nada menos do que a majestosa Maria Comprida.

Ângulo incrível da Maria Comprida.

Voltei a andar por volta das 13h15 com calor sufocante. O lado positivo é que até as lajes do Palmares eu iria tranquilo. Bom, isso foi o que eu pensei. Conforme a hora passava e eu não tomava um gole d'água, o cansaço aumentava aos poucos, sabotando meu ritmo consideravelmente. Quando me sentei pra descansar, quase chegando ao Palmares, fiquei pensando na minha situação: Sem água, sem comida e sem bateria no celular. Foquei nisto e continuei com muita atenção e desacelerei. Só voltei a acelerar quando passei pelo trecho exposto do Palmares. Desci a todo vapor até entrar na bifurcação que leva a trilha da Pedra Comprida de Araras onde a água do riacho fluía bem. Tomei água aos poucos e fui me sentindo melhor. Ao passar pelo portão de acesso, perguntei ao morador sobre ás horas. Fique surpreso quando ele disse que eram 15h30. Me despedi dele e então comemorei bastante. A volta durou 04h23. A ida 04h07. No total deu 08h30 de caminhada(ida-e-volta). Fiquei satisfeito com o resultado e então me dirigi até a choperia do Malta. Pedi dois hambúrguer's e uma torre de 2,5L de cerveja para comemorar. No fim das contas faltou tomar os 500ml que sobrou...
Satisfeito, aguardei o ônibus para voltar ao terminal de Corrêas. Inexplicavelmente o 602(Vale das Videiras) passou e então curti o caminho de volta. Foi a conta para pegar o 615(Vale do Carangola) e ir pra casa realizado depois de um dia incrível nas montanhas.