sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Palmares x Serra das Antas x Monte de Milho/ Serra das Araras

                                                    Caminhando comigo outra vez.

       Com o fim de semana chegando após outra longa semana de trabalho na empresa, comecei a pensar em qual caminhada faria. Também esperava a confirmação do Alexandre Milhorance sobre a sua disponibilidade para o sábado, dia 26/09/2020. Recebi a mensagem do Alexandre informando que ele tinha outro compromisso. Até convidei outras pessoas para ter alguma companhia, mas todos me informaram estar indisponíveis. Acabei entrando em contato com a Associação dos Moradores de Araras para avisar que eu iria realizar a trilha e tinha consciência de levar e trazer os cachorros de volta comigo.

Placa de orientações.

   Desde 2018 eu tinha um enorme interesse em conhecer o Monte de Milho, um lindo pico pontiagudo que fica na borda oeste da Serra das Araras sendo uma trilha exigente apesar de ser curta. O seu acesso é pelo Vale das Limeiras que está situado á noroeste da Serra das Araras e por lá não tem acesso de ônibus por ser uma região distante. Alexandre me relatou sobre aquele lindo lugar com muito Rabo-de-galo nas lajes e o visual incrível das montanhas adjacentes. Disse também que foram até a Serra das Antas, montanha vizinha da Maria Comprida.

Já sabendo que eu teria a minha própria companhia, mandei informações e mapas para minha mãe no Wpp. Ela nunca gosta que eu vá sozinho e eu entendia perfeitamente. Me preparei, deixei tudo arrumado e fui dormir. Acordei ás 05h00 da manhã, me arrumei e peguei o ônibus do bairro. Já na entrada do Carangola aguardei a passagem do 700(Itaipava) que não demorou e cheguei ao terminal de Corrêas por volta das 06h00. Lá comprei um gatorade sabor laranja e tomei um café pingado enquanto aguardava o 610(Araras). 

Ao olhar com mais atenção para a plataforma naquela manhã tranquila, avistei o 622(Santa Luzia) que sairia as 06h15. Não perdi tempo e embarquei. Sentei na janela e soltei a minha playlist de músicas Indie até chegar no local de acesso para o Palmares.

                                                                    Malta. 

 Por volta das 06h45 cheguei a localidade de Santa Catarina, na base da montanha. Ao desembarcar, um senhor começou a papear comigo sobre a região e me contou o que fazia quando jovem. Ficamos por 10 minutos batendo papo com a máscara no rosto e então fui a padaria para comprar mais algumas coisas. Por estar atento a previsão e tendo conhecimento da temperatura prevista para o dia, levei 4,5L de água e comprei outro isotônico para complementar. Ao seguir para a rua de acesso, me deparei com um grupo relativamente grande de pessoas com roupas e tênis bem esportivos. Não pensei duas vezes e após desejar um bom dia a todos, disparei na frente deles. Chegando no portão de acesso, ouvi alguns latidos e de repente estava cercado por dois cachorros e duas cadelas. Passei pelo portão, fechei  e segui caminho. Os cachorros sumiram e só restaram ás simpáticas cadelas. Olhei o relógio e já marcava 07h10. Peguei duas garrafinhas, coloquei uma em cada bolso da calça e segui trilha acima me hidratando aos poucos. O caminho seguia pela bela mata muito bem definido passando por muitos riachos onde coletei água para preencher meus recipientes. Ao sair dessa primeira parte da subida nos deparamos com um colo onde há um reservatório de água. Decidi que a hora de lanchar tinha chegado. Dividi meu bolo de cenoura com cobertura de chocolate com as simpáticas cadelas antes de prosseguir para a crista que da acesso ao primeiro cume da caminhada.

Cadelas simpáticas.

Crista do Palmares.

Já recuperado com a breve pausa para o lanche, segui na trilha mantendo um bom ritmo. Notei a presença de algumas nuvens na região. A maior parte delas envolvendo a Serra das Antas e Maria Comprida. Continuei a caminhar parando bem pouco, aproveitando a companhia das cadelas. O visual estava muito bom e eu parei para fazer um registro antes de prosseguir. Peguei o celular e fiz uma foto da Pedra Comprida de Araras(CEP70). 

CEP70 visto da trilha do Palmares.

Guardei o celular no bolso e continuei a subir pela crista arbustiva da crista com a calha que apontava para todos os lados e que levava ao mesmo lugar praticamente. As cadelas seguiam a todo vapor e me deixavam comendo poeira. Por volta das 07h45 parei para apreciar a montanha imponente que dominava a paisagem á esquerda. Essa montanha é o cume Sudoeste da Serra das Antas. Estive lá em 2017 e desde então não retornei. Apreciei e senti uma boa sensação ao lembrar do momentos vividos naquele dia. Não deixei passar em branco e fiz um registro enquanto curtia minha nostalgia.

Cume Sudoeste da Serra das Antas.

Andando mais um pouco cheguei a parte das lajes da subida tranquila da crista e o cume estava bem próximo. A crista começou a ficar estreita e rochosa. 

Crista estreita e rochosa que dá acesso ao Palmares.

Nada que eu não soubesse. Há duas semanas fiz o Palmares X Morro Careca( Pedra Azul). Nesse dia tive a companhia do Renan Machado e da Luana. Foi um dia muito divertido e especialmente por ter a oportunidade de apresentar essas duas montanhas a eles. Voltando a trilha, passei com cautela para o trecho exposto. Venci com cuidado e achei que as cadelas não conseguiriam passar. Fiquei preocupado e pensativo se iria ou não prosseguir com o plano. Não me agradava a ideia de seguir a trilha deixando elas por conta própria para voltar. Quando atingi a crista do outro lado, fiquei surpreso ao ver que elas chegaram pela mata. Me senti aliviado e segui para o cume do Palmares. De lá, olhei a  vista parcial da Maria Comprida. Do cume do Palmares, seguindo a calha, surge discretamente á direita o rastro da trilha para o Morro Careca. Descendo a esquerda até uma pedra, é o caminho para a Serra das Antas. Tomei água, isotônico e dividi o que sobrou do bolo e um salgado com as cadelas. Também compartilhei a água em outro recipiente. Uns 15 minutos depois as cadelas me abandonaram e foram ao encontro do grupo que deixei pra trás. Quando me levantei e fiquei visível ouvi algumas exclamações com tom de surpresa. Arrumei tudo e segui descendo a trilha até pegar a descida das lajes do Palmares. Com cuidado, venci os trechos e usei uma árvore seca como referência. 

Palmares a partir do início da trilha da Serra das Antas.

 A trilha segue pela mata e logo surge uma bifurcação á direita. Notei que era uma boa descida. Continuei caminhando e tomando água o tempo todo. Logo a trilha começa a subir passando por um lindo trecho repleto de bromélias com a trilha bem definida. Foi neste trecho que registrei uma bela orquídea.
Orquídea.

Bastante animado e com um ritmo bom, continuei a subir apreciando cada detalhe do caminho. Apesar de estar bem adiantado, já sentia um pouco do calor. Uma prévia do que me aguardava durante a caminhada. Tive a sorte de ver uma linda bromélia e não deixei passar em branco.

Bromélia.

Numa parada para descansar um pouco, aproveitei para fazer um registro do Palmares de um ângulo interessante que já fazia a caminhada valer muito a pena. 

Belo ângulo do Palmares com o CEP70 ao fundo.

Novamente segui caminho com a mata arbustiva acompanhada da mata de altitude. O sol agora já estava mais presente e eu exposto. Continuei seguindo a trilha bem definida aproveitando todo aquele visual que tinha ao meu redor. Era encantador apreciar as montanhas ao redor de forma inédita.

A caminho da Serra das Antas.

Continuando a caminhar pela mata de altitude e seguindo a trilha bem visível parei para dar uma boa olhada e focar o olhar pra fazer um registro da região em que me encontrava. Até que não foi uma tarefa difícil de se fazer. A trilha começa a descer um pouco num trecho descampado com vegetação rasteira que logo dá lugar ao que parece mais um ''tapetão'' de tão fofo que era.

''Tapetão''.

 A trilha segue por esse ''tapetão'' e sem muito aviso vira á direita até chegar em outro trecho idêntico ao anterior. Neste ponto a trilha segue descendo á esquerda em meio a vegetação. Descida bem curta até chegar num ponto com um tronco caído e água. Por estar abastecido e analisar aquela fonte d'água parada, optei por não pegar e segui a trilha subindo á esquerda. Ao final do rastro surge um lajão com algumas bromélias na lateral.

Trecho de laje.

A partir da laje segui subindo pela direita e depois cruzei a laje seguindo para o lado oposto. Aproveitei para dar uma respirada e fazer um registro do local. A beleza cênica era impressionante e o cume Sudoeste da Serra das Antas muito bonito visto dali.  O CEP70  também aparecia ao longe para enriquecer a paisagem.

Cume Sudoeste da Serra das Antas em destaque.

Voltei a andar passando pelo platô seguindo para á esquerda. A laje estava um pouco molhada em alguns trechos. Dei uma boa avaliada e cheguei a conclusão de que qualquer descuido eu rolaria e poderia me machucar feio. Com cuidado aproveitei a aderência dos pontos mais secos e consegui passar para o platô que ficava ao lado com a trilha acima, seguindo á esquerda. A trilha permanecia bem definida e como em alguns outros trechos surgiam algumas entradas curtas que não davam em lugar algum. Logo a vegetação de altitude começa a predominar e permite caminhar com visual amplo alternando trechos de trilha e algumas lajes. Pouco se sobe depois das lajes. E nem se percebe que sobe, pois essa parte final é suave e já começa a dar a tão merecida recompensa. Outra parada para hidratar e aproveitei para um novo registro.

Vegetação de altitude.

Ao ganhar mais um pouco de elevação, talvez algo em torno de 70 metros já é possível ver a mudança radical do lugar com vista mais ampla.

Incrível vista para Serra do Couto e Serra das Araras.

Com o calor da manhã ganhando força e a temperatura aumentando gradativamente, andei saboreando a minha própria companhia pela trilha até perceber algumas curvas que me jogavam da esquerda para a direita até chegar ao cume da Serra das Antas. Olhei o horário e fiquei bem animado. Ás 09h48 lá estava, comemorando como se tivesse feito um gol aos 49 do segundo tempo, levando a torcida a loucura. O sentimento de realização era engrandecido por estar em minha própria companhia. O momento mais marcante é quando uma nuvem insistente começa a se desfazer e a Maria Comprida se apresenta de forma magnífica a minha frente. Esse foi um momento marcante e emocionante.

Nuvens encobrindo parcialmente o cume da Maria Comprida.

 No cume propriamente dito havia algumas pedras que pensei ser o totem. Ao me aproximar, me deparo com os restos de uma fogueira.

Resto de fogueira.

No cume dei uma boa olhada em duas bifurcações que surgiam do lado esquerdo. Uma ia para a direita, levando em direção a crista que sai na Via Ferrata(Acesso para a Maria Comprida) e a outra, um pouco atrás, seguindo para o lado oposto. Já sabia que ali seria o próximo destino. Aproveitei e desci até o mirante próximo ao cume, peguei um salgado e o isotônico para lanchar enquanto lia o livro de cume. Fiz uma foto da Maria Comprida, que agora aparecia com mais destaque.

Imponente Maria Comprida.

Aproveitei bastante o mirante e a paz da montanha para ler os relatos dos outros montanhistas e suas experiências por lá. Após ler muitos relatos, assinei o livro e terminei meu lanche.

Livro de cume.

Com muito ânimo e feliz por ter conseguido ir bem até a Serra das Antas, embalei o livro devidamente e o guardei com todo cuidado. Coloquei ele na marmita e novamente fechei o totem.


Totem da Serra das Antas.

Ao consultar o horário, o relógio marcava 10h20. Hora de partir...

Serra das Antas x Monte de Milho.

A temperatura aumentava gradativamente e o consumo de água era constante. Desci seguindo a trilha me orientando por alguns poucos totens e vi algumas fitas presas aos arbustos mais altos. Me concentrei na direção para me orientar e ficava bastante ligado nas marcas de desgaste das lajes de pedra que deixam um rastro esbranquiçado por conta da exposição de pequenos cristais na rocha. Reparei também que havia setas feitas na rocha. Parei para fazer um registro da laje e de algumas bromélias por lá.

Descida por lajes a caminho do Monte de Milho.


Conforme seguia descendo pelas lajes, o caminho ficava um pouco mais exigente e exigia atenção. Escorria um filete d'água pela rocha e num determinado ponto atravessei para o lado oposto da laje molhada para a esquerda. Foi daí que vi o incrível Monte de Milho e a sua bela crista. Aproveitei para registrar e depois segui por trechos que alternavam entre trilha, lajes e uns blocos de pedra que eram facilmente vencidos com atenção.

Laje com bromélias e o Monte de Milho.

Ao abandonar a exposição do terreno aberto e entrar na mata, dei outra respirada. Apreciei aquele momento e novamente voltei ao movimento. A descida era muito bem definida e oferecia sombra. Nessa altura do campeonato já ajudava bastante. Em alguns pontos dava pra observar o paredão da Serra das Antas tomando forma bem ao lado. A Maria Comprida também começava a revelar um ângulo bem diferente e bonito de se observar.

Paredões rochosos na descida da trilha para o Monte de Milho.

Mais motivado do que nunca, cheguei rapidamente a crista que levava ao Monte de Milho. Segui admirando o visual ao meu redor e fiquei encantado com o visual pontiagudo da montanha a partir de um trecho de rocha na lateral da crista.

Formato pontiagudo do Monte de Milho a partir da crista.

 O caminho na crista era agradável com a trilha indefinida em alguns trechos. Surgiam algumas lajes e a montanha parecia cada vez mais perto. O coração acelerado, o vento soprando o rosto, o canto dos pássaros ao redor faziam o ambiente mágico. As bromélias davam um charme especial a crista e o Rabo-de-Galo fechava com chave de ouro na reta final para o cume.

Rabo-de-Galo.

Cheguei na reta final com todo o gás e muita empolgação. Faltando pouco para o cume, fui com muita sede ao pote e senti o indício de uma câimbra. Parei a tempo e fiz uma massagem rápida na região. Respirei fundo, controlei a ansiedade, agradeci ao Criador e então cheguei. Ás 11h07 daquela manhã ensolarada alcancei o objetivo. Foi inexplicável a sensação e os olhos ficaram cheios ''d'água''. Eu senti arrepios no corpo, me senti vivo e feliz por ter feito num tempo que considerei muito bom. Fiz do Malta até o Monte de Milho em 04h07 contando com as paradas. Apreciei a vista e não perdi tempo para registrar o visual dali.

Maria Comprida a partir do Monte de Milho.

Quando deixei a mochila na sombra, fiz uma ligação para avisar minha mãe que havia chegado ao destino e que começaria a retornar por volta de 12h00. Fui até o totem onde o livro fica e então tive a surpresa quando abri a urna. O livro não estava lá.

Urna do Monte de Milho vazia.

Comecei a guardar a urna e a envolvi nas precárias embalagens plásticas que restavam. Peguei meu isotônico e fiquei ali curtindo a montanha e o visual do lugar. Aproveitei para dar um descanso as pernas e apenas apreciei o lugar. Por não ter automóvel, eu não tinha ideia de quando faria esta magnífica montanha já que seu acesso é por Secretário em uma região distante e sem ônibus.

Acabei iniciando o caminho de volta ás 11h40. Apesar de ter levado bastante água, o que eu tinha agora teria que ser racionado até chegar na trilha do Palmares. Sobrou apenas 500ml. A tentação de beber tudo passava no pensamento a todo instante. Mas eu estava focado em fazer aquilo render o máximo que pudesse. Por volta de 12h30 eu estava quase chegando ao trecho das lajes para voltar a Serra das Antas. Ao chegar nas lajes, senti o corpo cobrar a reposição de água. Aproveitei para respirar e acabei me deparando com belos lírios.

Lírios e Rabo-de-Galo nas lajes da Serra das Antas.

Quando fui bicar a garrafa, senti que estava quente. De forma completamente irracional eu acabei molhando a nuca e o rosto. E lá se foi  a minha água. Quando me dei conta e olhei na mochila, todos os recipientes estavam vazios e percebi que havia feito borrada mesmo estando focado na quantidade limitada. Aproximadamente ás 12h40 eu cheguei a Serra das Antas e relatei a ida ao Monte de Milho.
Para finalizar a bateria do meu celular estava prestes a acabar e fiz a última foto do dia. E não podia ser nada mais, nada menos do que a majestosa Maria Comprida.

Ângulo incrível da Maria Comprida.

Voltei a andar por volta das 13h15 com calor sufocante. O lado positivo é que até as lajes do Palmares eu iria tranquilo. Bom, isso foi o que eu pensei. Conforme a hora passava e eu não tomava um gole d'água, o cansaço aumentava aos poucos, sabotando meu ritmo consideravelmente. Quando me sentei pra descansar, quase chegando ao Palmares, fiquei pensando na minha situação: Sem água, sem comida e sem bateria no celular. Foquei nisto e continuei com muita atenção e desacelerei. Só voltei a acelerar quando passei pelo trecho exposto do Palmares. Desci a todo vapor até entrar na bifurcação que leva a trilha da Pedra Comprida de Araras onde a água do riacho fluía bem. Tomei água aos poucos e fui me sentindo melhor. Ao passar pelo portão de acesso, perguntei ao morador sobre ás horas. Fique surpreso quando ele disse que eram 15h30. Me despedi dele e então comemorei bastante. A volta durou 04h23. A ida 04h07. No total deu 08h30 de caminhada(ida-e-volta). Fiquei satisfeito com o resultado e então me dirigi até a choperia do Malta. Pedi dois hambúrguer's e uma torre de 2,5L de cerveja para comemorar. No fim das contas faltou tomar os 500ml que sobrou...
Satisfeito, aguardei o ônibus para voltar ao terminal de Corrêas. Inexplicavelmente o 602(Vale das Videiras) passou e então curti o caminho de volta. Foi a conta para pegar o 615(Vale do Carangola) e ir pra casa realizado depois de um dia incrível nas montanhas.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Joãozinho/ Serra das Araras

                                                 Serra das Araras outra vez

Depois de duas semanas sem fazer trilha por conta dos compromissos, estava na hora de caminhar. Tinha em mente voltar a trilha da Serra Negra, montanha que pertence ao conjunto do Retiro. A intenção era ir até o cume menor, seguindo a longa crista a norte. Acabei recebendo um convite da Thais Bula, que conheci quando fizemos  a trilha do Alcobaça no ano de 2018, em dezembro. Combinamos os horários e os pontos de encontro para o sábado, 15 de agosto de 2020. O destino da vez era o Joãozinho, montanha vizinha do João Grande.

Joãozinho

 O Joãozinho é uma montanha pouco frequentada da Serra das Araras e tem 1.463 m de altitude. A previsão para o dia da trilha era favorável. Acordei bem cedo no sábado, arrumei a mochila e segui para o ponto de ônibus. Mandei uma mensagem para a Thais avisando que o ônibus estava a caminho. Embarquei por volta das 06h20 da manhã e ás 06h30 encontrei Thais. Conversamos um pouco sobre as trilhas e sobre o que nos esperava. Estivemos no Morro da Covanca  exatamente duas semanas antes.

Morro da Covanca.

 Na ocasião, Thais estava acompanhada do Anderson Medeiros, André Ozaki e Rafael Martins, seu namorado. Eu estava na companhia de Alexandre Milhorance, Philipe Almeida e Wendel Menezes. Foi um dia bem bacana. Rimos muito durante a trilha e no cume batemos muito papo enquanto aguardávamos o tempo melhorar para apreciar a Maria Comprida que estava encoberta pelas nuvens. 

                                                      Espera.

Saltamos no Montreal, atravessamos a rua e fomos para o ponto que tem do outro lado da rua enquanto o Anderson não chegava. Thais me informou que ele passaria ali por volta das 06h50. Não demorou e o Anderson chegou. Entramos no carro nos cumprimentamos. Fui no banco de trás e Thais no banco do carona. Seguimos para pegar o Rafael em Araras. Com todos presentes, paramos no centrinho de Araras para comprar alguma coisa. Comprei uma caixa de bis e um biscoito recheado de morango. Acabei levando um isotônico também.
Voltamos para o carro e seguimos para o acesso da trilha. Só faltou o André nessa. Ele foi para a Maria Comprida levar outro grupo de caminhantes.

                                        Hora de andar.

Saltamos do carro no acesso da trilha. A trilha para o Joãozinho é a mesma da Travessia Araras-Secretário. Esse caminho também dá acesso ao Morro da Mensagem. O ponto onde as trilhas são iniciadas é conhecida como ''Colo das Torres'' antes de descer o vale em direção a Secretário. Ao estacionar o carro bem em frente a trilha, Anderson teve que retornar pois não deu para deixar o carro na lateral da rua de acesso. Ele colocou o carro em um canto um pouco antes enquanto Thais, Rafael e eu ficamos de papo. Ajustei o facão na cintura e quando Anderson chegou começamos a trilha. Fui andando tranquilamente na frente e estranhei um pouco. Estive naquele caminho duas vezes apenas e isso em 2017 quando fui ao Morro da Mensagem. A trilha estava bem marcada e logo em seu início surge uma casa do lado direito. A trilha passa por alguns trechos de laje de pedra e  por um curto trecho numa espécie de túnel feito por bambus. Conforme avançamos na trilha, começamos a passar ao lado das torres e apreciar a vista bonita do lugar. Dava para ver inúmeras montanhas da Serra dos Órgãos incluindo a pontinha do Garrafão. Chegamos ao colo das torres e então vi a trilha do Morro da Mensagem á direita um pouco a frente. A trilha que seguia descendo reto em direção ao vale levava para Secretário. E ali mesmo do lado esquerdo passando por baixo da torre estava a trilha do Joãozinho. Esse local é o colo das Torres. 


                                  Início da trilha do Joãozinho.

Entramos na trilha subindo o morrinho. A calha da trilha estava bem visível e era bem estreita no início. Anderson e eu fomos na frente com Rafael e Thais na cola. Subimos até sair numa laje de pedra com a trilha a frente.
Anderson e Rafael apreciando o visual.

 Paramos aí para olhar o visual.

Morro da Mensagem.

 Foi nesse momento que olhei a minha bota lotada de carrapatos. Eram tantos que chegou a dar nervoso. Batemos as botas, as roupas e continuamos trilha acima. A partir deste ponto surgem muitas bifurcações que dão no mesmo lugar. Seguimos para a esquerda até um certo ponto e depois para a direita. Foi neste trecho que vi a Maria Comprida pela primeira vez no dia. Caminhava tranquilamente conversando com o Anderson quando me deparei com o lindo visual. Cheguei a tropeçar por não prestar atenção. Anderson também adorou a visão que tinha dali. Rafael e Thais juntaram-se a nós e fizemos uns bons registros no local.
Trecho antes da crista com visão para Maria Comprida, João Grande e Monte de Milho.

 Nesse momento as coceiras terríveis começavam em todos os lugares do corpo. 

Serra da Araras.

Já satisfeitos, continuamos em direção a crista para a esquerda passando por muitas trilhas que se interligavam. Achei aquilo bem confuso. Certamente caminho aberto por cavalos para pastar. Apesar do céu azul, não fazia muito calor pela manhã e a caminhada continuava agradável mesmo com os carrapatos circulando em nossos corpos. Alcançamos a crista que tinha a trilha bem definida e sem muitas bifurcações. O visual era bem legal. Não poderia falar o mesmo de alguns espinhos que ficam no chão e batiam na canela as vezes. Fui de short e acabei pagando o pato. Mas estava mais confortável assim.

Serra do Taquaril, Serra do Cantagalo e Três Picos ao fundo.

                                Da crista para a parte final até o cume.

O caminho na crista foi a parte da trilha que era a melhor para caminhar. Iniciamos a subida em direção ao cume e paramos numa lajinha de pedra. Ao sentar para descansar e esperar pela Thais e Rafael que vinham logo atrás, comentei com o Anderson que a região dos Três Picos aparecia no horizonte. Papeamos ali e eu aproveitei para retirar a bota e as meias. Tinha carrapato até no dedão do pé. Com todo mundo recuperado depois da curta pausa, subimos por um trecho escorregadio e começamos a seguir a trilha para a direita, contornando para seguir até o cume.  Anderson esperou um pouco até que Thais e Rafael chegassem no trecho para fazer um registro deles e subimos para o trecho final. A vista ali era muito bonita com o João Grande e a Maria Comprida bem próximos e imponentes. Aproveitando o belo dia e o visual impressionante, Anderson tirou uma foto minha com meu celular ali e o resultado foi ótimo.

Lindo trecho na trilha do Joãozinho.

Thais e Rafael chegaram em seguida e Anderson fez fotos dela. Rafael subiu para uma pedra um pouco acima e eu o segui. Lá achamos o livro de cume deixado pelo CEP.
Livro de cume do Joãozinho.

O livro estava dentro de uma ''marmitinha'' retangular envolvido em alguns plásticos. No entanto, não tinha caneta ou lápis. Rafael e eu ficamos na pedra e resolvi fazer um vídeo daquele ponto. O vento estava surreal e assim que acabei de registrar, me sentei perto de onde estava o livro e Rafael fez o mesmo. Anderson e Thais chegaram e explicamos a situação. Porém, Anderson tinha caneta e assinou o livro. Rafael partiu para uma área logo a frente. Thais não perdeu tempo e foi se juntar a ele. Depois fomos até eles e ficamos surpreendidos com a visão bem legal do lugar. Lanchamos, papeamos e fizemos alguns registros do lugar. Eu me deliciei com o empadão e os sanduíches feitos pela Thais. Tomei isotônico e água para hidratar. Só depois assinei o livro de cume. Rafael foi dar umas exploradas assim como o Anderson. Numa dessas exploradas para observar o lugar, fiz uma foto do Anderson.

Visual do cume do Joãozinho. Anderson de camisa preta á esquerda.

Depois de algum tempo juntos no cume da montanha conversando bastante, decidi ficar um pouco a sós comigo mesmo. Aproveitei a pouca bateria que me restava para fazer os últimos registros e escutar música. Depois de um tempo eles voltaram e fizeram alguns registros seus aproveitando o belo dia e o visual que tínhamos dali. 

Rafael admirando a paisagem.

Anderson no cume do Joãozinho.

Thais no cume do Joãozinho.

Anderson também fez uma foto nossa no cume.

Rafael, eu e Thais no cume do Joãozinho.

Acabei entrando na brincadeira e pedi um registro meu naquele lugar para levar de recordação. Pedi a Thais e o resultado ficou como eu esperava. Apesar de estragar um pouco a paisagem com a minha presença, deu para destacar a Maria Comprida e o João Grande.
Linda visão do cume e ótimas pedras para descansar.

Com o passar do dia, notei uma ligeira nebulosidade engolindo as montanhas da Serra da Estrela, principalmente na região da travessia Cobiçado x Ventania e avançava para a cidade, em todas as direções. Acabei fazendo algumas fotos durante essa mudança de tempo repentina.
Cidade de Petrópolis.



Tempo mudando radicalmente.

Após um tempo sozinho, vi Anderson chegando com novas companhias e fiquei surpreso. Um homem e duas mulheres vieram com ele e nos cumprimentaram. Batemos papo e eles foram embora. Fizemos o mesmo pouco depois. Na volta, Anderson e eu revezamos a haste abandonada que ficava no cume. A volta foi tranquila e batemos muito papo. Pegamos mais alguns carrapatos, fizemos alguns outros registros e descemos da trilha até chegar ao carro passando por algumas pessoas. No caminho de volta paramos no centrinho de Araras e depois tomamos um açaí delicioso. Logo a mudança climática atingiu a região de Araras com vento forte e frio. Optamos por colocar os casacos. Voltamos a estrada e Anderson deixou Thais e Rafael na porta de casa e em seguida me deixou em frente ao Terminal de Corrêas. Agradeci e fui esperar o ônibus para ir embora. No grupo agradeci a todos pelo convite e pela companhia. Foi ótimo trilhar com vocês outra vez. Só faltou mesmo o André e seu senso de humor para dar mais brilho ao dia.

domingo, 16 de agosto de 2020

Cone 1/Serra dos Órgãos

                                              Sexta-Feira

Ainda em êxtase com a minha ida até o cume da Maria Comprida fiquei revendo as fotos e os vídeos da caminhada realizada na semana anterior.  Não conseguia acreditar que tinha ido naquela montanha tão encantadora e significante para os amantes da natureza.

Durante a manhã eu fiquei relendo alguns relatos com a intenção de achar algumas falhas e erros que poderia corrigir. Fiquei pensando no blog que iria montar e aproveitei para dar uma olhada em alguns equipamentos. Já pela tarde fui para o meu tradicional banquinho de madeira que fica na varanda onde observo a paisagem a espera do sol se pôr e tocar ás montanhas com a luz de ouro do entardecer.

Já na parte da noite fui conversar com o Alexandre para definir qual seria a trilha do final de semana. A conversa estava muito agradável e ficamos horas e horas relembrando das caminhadas que fizemos juntos. Encerramos o papo tarde da noite e definimos qual seria o destino da vez. Combinamos de fazer a trilha do Cone 1, uma montanha pouco visada e conhecida da cidade. Marcamos o horário e então fui dormir. Despertei bem cedo e ainda me sobrou tempo para escutar música e apreciar a transição da noite para o dia. Esse é um dos momentos que mais aprecio. Fiz um café delicioso, coloquei a mochila nas costas, o chapéu na cabeça e um sorriso no canto da boca. Estava pronto para mais uma trilha e a animação era total.

Cone 1 no centro da imagem.

Pé no asfalto...

Fui para o ponto de ônibus enquanto curtia meu som no fone de ouvido. Quando cheguei na rua após subir a escada, notei que o tempo estava estranho. A previsão marcava tempo ensolarado mas o céu estava nublado. Não demorou e ouvi o som familiar do motor do ônibus quebrando o silêncio da manhã. Cheguei ao Terminal e fui até o Alexandre .

Reencontro.

Reconheci o Alexandre de longe e então fui caminhando tranquilamente em sua direção. Notei que ele estava acompanhado. No meio do caminho o motorista do ônibus buzinou para chamar minha atenção ao mesmo tempo em que o cobrador acenava freneticamente com as mãos ao ar. Voltei para verificar o que estava acontecendo e não deixei de rir ao saber que eu estava indo embora sem o troco da passagem. Novamente fui ao encontro dos rapazes que já estavam me esperando. Cumprimentei o Alexandre e conheci seu amigo Thiago Andriolo que era apenas amigo virtual até então. Me sentei ao lado deles e começamos a conversar até o próximo ônibus chegar. O papo era sobre montanhas e equipamento, pra variar. O ônibus chegou e então embarcamos no 603 - Águas Lindas.

Hora de andar.

Saltamos no ponto final do Águas Lindas e reparei em duas ruas que havia ali. Uma era asfaltada  e seguia para o lado direito enquanto a outra era uma estradinha de terra e seguia para o lado esquerdo. Passamos ao lado de um bar e seguimos em direção a estradinha de terra até ver algumas casas pelo caminho. Comentamos entre nós se seria ou não necessário pedir permissão para passar por ali. Era bem cedo e não tinha sinal de qualquer pessoa. Andamos até chegar num portão, seguindo pelo lado esquerdo. Logo nesse trecho inicial vimos cenas lamentáveis de cara. Muito lixo jogado ao lado da estradinha e em grande proporção. Para retirar todo aquele lixo seria preciso bastante sacola plástica e luvas. Dei uma observada no lugar e pensei que ali talvez fosse o local onde os moradores deixavam o lixo para a coleta seletiva. Prosseguimos até avistar um homem no canto da rua. Quando nos aproximamos ele no cumprimentou e retribuímos de forma educada enquanto ele fumava o seu cigarro suspeito. Logo a frente surgiu um banco de madeira bem convidativo para uma parada. Thiago nos disse que passaria o dia todo ali sentado, apenas observando a vista que era encantadora. Tive que concordar com ele. Não seria nada mal parar ali para tomar um café da manhã admirando as montanhas da Serra do Taquaril em destaque. Voltei a notar ás nuvens espalhadas pelo céu da região e torcia para o tempo melhorar.
Andamos mais um bocado e fomos surpreendidos com um trecho muito agradável. A estradinha  de terra seguia fazendo uma curva com a vegetação dividindo a faixa e com uma bela árvore. Contra o céu surgiu o contorno dos paredões das montanhas da Serra do Cantagalo em toda a sua glória. Deixei Thiago e Alexandre tomarem certa distância para fazer um registro no celular. Quando me dei conta, estava correndo para alcançar eles e continuar andando.
Estradinha de terra.

Um lindo pasto.

Continuando pela estradinha enquanto Alexandre se orientava na navegação. Passamos por algumas entradas indefinidas no canto até pegar uma que subia até um morrinho. Chegamos neste primeiro morro que era bem bonito e agradável. Tiramos um tempo pra descansar com o capim barba-de-bode por todo lado junto a graminha rasteira. Voltamos a andar e subimos até o ponto mais alto que os nossos olhos podiam alcançar e o trecho era tão bonito quanto o anterior. Conseguimos avistar um belo Ipê amarelo.

Ipê-amarelo no pasto.
Continuamos pela trilha até chegar a cumeeira e ladear uma cerca de arames. Voltamos a descansar neste ponto. Durante o curta parada para avaliar a orientação, fiquei admirando aquele pasto com o Ipê e só conseguia imaginar uma garrafa de café e um bom livro para ficar ali encostado por horas apreciando o lugar.

Rumo ao Morro do Águas Lindas.

Com todos prontos e dispostos novamente, começamos a seguir uma calha bem visível e um tanto traiçoeira também. Além de algumas bifurcações e buracos grande pelas laterais. Certamente aqueles buracos não poderiam nos engolir mas certamente machucar no caso de vacilarmos. Usamos o bom senso e seguimos a calha descendo para subir mais a frente. Com muito esforço e sem parar chegamos no alto deste morrinho que era bem arbustivo e não servia de local para uma parada.

Trecho confuso!

Não demos 20 passos e topamos com inúmeras bifurcações. Parecia até uma avenida cheia de entradas em todas as direções. Só faltavam os carros, as motos e os pedestres...
Redobramos a atenção evitando perder tempo no caso de pegar uma trilha na direção errada. Alexandre verificou seu GPS e voltamos a andar. Após andar um pouquinho vimos a Pedra do Cone e o Cone 1. Ficamos bem animados. Tinha muito chão pela frente ainda. Passamos por várias bifurcações até começar a descer e não demorou até o Alexandre nos falar que saímos da trilha. Retornamos e pegamos a trilha correta que continuava a descer o morro passando por trechos de vegetação com capim-navalha  e alguns espinhos no caminho ''fofo'' criado pela matéria orgânica em decomposição naquele lugar. Começamos a sentir um odor forte e horrível na metade da descida. Havia alguma coisa em decomposição pela região e parecia ser bem recente. Não vimos nada e seguimos nosso caminho. Chegamos no fim da descida com alguns arranhões e perfurações de espinhos. Nos hidratamos e fizemos um lanche antes de pegar a linha da trilha subindo do outro lado da mata perto das árvores. Subimos a trilha apertada e irregular para o Morro do Calembe. Caminho íngreme e curto com seu trecho inicial bem interessante. Caminhada na mata e livre da exposição total dos raios UV. Eu revezava com o Alexandre e cada um ia na frente um pouco. Saímos da mata e pegamos alguns trechos de laje de pedra e vi o morro que descemos ao olhar pra trás.

Trecho de mata com o Morro do Águas Lindas ao fundo.

 Nos deparamos com um totem e seguimos de totem em totem, lajes de pedra e vegetação rasteira. O trecho oferecia um bom lugar para descansar e apreciar a vista. Peguei meus pães com patê que fiz em casa. Thiago estava subindo a laje onde estávamos. 
Thiago Andriolo na subida da laje do Morro do Calembe.

Ofereci pão com patê e eles recusaram. Não perdi tempo e comecei a lanchar enquanto descansava e admirava a vista. Sentados na laje conversamos sobre a trilha até o momento. Aproveitei para repetir a refeição. Estava com uma fome tremenda. As nuvens aos poucos sumiam no céu azul daquela manhã e o calor começava a chegar com força. Thiago me ofereceu um pedaço de rapadura e eu fiquei meio confuso pois não conseguia lembrar se eu gostava ou não de rapadura ou rabanada. Nem lembrava da diferença de tanto tempo que não comia. Ao comer a rapadura, já busquei a minha garrafa de água para poder engolir. Era extremamente doce e deu muita sede. Voltamos para a trilha alternando trecho de vegetação rasteira e algumas lajes de pedra. Uns 15 minutos depois chegamos ao Morro do Calembe.

Uma rua no alto do morro.

Ao chegar no Morro do Calembe a primeira coisa que notamos foi uma larga rua com as marcas de pneu de trator bem marcadas na terra. Fomos em direção ao Cone 1 até trocar este largo trecho aberto e pegar uma trilha na crista logo a frente.
Cone 1, Pedra do Cone e Conjunto do Alcobaça.

A visão a partir deste ponto apresentava-se bem majestosa com ás montanhas do conjunto do Alcobaça dando show. Vimos o Mãe D'Água, Pico do Alcobaça ,Morro do Teto e Cabeça de Cachorro. O cume cônico do Alcobaça aparecia parcialmente por conta das nuvens. Mais próximo de nós a Pedra do Cone e o Cone 1, nosso destino. Foi aliviante sair da crista e do forte calor que fazia. Entramos na mata repleta de capim por todo lado. A trilha seguia descendo na sombra da mata até aparecer uma bifurcação á esquerda.  Subimos pela trilha bem acidentada e apertada em meio a vegetação ainda repleta de capim, pequenas árvores e arbustos. Paramos para tomar água e descansar na sombra pois o calor só aumentava tornando tudo mais cansativo. Os espinhos perfurantes e os cortes do capim começavam agora a se misturar com o suor e o calor. Alexandre e Thiago estavam com a mesma cara de surrados que eu também estava. No entanto, apesar de tudo, seguimos com o sorriso no rosto. 

O destino.

Retornamos para a trilha depois de um curto papo e uns bons goles de água. Estava bem abafado e parecia que quanto mais pausas fazíamos, pior ficava. Avançamos com cautela evitando eventuais buracos e espinhos que surgiam pelo caminho.  Passamos por algumas árvores caídas e trechos de bambus entrelaçados no caminho obrigando todos nós a passar por baixo, engatinhando praticamente. Alexandre e Thiago foram primeiro. Fui em seguida um pouco apreensivo e atento. A folhagem seca no solo escondia o rastro da trilha e poderia esconder algum animal peçonhento também.  Não seria nada legal levar uma picada de cobra, aranha ou escorpião ali. Rapidamente a mata começou a diminuir e vimos um trecho com pedras e bromélias. Comentei com meus amigos que o cume estava próximo.
Bromélia.

Continuamos a subir sempre atentos e admirando a paisagem. Sentei na pedra e fiz um registro dos rapazes que vinham logo atrás.
Alexandre e Thiago na subida da laje no Cone 1.

Logo que subiram as lajes, prosseguimos e vimos o cume bem a frente. Comemoramos a chegada com apertos de mãos e sorriso no rosto. Apesar do calor, o visual estava muito bonito. O cume não era muito amplo mas dava para ficar confortável. Sentamos um ao lado do outro e apreciamos a visão incrível da Pedra do Cone tão perto de nós.

Thiago e Alexandre no cume do Cone 1.

Outra montanha que chamava bastante atenção era o Cone 2. Alexandre estava na pilha de ir lá. Thiago e eu gostamos da ideia mas decidimos não ir por conta do horário e também do calor. 

Cone 2 e Mamute a partir do Cone 1.

Um pouco mais distante dali, nas Serras do Cantagalo e Taquaril ás montanhas também chamavam a atenção. Fiz alguns registros antes de lanchar outra vez para recompor ás forças.
Apesar da beleza do Cone 2, também avistamos os paredões do Mamute, montanha da faixa dos 2.000 m de altitude. Ela se destacava facilmente pra nós. 
Serra do Cantagalo.

Consegui colocar o Santann'a, Boa Vista, Cantagalo, Triunfo e Carneiro no registro.
Ao fundo, a esquerda também aparecia o Taquaril. Resolvi fazer um registro para pegar ás montanhas da região do Brejal.
Serra do Taquaril.

Consegui pegar a Serra do Taquaril e suas montanhas depois de achar um ângulo favorável.
Apesar das Serra do Cantagalo e do Taquaril chamarem bastante atenção, também vimos parte das montanhas da Serra das Araras.
Serra das Araras, Conjunto do Retiro e Morro do Pavão.

Apesar de ter a intenção de registar somente algumas montanhas da Serra das Araras, acabei capturando a Pedra de Nogueira(Morro do Pavão),  o Conjunto do Retiro e uma pequena parte da Serra do Couto. 

Após registrar voltei para papear no cume com o Alexandre e Thiago. Eles comentavam sobre uns ''causos engraçados'' da região que moram. Eu ria bastante. Ficamos no cume por quase 2h antes de partir. Thiago achou até um protetor solar que mais tarde soube pertencer ao Adriano Fiorini- Montanhista do CEP-Centro Excursionista Petropolitano. Alexandre ficou perambulando pelo cume procurando por ângulos diferentes e uma luz melhor para fazer suas fotos. Eu tirei uma soneca na sombra dos arbustos. Thiago fez o mesmo.
Serra dos Órgãos.

Antes de guardar a câmera Alexandre conseguiu um belo registro. Arrumamos nossas mochilas para iniciar o caminho de volta. Ainda deu tempo para um registro com todos juntos.


Registro de cume.

Hora de voltar.

Muito satisfeitos e renovados por conta da trilha e do visual interessante que vimos, caminhamos tranquilamente descendo a montanha. Passamos pelas pedra com bromélias até chegar no trecho dos bambus. Foi um pouco depois deste trecho que Thiago me perguntou onde estava a minha boina. Coloquei as mãos na cabeça e vi que não era brincadeira, eu a perdi em algum momento e nem me dei conta. Avisei a eles que ia voltar e não perdi tempo. Eles concordaram e ficaram me esperando. Voltei com os olhos bem atentos para achar meu chapéu. Cheguei até as pedras que antecedem o cume e voltei perto da área dos bambus. Novamente voltei pois lembrei que esqueci de olhar o cume. Era a minha última esperança. Voltei praticamente correndo e lá estava ela, encostada nos arbustos onde eu estava. Voltei todo feliz e guardei ela na mochila até sair daquele trecho. Me reuni com os rapazes e seguimos para o Morro do Calembe. Chegamos bem rápido até lá. Fizemos algumas paradas por conta do calorão e o Alexandre aproveitava para fazer suas fotos como sempre.

Thiago e eu no Morro do Calembe.

Rapidamente achamos o rastro e descemos do Morro do Calembe passando pelas lajes e totens até entrar na mata. Logo chegamos ao pequeno vale entre os Morros do Calembe e Águas lindas. Todo mundo achou um lugar para descansar a sombra. O calor era de matar definitivamente. Novamente hidratados voltamos a encarar a subida e logo sentimos o cheiro podre inundar o nariz. E desta vez vimos o que estava apodrecendo ali. Era uma vaca de grande porte em meio a vegetação. Seguimos para o morro vegetativo do Águas Lindas e alcançamos o pasto em seguida.

Pasto.

Novamente colocamos os pés na estradinha de terra e seguimos para o ponto final. Compramos uma Coca-Cola bem gelada para refrescar um pouco. Enquanto o ônibus não chegava, batemos papo com alguns moradores e por acaso encontramos o dono da vaca morta. Ele nos disse que uma cobra Jararacuçu-dourado picou o animal. Nos disse ainda que a vaca estava há um dia de completar duas semanas lá em cima. O simpático senhor papeou conosco por aproximadamente 30 minutos. Contou muitas histórias sobre aquela região e chegou a mencionar aparição de onças-pardas na região. O transporte chegou e ele despediu-se. Voltamos papeando no ônibus até nos despedirmos no terminal. Não deixei de notar alguns olhares curiosos para nós ali na plataforma. Tinha barro na calça, arranhões pelo corpo, sangue na calça e facões na mochila. Mas apesar de tudo isso, todos felizes e com aquele sorriso no rosto depois de um dia muito bom pelas montanhas.