O
Cabeça de Negro está situado na Serra da Estrela e eleva-se a 1.113 metros de
altitude acima do nível do mar. A montanha também é conhecida pelos nomes de
Cabeça de Frade e Pedra da Tocaia Grande. Essa montanha foi retratada em muitas
obras. Umas delas é do pintor alemão Rugendas durante a expedição do barão Von
Langsdorff ao Brasil em meados de 1821. No período colonial o ‘’Caminho Real’’
que passava próximo a base da montanha era um atalho importante utilizado pela
Coroa para chegar em Minas Gerais a partir do Rio de Janeiro. Situada na Serra
Velha e fazendo parte das montanhas da Serra da Estrela e pertencendo a Serra
dos Órgãos, esta montanha chama a atenção de quem sobe ou desce a antiga
estrada que ligava Petrópolis ao Rio de Janeiro passando pelo distrito de Magé.
As paredes desta montanha alternam cores amareladas e alaranjadas de granito bem
sólido.O nível de caminhada desta trilha é considerado leve-superior tendo a
sua duração de caminhada entre 01h30 à 02h00. A trilha tem início no Lopes
trovão em Petrópolis, passando pelo antigo caminho do trem na Serra Velha. A
maior parte da trilha é feita em meio a Mata Atlântica com a linha da trilha
repleta de raízes, leitos de riacho seco e pequenos riachos, degraus de pedras
e vegetação seca no solo. É recomendável ir com um montanhista responsável e
que conheça o local pois surgem algumas bifurcações durante a trilha. Além dos
caçadores que frequentam a região, existe uma trilha que contorna a montanha
para dar acesso a Agulha Inhomirim e para a Agulha das Estrelas( Pedra da
Foca). Para os que curtem uma boa caminhada dentro da mata essa trilha é ideal
por sua rica biodiversidade. Com sorte podemos observar tatus, macacos, muitas
espécies de aves e bromélias. De seu cume é possível ver o Castelinho, Pedra do
Lagoinha e algumas montanhas da Travessia Cobiçado-Ventania de um ângulo
impressionante. Além dessas, vale mencionar a Pedra Redonda, Cortiço, Morro dos
Macacos e Dois Irmãos de Pau Grande. Também é possível ver a Bahia de Guanabara
e toda a Baixada Fluminense. A melhor estação para se fazer escaladas ou
caminhadas em montanhas é no inverno. No verão também é possível realizar esta
trilha. Mas esteja preparado para as tempestades fortes e repentinas do verão e
das temperaturas que podem atingir os 40°C.
Seguimos até a entrada da rua após essa placa, descendo à esquerda. Aproveitei
para fazer um registro do local com a mistura da mata, das casas e da Pedra do
Cortiço. O local onde a foto foi feita é histórico.Pedra do Cortiço à direita. |
Foi exatamente na ponte em que existia a linha
férrea onde o trem passava. A estação em Petrópolis foi inaugurada em 1883 e
reformada sendo utilizada como estação rodoviária. Em 5 de Novembro de 1964 ela
foi desativada.
Enquanto
caminhava por aquele belo trecho e conversava com o Renan, notei que aquela
estrutura era bem alta e um riacho passava por debaixo dela, com a água
escorrendo pelas pedras. Seguimos descendo até sair desse trecho e pegar uma
rua em péssimo estado. Surge uma casa dividindo duas bifurcações. Continuamos
pela esquerda passando ao lado de uma casa com um muro em construção e uma rua
que alternava terra e entulho até ficar somente com a terra, mato e os postes.
Ao lado esquerdo apareciam algumas entradas de trilha de tempo em tempo. Meu
companheiro de trilha me contava da sua primeira vez naquele lugar. Imaginei a
canseira que deu ficar entrando e saindo de trilha até chegar na correta.
Um longo tempo descendo e então surge uma entradinha discreta à esquerda, bem
ao lado de um poste.
Entrada da trilha. |
Hora de caminhar.
Renan Machado na trilha. |
Estava
testando a bota que comprei na prática para ver se ela iria me decepcionar ou
não. O resultado foi incrível. Eu comprei uma bota da Snake, modelo BloxIII Dry
na cor verde. O investimento valeu a pena. Apesar de ser robusta, o calçado era
leve, confortável e impermeável.
Foi
nesta parte da trilha que escutei o Renan me alertar de uma bela aranha que
atravessou o nosso caminho. Ela saiu da
mata e de forma inexplicável, parou justamente no nosso caminho. Era uma
caranguejeira das grandes, bem peluda e com longas patas e um abdômen bem
definido. Aranha-Caranguejeira.
Ela
era preta com pelos brancos nas pernas e com pelos num tom de marrom amadeirado. Acho que este
espécime macho queria deixar o recado de que a casa era dele e nós éramos os
invasores. Admiramos o belo animal antes de prosseguir. Respeitamos o seu
espaço e evitamos qualquer tipo de contato. Infelizmente existem pessoas que
matam estes animais em seu ambiente seja por ignorância, medo ou por pura
maldade. Às aranhas-caranguejeiras não são tão perigosas quanto outras espécies
de aranha. Seu veneno não é mortal para nós. A picada é dolorosa e causa alguns sintomas incômodos. Elas tem hábitos noturnos e sedentários. Os machos
são vistos apenas no período de reprodução e procuram por fêmeas. Eles
geralmente são encontrados no solo onde fazem seus ninhos em buracos e nos troncos de árvores caídas.
Existem também espécies que vivem em árvores e nas bromélias. NÃO MATEM OS
ANIMAIS, NÃO OS ALIMENTE E NÃO SE ARRISQUEM DESNECESSARIAMENTE!!!
Com o fôlego recuperado e bem animados com a
surpresa inesperada avançamos por um tempo até a trilha seguir para o lado
direito eaté começar a descer. Logo mais a trilha chega numa outra descida com a subida do
outro lado, numa espécie de transição. Entre esta descida e a subida tem um
leito de riacho seco e o inconfundível barulho da água correndo mata adentro,
cortando caminho pelas pedras e seguindo seu curso natural. Chegamos ao riacho após subir ladeando a
trilha bem estreita até virar a direita. Ali certamente era um ótimo local para
descansar. Renan abasteceu sua garrafinha de água e papeamos um pouco antes de
voltarmos ao caminho. |
Riacho que separa a trilha.
No retorno da caminhada Renan quis me mostrar a parte de cima do
pequeno riacho onde tem uma pequena queda e um poço.
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Borracha para captação de água. Novamente voltamos a trilha com o sol tocando o verde da mata atlântica com mais intensidade. O caminho continuava a subir bem leve até chegar num trecho relativamente plano e passar por uma valeta . A trilha volta a subir e passamos num trecho com bambus ao lado da trilha e ao fim dessa subida, surge mais uma bifurcação. À esquerda segue para a trilha que dá acesso a Agulha Inhomirim e também a Pedra da Foca ou Agulha das Estrelas. À direita leva em direção ao topo do Cabeça de Negro. Continuamos seguindo a trilha passando por outro trecho com bambus e com folhas secas no solo. Novamente surge uma entrada a direita e a trilha segue em frente. |
Bela bromélia. |
Quase
na hora do lanche...
Quartzo. Apesar de ser bem amplo e vegetativo, dava pra ter uma visão magnífica da serra velha e da Pedra do Cortiço logo a frente. Ao olhar para trás, vi o Castelinho, Torres do Morín, Pico dos Vândalos, Pedra do Diabo e a Pedra do Inferno de um ângulo totalmente encantador. |
Visual para as montanhas da parte alta da Serra da Estrela. Fui com o Renan até um mirante para observar os paredões da montanha e aproveitei para curtir as montanhas da cidade que apareciam no horizonte. |
Algumas das nossas montanhas. |
Paredão da montanha. Depois retornamos para a parte mais alta do ombro e dei uma boa olhada nas montanhas que via dali: Rolador, Morro dos Macacos, Ovo de Colombo entre outras. O dia estava maravilhoso e o céu permanecia com o azul dominando grande parte. |
Montanhas da Serra da Estrela.
Aproveitei a carona e também pedi para o Renan fazer um registro
meu naquele lugar para guardar a recordação. Fiquei agachado para não
interferir tanto na paisagem.
|
Tapera, Pedra do Lagoinha e montanhas da Cobiçado-Ventania. Levei café, biscoito doce de morango e pães recheados. Tive a infelicidade de esquecer a caçarola que comprei em casa. Então aproveitei para me deliciar com o lanche e aproveitar a maravilhosa visão daquele lugar. |
Hora do lanche!!! Renan e eu ficamos papeando por um tempo e depois de ajeitar a mochila e sacudir a poeira, voltamos para pegar a trilha até o cume, que agora estava bem mais próximo. |
Rumo ao topo.
Agulha Itacalomi e Pedra Mãe em destaque. |
Lanchei
no cume para reforçar o corpo e voltei a papear com o Renan. A temperatura
começava a aumentar devagar e o vento refrescava ao bater no rosto. Depois do
descanso demos uma volta pela área e tentamos registrar a Agulha Inhomirim.
Observamos a Baixada Fluminense e a Bahia de Guanabara.
Cume da Agulha Inhomirim. |
Visual do mirante. |
Muito verde e belos picos dessa região rica em biodiversidade. |
Mata Atlântica. |
Ficamos por um bom tempo no
mirante aproveitando o belo visual que se descortinava para nós. Só depois de
um bom tempo que reparei numa flor que estava atrás do Renan. E era muito
bonita. Tive que fazer um registro.
Bela cor para uma flor. |
Antes de pegar o caminho de volta
para descer a trilha, fiz um registro nosso por lá.
Boinas da montanha. Renan no café. |
Por
volta de 13h30 decidimos descer. A volta foi bem tranquila. Batemos papo,
fizemos alguns registros e catamos o que foi possível de lixo na trilha.
Renan no fim da trilha com a sacola de lixo. SEMPRE LEVE O SEU LIXO DE VOLTA . E RETIRE DA TRILHA TODO LIXO QUE FOR POSSÍVEL SEMPRE!!! |
Já
na rua de acesso próximo a ponte onde o trem passava havia uma aglomeração de
pessoas ouvindo música e fazendo churrasco. Ninguém de máscara ou com semblante
de preocupação. E essa não foi a única cena inusitada do dia...
Pela
manhã eu não percebi a quantidade absurda de lixo e entulho despejados na mata
em direção ao riacho. Uma enorme falta de educação e um desrespeito enorme com
a natureza. Infelizmente em nosso país estamos longe de ter um bom governo, uma
boa estrutura para a educação, saúde,infra-estrutura e saneamento básico se o
próprio povo joga fora a responsabilidade que tem nas mãos. Gostam muito é de
jogar a culpa nos políticos e esquecem que é do povo que emana o poder. Mas
além do poder, poderia emanar mais educação, conscientização e respeito a
natureza. Apesar disso o dia foi ótimo e o ônibus não demorou a passar. Foi um
piscar de olhos e já estávamos no centro da cidade. Me despedi do Renan nas
proximidades da rodoviária velha e aguardei o meu ônibus por 20 minutos. Fui pra
casa ouvindo um som bem relaxante. Já em casa tomei banho e revisei o material.
Pretendo ter a oportunidade e o privilégio de retornar a este lugar maravilhoso
outra vez.
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